Jogo de aparências

Esse processo facilita o império da mentira. E o reino da impunidade.

Para justificar a invasão ao Iraque mostraram falsas fotografias de veículos transformados em fábricas químicas. A mídia comprou instantaneamente as imagens.

A repercussão da tortura de Abu Ghraib se sustentou na força pictórica.

Não se nega a importância de imagens verdadeiras, reais, flagrantes. O que se questiona é a cultura do superficial.

É muito difícil transmutar o cenário. A história da humanidade prova a busca contínua pelo mais fácil. O desafio do marketing continua no mesmo caminho: propor soluções de alta aceitabilidade.

Os homens da pré-história moravam em cavernas na procura de abrigo e proteção. Em seguida, as civilizações se desenvolveram onde existia água e alimento: Nilo, Tigre e Eufrates, Amarelo, Reno, Danúbio e por aí afora.

As divindades sempre foram e continuam sendo explicações fáceis de fenômenos e compreensões dificílimas. Exemplo: o mistério da existência pós-morte.

O feudalismo surgiu como solução mais fácil perante a pirataria dos sarracenos. O Ocidente era comandado pelo imperador, poder temporal, e pelo papa, poder espiritual. Estes dois resolviam todos os desafios.

Em 1.100 surgiu o conceito de nação quando os gauleses trouxeram o papado para Avignon. De lá para cá, o planeta continua sendo loteado.

É mais fácil aceitar a supremacia norte-americana. É mais fácil acolher uma decisão de um órgão multinacional, mesmo com toda sua hipocrisia, como é o caso típico das nações unidas.

É muito difícil pensar, analisar, criticar, ponderar idéias e conceitos.

Os conteúdos são áridos, complexos, dificílimos. Por isso, é muito mais contemporâneo permanecer na superfície.

Para os donos do poder é muito interessante a cultura do vazio, da aparência, da realidade mascarada. Se as pessoas acordassem certamente exigiriam um julgamento transparente para os absurdos cometidos pelo trio Bush, Blair e Aznar, quando lideraram mentiras e mais mentiras sobre o Iraque.

Estes cidadãos são responsáveis por mais de 200 mil extermínios. A ocupação do Iraque é ilegal e criminosa. Pelo jogo das aparências, permanecem impunes.

Boa parte dos jovens, dos adultos, dos idosos é vazia. Não existe conteúdo.

Este contingente de pessoas vive a força da mídia e da moda. Para dor de cabeça, um analgésico. Para conflito emocional, uma terapia ou uma droga. Para o sexo, a libertação total, sem culpa ou limite.

Tudo vai bem desde que não afete a estabilidade pessoal.

O deus do mundo vazio é o dinheiro. A maior parte vive exclusivamente em sua honra. Os filhos dependem de viabilidades financeiras. O amor é momentâneo e circunstancial. Significa o fácil e gostoso.

O entorpecimento do jogo de aparência brutaliza a humanidade. Cada um pensa em si próprio, em seu prazer, em seu sucesso, em seu bem-estar e os outros que se defendam. Esse egoísmo realça o espírito bárbaro da humanidade.

Será que existe saída? Ou vamos nos atropelar uns aos outros?

Orquiza, José Roberto escritor [email protected]

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