RESPOSTA AO ARTIGO "IZQUIERDAS, LA VERDAD OCULTA DETRÁS DEL ANTI-AMERICANISMO"

Um texto publicado recentemente no Pravda, intitulado: "Izquierdas: la verdad oculta del anti-americanismo", procura mostrar que o sentimento contrário aos Estados Unidos, tão forte hoje em dia, deve-se principalmente a movimentos de esquerda que, desiludidos com o fim do comunismo, criticam irracionalmente esse país. Chega mesmo a afirmar que a motivação destas críticas é o ódio da esquerda pelos EUA porque esse país sempre defendeu a liberdade. Tais afirmações parecem ser bastante simplistas, pois muitos dos que criticam os Estados Unidos hoje não podem de maneira alguma serem tidos como esquerdistas; além disso, é bastante ingênuo achar que esse país sempre tomou o partido da defesa da liberdade.

Antes de tudo, porém, admitamos: em várias críticas aos Estados Unidos, há muito irracionalismo e exagero. Pelo menos no Brasil, muitos filiados a movimentos de esquerda recusaram-se a manifestar seu repúdio aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, alegando que tais ataques foram justificados considerando a política imperialista dos EUA. É difícil imaginar como ataques contra alvos civis (as torres do WTC em Nova Iorque), que mataram milhares de pessoas desarmadas e pacíficas, possa ser considerado legítimo. Não se pode encontrar nenhuma justificação, moral, legal, religiosa ou política, capaz de respaldar um ato tão bárbaro. E quando George W. Bush iniciou a invasão do Iraque (também sem nenhuma legitimidade), manifestantes de esquerda carregavam cartazes que mostravam o presidente norte-americano com bigode igual ao de Hitler, ou com uniforme da SS. Outro exagero: Bush é um líder unilateral e arrogante, capaz de invadir um país soberano para defender os interesses econômicos e estratégicos de seu país, mas nem de longe se compara a Hitler, que lançou a Europa na mais sangrenta guerra da história, matou dezenas de milhões de civis em dezenas de países ocupados, e lançou uma campanha de extermínio sistemático de populações, como os judeus, os ciganos e vários povos da União Soviética. Apesar de ter matado muitos civis no Iraque em uma guerra infundada, Bush não iniciou (e tampouco pretende iniciar) uma campanha de extermínio massivo, e portanto está muito longe de poder ser comparado a Hitler.

Tudo isso mostra que, de fato, há um irracionalismo e um exagero no anti-americanismo. Mas afirmar que este sentimento nasce apenas da frustração de partidários da esquerda por conta do fim da União Soviética e do fracasso da proposta comunista é um não menor exagero. Pois ficou tão clara a postura arrogante e prepotente dos EUA quando da invasão do Iraque, ao atropelar as decisões da ONU e a opinião pública mundial, que hoje não apenas os esquerdistas são contrários a este país. Bush inadvertidamente conseguiu um grande feito, unificar a esquerda e a direita mundial no repúdio ao unilateralismo dos Estados Unidos, que é indubitavelmente reconhecido por quase todos como uma ameaça à estabilidade. Como podemos ter segurança no mundo, se um país arroga-se o direito de atacar e invadir qualquer país que ele considere como inimigo?

Por fim, dizer que os Estados Unidos sempre defenderam a liberdade no mundo é uma falácia. A democracia é fortíssima nesse país, o que não impediu seus líderes de semear golpes militares, durante as décadas de 60 e 70, na América Latina, na Ásia e na África, patrocinando, respaldando ou pelo menos dando apoio moral a oficiais golpistas que se propunham lutar contra a ameaça comunista. Fidel Castro, embora conte com o apoio de grande parte da população cubana, sem dúvida é um ditador: não permite liberdade de pensamento, de opinião e de propriedade, persegue e elimina as dissidências e desrespeita os direitos humanos. Mas Pinochet seria melhor do que Castro, simplesmente por não ser comunista? Afinal, o que as ditaduras militares apoiadas pelos Estados Unidos fizeram foi exatamente o mesmo: não permitiram o exercício da liberdade de pensamento e opinião (apenas mantiveram a de propriedade), perseguiram e eliminaram dissidências, desrespeitaram os direitos humanos. É um meio um tanto estranho de defender a liberdade, esse de apoiar regimes autoritários.

O autor do texto contra as esquerdas faz uma observação verdadeira: "En política, lo que se presenta de manera exagerada, sin los indispensables matices, corre el riesgo de caer en el descrédito y terminar en la insignificancia." Pena que ele mesmo não consegue evitar o exagero: seu pró-americanismo é tão cego e limitado quanto o dos anti-americanistas que pintam Bush como Hitler. Além do exagero, ainda incorre na ingenuidade de acreditar que os Estados Unidos sempre defendem a liberdade, e provavelmente também crêem que a invasão do Iraque foi para eliminar um ditador (lembremo-nos que Saddam Hussein, que foi sem dúvida um déspota sanguinário, só deixou de ser apoiado pelos EUA depois de invadir o Kuwait, em 1990) e acabar com seu programa de construção de armas de destruição massiva (que, ao que tudo indica, nem sequer existem). George W. Bush precisa justamente dessa adesão irrestrita e incondicional a tudo o que os Estados Unidos fazem: enquanto houver pessoas que acreditam em suas alegações vazias, ele vai poder continuar com sua política belicista, prepotente e unilateral. Carlo MOIANA Pravda. Ru MG Brasil

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