TV e a burrice

Dino da Silva Sauro, o chefe da família, trabalhava numa TV de grande alcance "no mundo dos dinossauros". É o autor da frase, respondendo sua mulher sobre o questionamento de que a TV estava deixando os filhos do casal burros. "Estou me sentindo mal, esqueci de respirar", diz o filho.

Como diretor da TV, Dino decide mudar a programação. Decide fazer uma TV inteligente. "Mas como eu posso fazer uma TV inteligente se eu não sou inteligente?", indaga. Um dos seus assistentes sugere que se coloquem intelectuais no ar, fazendo automaticamente com que as pessoas fiquem inteligentes. "Do modo que eu vejo, um intelectual é alguém que diz coisas que você não entende".

A primeira tentativa é frustrada. Um programa de debates com falsos debates:

— Vamos começar nosso debate. Vocês acham que os ricos deveriam comer os pobres. — Claro que sim. Os pobres já tiveram muitas regalias, merecem ser comidos pelos ricos. — Você concorda com isso? — diz o mediador para uma 'dinossaura'. — Discordo completamente. Os pobres possuem um baixo valor nutricional. Não servem nem para serem comidos.

A mulher de Dino não se convence e diz que seus filhos continuam burros. Dino faz novas mudanças. Desta vez trata-se de um programa policial.

— Parado!— dizem dois policiais para um fugitivo. — Desculpem, eu não quis fazer aquilo. Não me prendam! — Que isso rapaz, a gente veio te educar. Você é um produto de uma sociedade injusta e nunca te deram condições para ser digno. — Mas peraí, eu sou um ladrão... — Bom, se você pensar bem, toda propriedade é um roubo...

Em pouco tempo, o IBOPE constata que os programas são um sucesso. Dino ganha vários prêmios. Seu colega de trabalho diz: "Parabéns, Dino. Você provou que TV com QI dá audiência!"

Dino tem uma crise de consciência:

— É injusto. Eu não acredito nisso. Estamos veiculando coisas que nem eu entendo. — Mas talvez seja essa a função dos diretores de TV, Dino. Mostrar coisas mais inteligentes do que eles. — aconselha um amigo.

O mar de rosas dura pouco. Dino recebe a notícia de que a TV inteligente é um desastre, depois de um tempo. Ele liga para casa:

— Querida, você está vendo TV? — Não, desenvolvi um método de agricultura que aprendi num programa.

Críticas inteligentes na TV enfrentam a resistência de um público anestesiado

E as crianças? A mocinha ia realizar estudos geológicos dentro de uma pesquisa que tinha assistido na TV, e o garoto havia desenvolvido um foguete para jogar o neném da família no espaço — um sistema que havia revolucionado o "mundo dos dinossauros", diz a mulher de Dino.

— Mas vocês precisam assistir TV! — Querido, as pessoas descobriram tantas coisas interessantes para fazer que não têm mais tempo de ver TV.

Os diretores do canal estão irritados, exigem mais audiência. Dino tem nova crise de consciência. Mas desta vez acusa os diretores de não entenderem o sentido educacional deste meio.

— Vocês têm a possibilidade de alcançar milhões de dinossauros, mas não se importam com o que eles assistem. Buscam apenas audiência! — Onde você quer chegar? — diz um deles. — Eu quero dizer que não vou fazer parte disto mais. — Tchau, tchau. — esnobam os diretores, se pondo a tramar novas formas de diminuir "60 pontos do QI" das pessoas.

— Como faremos isso?! As pessoas estão muito inteligentes, só querem livros! — Então vamos fazer livros, e um será muito especial.

Chega à casa de Dino, então, um guia de TV muito bonito, de graça, que logo encanta toda a família.

— Agora podemos programar nosso dia inteiro!

Críticas perfeitas e objetivas, com forte conteúdo de classe, feita para as crianças bem na hora do almoço de uma TV comercial e aberta. Uma gota de lucidez em meio a um mar de programas burros, feitos na medida para que as pessoas esqueçam as coisas interessantes que há na vida.

E continuem burras, sob o pretexto de que já são burras.

Gustavo BARRETO www.consciencia.net

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X