O povo russo quer voltas à URSS?

Caro Editor do Pravda.ru,

Eu sou um assíduo leitor do Pravda.ru e um devoto admirador do povo russo.

Pelo que acompanho nos periódicos do Pravda, o povo russo tem muito orgulho de seu passado contemporâneo e há um apoio maçico ao governo Putin, reascendendo as esperanças do povo russo na restauração da Rússia. O que me faz perguntar: "O povo russo deseja, no seu íntimo, o retorno da URSS?" Porque, pelo menos, os povos de muitos países satélites da Rússia desejam, porque poderiam ver seus parentes novamente e recuperar seus empregos, perdidos nas privatizações.

Eu confesso ser um grande saudosista da URSS, apesar de eu ser do Brasil.

Apesar das filas que víamos na televisão, pelo menos minha impressão era de que o povo russo se sentia mais seguro com uma economia centralizada.

Diferente do capitalismo selvagem que temos no Brasil, cujo temor dos brasileiros de perderem seus empregos e de enfrentarem crises econômicas repentinas é enlouquecedor.

A minha única queixa contra ela era a falta de liberdade religiosa [plena], democracia e liberdade civil que em parte contribuiu para a derrocada desta grande nação. Nessas restrições, que as instituições não podiam pressionar livremente os sovietes para um planejamento econômico mais justo.

Se um dia a URSS voltar, seria um regime soviético com liberdade religiosa, garantias civis e democracia? Ou de fato o socialismo morreu na Rússia e as novas gerações russas acabarão por esquecê-la? Qual o sentimento da povo russo em relação a tudo isso? Eu, pelo menos, tenho certeza de que se uma nova URSS renascer e garantir essas liberdades mínimas [especialmente a religiosa] ela será imbatível.

Eu, não me conformo com o argumento de a URSS ter cumprido todos os seus objetivos e por isso deixou de existir. Com todo o respeito, isso é quase como dizer que a URSS se um motivo forte se suicidou.

Caro amigo,

Muito obrigado pela sua carta interessante. Acho que a resposta é não, as pessoas não querem retornar à URSS porque os tempos mudam e com eles, os ventos da mudança varrem memórias boas e más, criando um patamar para uma nova realidade.

Não vamos porém interpretar mal essas palavras. Não quer dizer que os russos não respeitem a URSS e o muito que foi feito nos tempos soviéticos, nomeadamente trazer uma sociedade atrasada e medieval para a linha de frente em termos de educação, desenvolvimento técnico, médico, científico, educacional e por aí fora. Qualquer russo pode hoje em dia competir para qualquer emprego em qualquer ramo em qualquer lugar do mundo contra qualquer outra pessoa de qualquer outra nacionalidade em pé de igualdade.

No entanto, o modelo soviético fez aquilo que tinha a fazer, realizou todos os seus objectivos e a sociedade estava pronta para experimentar outro modelo. De facto, aquilo que se importou do ocidente se provou uma bela porcaria, desculpe o termo.

Prostituição, pornografia, droga, falta de respeito, crime, irreverência perante valores historicos, foram alguns dos males que jorraram pelas fronteiras dentro. Depresse se viu que esta alternativa não funciona e por isso há uma tendência de a Rússia virar entre si, procurando-se e isso quer dizer a centralização do estado, impondo a regra da lei sobre a regra dos oligarcas e protegendo os recursos naturais para que sirvam para russos e não norte-americanos.

Se bem que o PIB durante os últimos anos da URSS era o dobro de hoje, há que tentar procurar uma terceira via entre aquilo que a URSS providenciou e aquilo que não deu, nomeadamente compensar o trabalho e o empenho individual.

Acredito que se pode fazer o meio termo e construir uma terceira via. Pelo menos os russos estão a tentar isso, dentro da legalidade, dentro das normas legais internacionais.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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