OS CACHORROS DO PRESIDENTE

ENQUANTO todos os dias, em cada lar de Bagdá, crianças, mulheres e homens tremem diante da idéia de que, a qualquer momento, podem começar a cair as milhares de bombas que a força aérea norte-americana já tem prontas para seus bombardeamentos «cirúrgicos», na Casa Branca, a milhares de quilômetros de distância, duas personagens não fazem idéia do pesadelo que se vive no Oriente Médio.

Um chama-se Barney, o outro Scotty. O primeiro é muito jovem, pois nasceu há pouco mais de dois anos (exatamente em 30 de setembro de 2000), em Nova Jersey, e é neto do campeão Motherwell Stormwarning. O outro é filho de Mildred Kerr Bush (sic), deve seu nome a Scott Fletcher, beisebolista dos Texas Rangers, e nasceu na própria Casa Branca, em 17 de março de 1989, quando George Bush pai era presidente. Um prefere as bolachas em forma de osso com sabor a presunto. O outro, com sabor a leite.

Enquanto o mundo está à beira de uma guerra, onde não é excludente o uso da arma nuclear, um internauta qualquer pode acessar o prestigioso site da web da Casa Branca, www.whitehouse.gov. E junto dos inúmeros relatórios do porta-voz Ari Fletcher, dos discursos presidenciais e das ordens, pode conhecer tudo o que tenha a ver com a existência dos dois cachorros do presidente, um scottish terrier e um springer spaniel, com fotos e um vídeo de 45 minutos.

Ainda mais, o webmaster da presidência, Jimmy Orr, incluiu textos (supostamente imaginários) das confidências desses animais favoritos, que contam alguns aspectos do seu dia-a-dia.

«A Casa Branca é maior do que qualquer casa para cachorro que jamais tenha visto, é verdade» - ‘explica’ Spotty -. «Tem seis andares, 132 cômodos, 35 banheiros, 147 janelas, 412 portas, 12 chaminés, 8 escadas e 3 elevadores. Como vê, é fácil perder a bola de tênis nesse lugar. Meu quarto preferido é o do porteiro chefe. Gosto de dormir no chão, debaixo de sua mesa de trabalho».

Em janeiro passado, Barney e Scotty chamaram a atenção da imprensa, incluindo a internacional, com o famoso incidente dos pretzels, quando o presidente desfaleceu ao engolir uma dessas bolachas salgadas, enquanto escutava uma partida de futebol, um sábado à tarde, acompanhado de seus cães. O presidente caiu do sofá e teve lesões na bochecha e no lábio inferior, segundo anunciaram, mais tarde, na presença de suas mascotes.

Quando passou o engasgo, o presidente observou que os cães se encontravam na mesma posição que antes do breve mal-estar «mas olhavam-no de maneira muito curiosa (funny)», comentou Ari Fleischer, reproduzindo as palavras do presidente.

O episódio tragicômico, provocado por uma reação vasovagal (segundo o termo científico), surpreendente mas sem conseqüência nenhuma, aconteceu durante os ataques contra o Afeganistão.

Barney ‘conta’ em seu site que, recentemente, receberam um presente do presidente, do qual gostaram muito. Uma bola de couro, pois usavam uma de tênis, e a nova é de beisebol.

A Casa Branca também tem um gato. Chama-se Índia. Por algum motivo, ainda não tem o privilégio de ter seu site.

Entretanto, em Bagdá, as crianças tremem.

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