Rússia e a oposição ucraniana

As eleições parlamentares na Ucrânia estão marcadas para o ano que vem. Neste contexto é lógica a pergunta: valerá a pena a Rússia apoiar os oponentes de Viktor Yuschenko, que pretendem tirar a desforra pela derrota na terceira ronda (tida por eles como ilegítima) das eleições presidenciais do ano passado ou será melhor distanciar-se deles?

Uma das forças mais influentes da oposição é o Partido das Regiões da Ucrânia (PRU), que tem importante apoio político na região de Donbass. Trata-se de uma organização dos partidários de Viktor Yanukovitch, facto que não garante de modo algum a obtenção de um número de votos comparável ao que reuniu Yanukovitch nas eleições presidenciais passadas, tendo sido na altura uma candidatura que consolidou todas as forças anti-Yuschenko. Desta vez Yanukovitch é apenas o líder político da maior região do país. Uma série de patrocinadores do PRU preferiram por enquanto distanciar-se dele, procurando construir boas relações com as novas autoridades.

A segunda maior força oposicionista é o Partido Social Democrata (PSD). Em 2002, mesmo contando com as fortes alavancas administrativas, o partido obteve representação parlamentar com muitas dificuldades. Viktor Medvedtchuk, actual líder do PSD, abandonou o posto-chave de dirigente da Administração presidencial, tendo os seus correligionários sido demitidos dos seus cargos numa série de regiões.

O mais notório é que nem os "regionais", nem o PSD são capazes de apresentar uma alternativa séria à "política laranja". Procuram actuar como defensores dos direitos humanos, mas a crítica à campanha anticorrupção das autoridades não lhes faz aumentar a popularidade. É que os eleitores costumam solidarizar-se com os processos penais intentados contra altos funcionários do Estado. Os "regionais" e o PSD ficaram agora praticamente na defesa e sem uma alternativa mais ou menos segura ao curso actual das autoridades oficiais, sendo ainda por cima incapazes de se unir. Cabe lembrar que o partido "Nossa Ucrânia" nas eleições de 2002 só teve sucesso porque conseguiu consolidar todos os partidários da oposição centrista de direita ao regime de Leonid Kutchma.

A terceira maior força oposicionista é a coligação em formação envolvendo os socialistas progressistas de Natalia Vitrenko, o partido "Derjava" do ex-procurador-geral Guennadi Vassiliev e da organização ortodoxa de Odessa "Pátria Unida", chefida por Valeri Kaurov.

Ao que parece, esta coligação dos radicais será capaz de afastar os seus principais concorrentes do flanco esquerdo, ou seja, os comunistas. O líder destes últimos, Piotr Simonenko, chumbou nas eleições presidenciais. Para além disso, foi incapaz, finda a primeira ronda, de escolher entre os dois candidatos ficando assim à margem da vida política. Os comunistas ucranianos podem vir a repetir o destino dos seus colegas russos, que se contentam com posições periféricas, tendo sido afastados pelos seus concorrentes do partido "Rodina" ("Pátria").

Que deve fazer Rússia nesta situação? Segundo tudo indica, seria oportuno uma posição moderada em relação aos projectos oposicionistas, os quais por enquanto têm sido incapazes de acções eficazes nas novas condições. Seria muito perigoso repetir os erros do ano passado quando a Rússia apostou numa das partes, sendo depois obrigada a construir com muitas dificuldades relações com as novas autoridades. Aleksei Makarkin vice-director-geral do Centro de Tecnologias Políticas - RIA "Novosti"

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