Eis algumas verdades sobre você e sua Era

Afinal uma boa idéia pode render mais que um veio ilimitado desse metal. Mas ironicamente, dois valores teoricamente sempre em voga têm sofrido muito nos novos tempos: identidade e originalidade.

Contraditoriamente vivemos hoje em um mundo pré-fabricado. A comida já está pré-cozida no supermercado, basta jogar água e levar ao fogo. Se não tiver dinheiro na carteira, ainda se pode usar o cartão de crédito. Ninguém confia mais na honestidade de conhecidos, mas sim na de uma instituição financeira que determina quem pode ou não ser merecedor de confiança. Só que como temos visto, nem estas instituições que servem de fiadoras são dignas de confiança.

Grande parte de nós vive em condomínios cujos apartamentos, à exceção da cobertura, são iguais. Ainda bem que ainda há algo que se possa chamar de "cobertura" a nos lembrar da luta de classes. Alguém sabe da história do seu condomínio? Será que já foi escrita uma "História Geral dos Condomínios" ou sequer a história de algum condomínio? Mas, por exemplo, se lermos apenas uma importante obra da sociologia nacional "Casa Grande & Senzala" (1933) de Gilberto Freyre poderemos observar que como o próprio título deixa claro, aquela é em grande parte a história não só das relações entre senhores e escravos, mas também das duas construções.

O máximo de memória que encerra um condomínio é a lembrança das cores das paredes externas. Um adolescente diz "Papai, você se lembra daquele condomínio vermelho e branco em que vivíamos há 6 anos?..."Outra pessoa pergunta a um desconhecido "onde fica o condomínio tal na rua tal?" E se o informante não souber, a pessoa ainda pode apelar para as cores e só. Além disso, a situação econômica do país nunca permite que os vizinhos tenham tempo, disposição ou permaneçam vizinhos o suficiente para a criação de vínculos tal qual existiam no passado.

Hoje, as pessoas de modo geral também têm uma personalidade pré-fabricada. Dentre amigos e conhecidos é possível identificar semelhanças de estilo, de comportamento e de visual com vários atores de telenovela, de Hollywood e demais celebridades. As vezes parece que a pessoa compra um kit no supermercado onde está escrito, por exemplo, "Seja Keanu Reaves - Pronto para usar" ou "Nicole Kidman em 24h". Depois que eles chegam em casa e usam o produto, eles imaginam ficar com a aparência e o comportamento semelhantes ao da celebridade. Quando o que no máximo conseguem é uma caricatura.

Porque, é claro, nem todos são eficientes ao incorporar os trejeitos e a personalidade desejada...Aí, então, está o que nos faz diferentes. Pois, o que resta de originalidade no mundo está apenas no fracasso de quem não conseguiu incorporar o personagem desejado. O sujeito fica sendo uma espécie de ser não complemente metamorfoseado, não consegue ser Keanu Reaves, nem consegue ser ele mesmo.

Às vezes fico pensando porque, segundo dizem, ninguém conseguiu até hoje ser um cronista à altura de Rubem Braga. Realmente, quanto mais se lê as crônicas deixadas por ele, mais temos a certeza de que são inigualáveis.

Mas pergunto se não seriam os olhos voltados para a sombra desse eterno modelo que não estaria prejudicando alguns progressos...A influência é diferente da subserviência opressiva. Não é possível escrever como Rubem Braga não só porque não se pode regenerar e implantar seu cérebro em um cronista vivo, como também porque seu modo de escrever e a temática de suas crônicas são o resultado de sua época e de sua história social. O resultado é que os cronistas ficam à procura de uma quimera porque só Rubem Braga consegue ser um autêntico Rubem Braga.

Lembro de um colega de faculdade que tinha um programa em uma rádio local. Ele ficava o tempo todo procurando imitar um ex-apresentador da MTV. Tudo nele, roupas, corte do cabelo, barba e até o modo de falar procurava imitar seu ídolo. Ele apenas se esquecia de que há "covers" de celebridades a dar com um pau, basta alguém se tornar famoso que logo surgem dezenas, as vezes centenas de covers. Alguns até ganham algum dinheiro com isso. Ele era apenas mais um imitador, dentre tantos outros. Isso nos mostra que muita gente prefere abdicar de sua originalidade para se fantasiar de outro, mesmo que essa sua originalidade não seja famosa...ainda.

Se em um encontro você tenta ser você mesmo, logo a moça a quem se está querendo impressionar sendo autêntico e comum diz - Você é tão diferente!

Adriano COSTA PRAVDA.Ru RIO GRANDE DO NORTE - BRASIL

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