ONDE ESTÁ A OPOSIÇÃO NORTE-AMERICANA?

Já há algum tempo, o relacionamento dos Estados Unidos com o resto do mundo tem sido problemático: este país passou a adotar cada vez mais uma postura de "superpotência única e absoluta" que tem gerado muitos atritos com vários países. Não é possível saber exatamente quando isso começou; talvez tenha sido com a presidência de Ronald Reagan, eleito em 1980 para confrontar a União Soviética e mostrar ao mundo o poderio bélico esmagador de seu país, o que ele de fato fez: aumentou enormemente a verba militar; iniciou as pesquisas para o programa "Guerra nas Estrelas", de defesa contra mísseis nucleares (que afinal era mais um blefe que uma realidade: pois se nem mesmo hoje existe tecnologia para conter um ataque massivo de mísseis, menos ainda poderia haver há 20 anos); criou um epíteto ridículo para a União Soviética, chamando-a de "Império do Mal"; e acabou com os diálogos sobre controle de armas estratégicas com essa potência socialista, impondo um clima de ameaça e guerra iminente que Gorbachev somente com muito custo conseguiu diminuir um pouco.

Depois do fim da União Soviética, a coisa se tornou ainda pior: sem seu principal adversário, os Estados Unidos acreditaram ser realmente senhores absolutos e incontestáveis do mundo - a "única superpotência do planeta", como gosta de dizer não só a imprensa estadounidense, mas também a latino-americana, muitas vezes subserviente àquele país. Mas os Estados Unidos são mesmo a "única superpotência"? De fato, é o país mais rico, o que mais investe no setor bélico e o que possui as mais poderosas forças armadas do mundo. Mas a União Européia e o Japão são também países riquíssimos, muito importantes para a economia estadounidense; a União Européia, se conseguir superar a estagnação na qual emergiu nos últimos anos, tem tudo para superar economicamente os Estados Unidos. A Rússia, apesar da grave crise que se seguiu ao fim da União Soviética, ainda é a segunda maior potência do mundo, e é o único país com um parque industrial bélico capaz de rivalizar (e muitas vezes de superar) o dos EUA; e também, depois que assumiu o presidente Putin, a economia russa iniciou sua recuperação e tem crescido vigorosamente, o que ampliará o poder russo sob todos os aspectos. E há também a China, um país que cresce muito rapidamente, tanto econômica quanto militarmente. Todos esses são países muito poderosos, que não podem ser desprezados de maneira alguma. Os Estados Unidos não são a "única superpotência" - podem ser os mais fortes, mas não tanto a ponto de superarem todos os demais, como apregoam.

E falaram tanto que os Estados Unidos são "a única superpotência", que algumas mentes fracas se impressionaram e acreditaram piamente nisso, em especial um certo George W. Bush, filho de outro Bush, ex-presidente. E infelizmente esse Bush filho ganhou as eleições (alguém ainda se lembra dos escândalos das eleições de 2000 nos EUA, em que Bush ganhou por uma minoria apertadíssima, graças a uma suspeita decisão de alguns poucos juizes eleitorais? Como aconteceu nos EUA, "o país mais democrático do mundo", ninguém critica nem propõe tomar nenhuma ação. Mas imagine se algo assim acontecesse no Brasil: ser-nos-ia imposto um embargo comercial de vários anos, com certeza. Se fosse na Iugoslávia, então, nem se fala: milhares de toneladas de bombas e mísseis cairiam sobre este país...), e agora age como se seu país fosse o melhor e o mais forte, estivesse acima de todos os demais e, por isso, pudesse decidir e fazer tudo por conta própria - por mais que os outros discordem. O ataque contra o Afeganistão ainda tinha alguma legitimidade: de fato, o Taleban foi longe demais no fanatismo, era um problema para todos seus vizinhos, e parece que são verídicas as alegações dos EUA de que Osama bin Laden patrocinou os ataques de 11 de setembro de 2001. No entanto, os Estados Unidos derrotaram o Taleban, ocuparam o Afeganistão, e não encontraram nem sinais de Osama bin Laden e seus seguidores mais importantes. E ao invés de se concentrar em caçar os terroristas, simplesmente fingem que bin Laden não existe, e inventam um novo inimigo: Saddam Hussein. As alegações de que Hussein tinha ligações com a organização de bin Laden são espúrias; as de que ele possuía armas de destruição em massa eram mais verídicas, porém também revelaram ser uma farsa, pois os EUA já estão no Iraque há alguns meses e não encontraram nenhuma evidência contundente da existência de tais armas. Pois armas químicas, biológicas e nucleares não são coisas pequenas que possam ser ocultadas facilmente. Agora esquecem as pretensas armas químicas do Iraque, esquecem do desaparecido Saddam Hussein, e já começam a forjar acusações contra a Síria e (principalmente) o Irã, ao que tudo indica o próximo alvo. E assim vão os EUA, de guerra em guerra, incansavelmente, em defesa de seus interesses econômicos e estratégicos às custas do sofrimento, do medo, da falta de liberdade e da humilhação do resto do mundo.

O pior de tudo, porém, é o fato de a maioria da população dos Estados Unidos ter aceitado tudo isso, acreditado que a guerra no Afeganistão era para capturar bin Laden e que a invasão do Iraque era para destruir as armas químicas desse país, apoiando essas invasões e a postura megalomaníaca, arrogante e prepotente de seu presidente. Porque temos que admitir que o povo dos Estados Unidos já fez muitas coisas boas: ele não teve medo de lutar numa guerra justa, para libertar a Europa da mais perversa ideologia, o nazismo; e também não teve medo de protestar e se opor a seu governo quando envolveu seu país numa guerra injusta e cruel, a do Vietnã, onde soldados norte-americanos mataram muito mais civis do Vietnã do Sul, os quais eles alegadamente deveriam proteger, que soldados inimigos do Vietnã do Norte. É realmente triste constatar que Bush pode fazer todas as guerras imperiais que quiser, utilizando os argumentos mais ridículos e absurdos, e que a população de seu país vai aceitá-las, e mesmo aplaudi-las.

Claro que há uma minoria, que percebe o engodo, opõe-se a essas brutalidades, e que teve uma participação importante na tentativa de conscientizar a população de seu país contra a guerra no Iraque - mas foram simplesmente desacreditados, acusados de serem "amigos de Saddam", "aliados de terroristas", etc. Por que não houve mobilizações imensas em Washington, para protestar contra a farsa do ataque ao Iraque, como ocorreu nas décadas de 60 e 70 contra a guerra do Vietnã? O povo dos EUA deveria prestar mais atenção àquela minoria, geralmente composta de intelectuais e artistas, que se opuseram à farsa da guerra do Iraque e não tiveram medo de expor seus verdadeiros motivos.

Quem sabe assim, com a popularidade em queda e com a estabilidade de seu governo abalada por grandes protestos, o mundo possa respirar aliviado, livre da ameaça de um líder prepotente que se julga no direito de atacar e invadir o país que quiser. Carlo MOIANA PRAVDA.Ru MG Brasil

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