O QUE MOSTRARAM AS ELEIÇÕES NO AFEGANISTÃO?

Hamid Karzai começou a sua companha eleitoral praticamente há três anos, quando no dia 21 de Dezembro foi nomeado chefe do Governo Provisório do Afeganistão. Já então era claro que Karzai, criatura dos EUA, era o principal candidato à presidência.

Muito se fala hoje sobre em que medida foram honestas as eleições realizadas. Estariam de facto criadas condições para as eleições democráticas? Num país onde a maioria da população não tem cartão de identidade, nem residência permanente, seria pouco realista esperar que as eleições decorressem de forma ideal. O mais importante é que as mesmas foram levadas a efeito, tendo o povo obtido a oportunidade de expressar livremente a sua vontade. O país desconhece ao longo dos últimos três anos o que são repressões, perseguições políticas, ou presos políticos, vivendo os últimos dois anos e meio sem um governo soberano, ou seja, um período de transição.

Claro que Karzai aproveitou ao máximo todas as vantagens na sua campanha eleitoral. De acordo com as várias avaliações, ao longo de toda a maratona eleitoral Karzai contou com 75 por cento do tempo de antena e 80 por cento de espaço na imprensa escrita, ou seja, três vezes mais do que qualquer outro candidato. Falou-se muito ainda de que os emissários de Karzai teriam viajado pelo país fora subornando as pessoas influentes, sem já falar que teriam sido imprimidos boletins falsos e realizadas acções de propaganda entre os 800 mil refugiados, potenciais eleitores. Mas todas estas acusações não foram provadas, tendo os afegãos já feito a sua escolha.

Na opinião de observadores independentes Karzai conta com uma boa base política e social para a vitória. Resta só saber se esta será suficiente para tornar realidade o programa anunciado.

Durante a campanha eleitoral Karzai declarou reiteradas vezes que em caso de vitória não iria criar um governo de coligação. A vitória na primeira ronda dá-lhe a oportunidade de formar governo sem olhar aos seus oponentes. Karzai pretende levar a cabo programas impopulares entre os mujahedins, reformando em primeiro lugar o velho exército, subordinando-o ao governo. Em que medida tal será possível? Terá a administração de Karzai forças suficientes para realizar estes programas nas províncias tendo em conta a oposição dos líderes regionais?

Segundo os resultados da votação, Hamid Karzai poderá ter complicações bastante sérias nas relações com as províncias setentrionais e algumas províncias centrais. No que se refere às províncias do noroeste, o general Dustum, com seus 80-90 por cento dos votos, não deixa a Hamid Karzai nenhuma chance, enquanto na província de Balh, importante para qualquer político afegão, irá ter que levar em conta Yunus Kanuni, que deverá obter 80-95 por cento. Em todas as outras províncias centrais, povoadas principalmente por xazares, tem bastante influência Mohammad Mohakkek. Claro que a "troika" Kanuni, Dustum e Mohakkek quer fazer com que Karzai capitule, concordando com a criação de um governo de coligação. Por enquanto Karzai não faz nenhumas conversações.

A Comissão Eleitoral Central planeia anunciar os resultados definitivos em finais de Outubro. Ao que parece, os principais patrocinadores de Hamid Karzai (EUA e UE) não levaram em conta até onde pode vir a levar a confrontação do seu protegido com os líderes regionais, actuando agora como mediadores para melhorar as relações. No centro das conversações de representantes da ONU, UE e EUA no Afeganistão estão Yunus Kanuni, o ministro da Defesa, marechal Fahim, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Abdulla e outros generais altamente colocados do Exército e serviços de segurança.

Ninguém sabe a que pode levar a actual situação. A acreditar numa informação recente, Karzai tomou inesperadamente uma posição dura antes de tudo em relação de Kanuni. Será que Karzai irá levar até ao fim o seu programa apresentado aos eleitores? Cabe assinalar que libertando-se dos líderes oposicionistas regionais no Governo, Karzai corre o risco de receber uma oposição muito mais forte na pessoa do eleitorado local e dos comandantes de campo, que deverão ser desarmados por Karzai. A escolha não é nada fácil.

Piotr Gontcharov comentarista RIA "Novosti"

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