Conheci o inferno!

E onde fica mesmo esse lugar tão temido pelos seres humanos, independente de raça, religião ou classe social? O inferno fica em qualquer hospital público desse País. E o hospital onde conheci esse ambiente de trevas é o HOSPITAL AGAMENON MAGALHÃES, situado na Avenida Rosa e Silva, no bairro de Casa Amarela, na cidade do Recife.

Minha mãe, Maria Cesarina Jatobá, sofreu um infarto e um edema pulmonar. Levei-a ao hospital mencionado, pela proximidade da residência dela e por , como qualquer professor universitário brasileiro, não dispor de recursos financeiros para pagar uma diária de UTI num hospital particular, que custa, em média, cerca de R$ 1.000,00, segundo fui informado. Ao chegar na emergência do hospital, deparei-me com cenas chocantes, desumanas, inconcebíveis num País que cobra de todo mundo uma CPMF, de valor altíssimo, que foi criada para exatamente melhorar a saúde pública do Brasil.

Vi pessoas agonizando na entrada do hospital Agamenon Magalhães. Não existiam leitos disponíveis. Os médicos trabalhavam como bichos, mas não conseguiam dar vencimento à demanda de pessoas humildes infartadas, com dores, acidentadas etc. E saibam que esse hospital é um dos maiores da cidade. Minha mãe, infartada e com edema, passou mais de uma hora à espera de atendimento...que não chegava, apesar da minha insistência.

Aproximou-se de mim, num dado momento, um humilde trabalhador, com a mão pressionando o peito. Pediu--me : "doutor, pelo amor de Deus, me atenda; eu estou me acabando.... Por favor, me atenda"!. Eu estava de camisa branca e fui confundido com médico. Lamentei não poder ajudar àquele homem, que sofria. Mas no inferno, qualquer sofrimento, por maior que seja, não é sentido por ninguém... A dor daqueles humildes trabalhadores, cidadãos brasileiros, não sai nos jornais!

Não aguentando mais ver minha mãe à beira da morte e depois de ouvir de um médico (que foi até gentil, apesar de ali ser o inferno) que não havia leito, não havia vaga, e que minha mãe ficaria toda a noite sentada numa cadeira de rodas, "esperando a morte chegar", resolvi, com a minha família, que ela seria transferida, entre aspas, para um hospital particular da capital.

Os hospitais públicos do Recife ( Agamenon Magalhães, Getúlio Vargas, Oswaldo Cruz e o Hospital da Restauração) foram criados uns, reformados outros , durante o Regime Militar , que tanto combati, e que vem sendo execrado ultimamente, como a personificação do inferno... Mas esse regime era decente e se preocupava, agora vejo, muito mais com a saúde do Povo, das classes trabalhadoras, do que esse governo "democrático" , que se diz um governo dos trabalhadores, um governo de esquerda... O dinheiro para saúde existe, e em grande quantidade...

O excelentíssimo Ministro da Saúde, dr. Humberto Costa, um político de esquerda, que é daqui do Recife, vivia, há alguns anos, dando entrevistas às emissoras de televisão do Estado , criticando diretores e médicos dos hospitais públicos de Pernambuco. Agora, no Poder, dr. Humberto nem ao menos busca informações ( que ele já as conhece muito bem) sobre o inferno , que são os hospitais públicos pernambucanos e de resto de todo o País. Não move uma palha para reverter esse quadro dantesco visto nas emergências desse estabelecimentos ...

Pergunto-me, a essa altura: de que adianta esse governo,"popular", que dá as costas aos pobres, ao Povo, à gente que depositou, nele, suas últimas esperanças? Os hospitais ainda são os mesmos do Governo do General Figueiredo . Enquanto isso a população pobre cresceu consideravelmente... Mas que importância têm para o Governo a população pobre, os trabalhadores? Essa gente é importante para servir de objeto de dissertações e teses de Sociologia e para votar! Apenas para isso!

A nova "elite", que galgou o Poder Central graças ao voto dessa massa de pobres e miseráveis, que lota , agora, esse inferno, deveria dar pelo menos um tratamento estabelecido na Lei de Proteção aos Animais para os trabalhadores brasileiros enfermos. Minha mãe, que mesmo, na época, com 84 anos, saiu de casa para votar em Luís Inácio da Silva, o Lula, merecia ter, direito de, no final de sua existência, receber um tratamento digno , num hospital público!

Como Maria Cesarina existem outras milhares de Maria, de José, de Pedro, de Severino ... que , a esta hora, amargam a tristeza de procurar um hospital público no Brasil e se defrontarem com o inferno. Morrerão à míngua!

Estou morrendo de ódio, também, porque descontam de meu bolso o Imposto de Renda e a CPMF e não posso sonegá-los...

Saudações Democráticas!

L. Jatobá Professor Universitário e Cidadão Brasileiro

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