Demagogia vs. Diplomacia

O actual clima de tensão na comunidade internacional se deve ao confronto entre dois blocos, um minoritário e arrogante, o outro majoritário, mais silencioso.

A prepotência, beligerância e ingerência não disfarçada dos Estados Unidos da América e dum Reino Unido de Blair que teima em rastejar-se pelas botas da sua antiga colónia, entendendo que só assim vai atingir a glória e a influência de outrora, é chocante e inaceitável num mundo que se diz estar no limiar do terceiro milénio.

Temos num lado os advogados da diplomacia com minúscula, do tipo “pau e cenoura”, usada exclusivamente por Washington, uma diplomacia que trata o resto da comunidade internacional como o amo o seu jumento. “Se não estiver connosco, é inimigo” é a lema, demonstrativa duma miopia política tão limitada como a noção de que “A Esmeralda é uma pata. Todos os patos voam. Por isso, a Esmeralda sabe voar”. Demagogia. E ignorância.

Ao lado de Washington, há um Reino Unido que, em vez de gastar as suas consideráveis energias no fortalecimento do tecido político e social da União Europeia, lança-se numa viagem casmurra e quase epiléptica para ganhar os favores da Casa Branca, comportando-se como o aluno modelo, o favorito do professor; só que, na Casa Branca, nem um “Sotor” se encontra.

Do outro lado, e felizmente na grande maioria, temos as vozes de senso comum, da Diplomacia com maiúscula, de direito e da razão. Neste campo contam-se todas as nações cujas governos se proclamam a favor de delegar quaisquer decisões aos competentes órgãos, nomeadamente a ONU e o seu Conselho de Segurança. Neste campo contam-se a Rússia, a China, a França e a Alemanha e pesos-pesados da diplomacia como Kofi Annan e Nelson Mandela.

Por fora, vê-se um EUA barafustando, frustrado, insinuando e ameaçando, até a própria ONU, que se não tomar as devidas medidas (ao agrado de Washington) então será Washington que vai gerir a crise sozinho, sem dúvida com o cachorrinho inglês obedientemente ao seu calcanhar.

Prevê-se que se os Estados Unidos da América lançarem um ataque militar contra o Iraque fora do foro de lei internacional, as consequências para Washington serão inteiramente negativas, duradoiras e desastrosas, tudo por causa da extrema falta de visão e do egoísmo infantil de que sofre colectivamente a administração do Bush.

A alternativa é bem mais simples e perfeitamente clara: cabe à Organização das Nações Unidas decidir qual é a acção a tomar, como e quando, e a mais ninguém.

Timothy BANCROFT-HINCHEY Director e Chefe de Redacção Versão portuguesa da PRAVDA.Ru

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