NÃO HÁ NENHUMA CRISE DO LIBERALISMO NA RÚSSIA

No entanto até hoje a questão continua a ser aberta. Procuraram ainda, aproveitando para o efeito a fama passada, criar um novo partido democrático unido com base na União das Forças de Direita (UFD), Yabloko e outros partidos pequenos. A UFD, liderada agora por Nikita Belykh, jovem provinciano, enérgico, que não tem nada a ver com os oligarcas, teria que desempenhar o papel de Nemtsov precoce. Os conselheiros da elite liberal pensaram que ele iria falar língua comum com os democratas e, em particular, com Grigori Yavlinski, líder do partido Yabloko, o que, porém não aconteceu.

Outro passo dizia respeito à iniciativa do deputado independente Vladimir Ryjkov, sempre na oposição, em conjunto com o ex-chadrezista Garry Kasparov, de aproveitar na qualidade de plataforma democrática comum o anão-político, ou seja, o Partido Republicano da Rússia. Volvidos dois meses a iniciativa morreu.

Afinal de contas, os analistas das forças de direita avançaram a ideia muito duvidosa e absolutamente irreal de colocar no trono liberal o arguido Mikhail Khodorkovski. A loucura deste plano consiste no que nem os autores desta provocação, nem o oligarca não acreditam na viabilidade desta ideia, porque para todos é claro que Mikhail Khodorkovski, contando agora com o direito de ser eleito, irá dentro em breve perdê-lo para próximos 9 anos.

Não é difícil perceber com que objectivo se faz tudo isso. Se a candidatura de Khodorkovski não for registada, será mais um argumento a favor da ideia de que o poder tem medo dele. Sendo assim, os líderes liberais Vladimir Ryjkov e Irina Khakamada sempre poderão justificar a sua derrota nas eleições, porque desde já é claro que não irão obter mais de 1 por cento de votos. Tal é o seu "rating" julgando pelos resultados das recentes sondagens de opinião pública. O mal consiste no que todas estas acções vêm desacreditando a própria ideia do liberalismo que continua a contar com milhares de seus partidários pelo país fora.

Ao perder todas as oportunidades de mobilizar as suas forças, a UFD avançou mais uma ideia, trata-se desta vez, da união das forças de direita com as forças de esquerda com o fim de boicotar as eleições parlamentares de 2007. A iniciativa foi anunciada pelo secretário do Conselho Político da UFD, Ivan Starikov. No seu entender o boicote poderia unir a União das Forças de Direita, o Yabloko, o Partido Comunista da Federação Russa, o Rodina e outras forças oposicionistas. A reacção de eventuais aliados não tardou a aparecer.

Os comunistas rejeitaram o boicote, considerando, e com razão, que o partido Rússia Unida e Liberal Democrático da Rússia irão ganhar as eleições se qualquer união. O vice-presidente do partido Yabloko, Serguei Mitrokhin, reconheceu sem vergonha qualquer que o boicote é coisa dos fortes. Mas a nossa oposição por enquanto não pode fazer levar a rua nem sequer 100 mi pessoas, adiantou.

O analista do Centro de Estudo da Opinião Pública da Rússia, Dmitri Polikanov, disse na conversa com o observador da RIA "Novosti" que mesmo se for organizado um boicote a percentagem de eleitores que irão ignorar as eleições será mísera. Tal, digamos, é o "peso específico" das forças de direita na escala de simpatias de eleitores.

Os escândalos no campo das forças de direita na Rússia é uma constante. Por isso mesmo os partidários mais sensatos do liberalismo já há muito não acalentam esperança de ouvir alguma coisa válida dos actuais lideres de direita referente à organização da vida na Rússia. É de lamentar que os nossos liberais que vivem no seu mundo fechado sustentado pelo dinheiro da oligarquia russa não ouvem a voz das massas populares. Este fosso entre a elite de direita e a inteliguentsia de ânimos liberais abriu-se ainda antes das eleições parlamentares de 2003, quando as forças de direita não obtiveram a percentagem necessária de votos.

O fosso abriu-se quando milhões de românticos liberais da época de perestroika perceberam de repente que os liberais do primeiro escalão da época de Yeltsin, ao receber o poder, começaram a tratar do melhoramento da vida de apenas 10 por cento da população do país, prontos não só a aceitar as mudanças radicais, como ainda a transgredir a lei, esquecendo por completo dos restantes 90 por cento. Estes liberais acabaram por ser os partidários do liberalismo ocidental aplicando para tudo exclusivamente os padrões de valores ocidentais.

Mas na Rússia as pessoas fiéis à ideia ao liberalismo descobriram o engano e viraram as costas a elite partidária das forças de direita. Por outras palavras, a própria ideia liberal que provou a sua eficácia pelo mundo fora não morreu na Rússia na época de Alexandre II e de Stolypin, nem vem morrendo agora. Atrevo-me afirmar que não há hoje em dia nenhuma crise do liberalismo na Rússia. Um partido verdadeiramente democrático e liberal continua a ser indispensável para o país e será apoiado sempre por 10-15 por cento da população russa. Vassili Kononenko, observador político da RIA "Novosti"

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