Iraque ameaça unidade transatlântica

A diplomacia nunca foi o ponto forte da administração Bush. Os comentários derrogatórios do Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, referindo à “velha Europa” e as insinuações de Powell que certos países demonstram cobardia, pouco fizeram para melhorar as relações transatlânticas.

Colin Powell mostrou ontem a sua frustração num ataque indirecto contra a França, Alemanha e Bélgica, numa entrevista com a Rádio France-Inter. Disse que não se poderia considerar satisfatório um processo contínuo de inspecções “porque há países que têm medo”.

Mais tarde na mesma entrevista, mencionou os “amigos e aliados” de Washington, mais uma referência à noção que reina nesta administração que o mundo é preto e branco e que “ou estás connosco, ou estás contra nós”.

Esta abordagem à gestão de crises seria talvez aceitável para a mentalidade cowboy de Bush. Porém, o facto do diplomata mais importante do país, o Secretário de Estado, poder usar tal linguagem é um exemplo perfeito da frustração sentida por Washington porque não se lhe dá uma mão livre para atacar o Iraque.

O tempo para tal ataque começa a esgotar-se. Fontes da Pravda.Ru em Israel apontam para a noite do dia 3 de Março como sendo a melhor data para um ataque relâmpago, cortando as comunicações entre Bagdade e Basra, isolando-os do resto do país, enquanto 300 mísseis tele-guiadas destruem os seus alvos e 200,000 tropas convergem na direcção do Bagdade oriundos no norte, do oeste e do sul.

Sem dúvida, Washington espera superar a oposição da França a qualquer Segunda resolução pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CS). Ari Fleischer, o porta-voz da Casa Branca afirmou ontem numa conferência de imprensa que “Nós continuamos a trabalhar com a França”, mas não disse que tipo de pressões estão a ser aplicadas a Paris nos bastidores.

Há uma corrente de opinião que Washington irá propor outra resolução no CS, que desse autorização para uma intervenção militar contra o Iraque, esperando que a Rússia e a China se abstêm, pondo imensa pressão sobre a frança, esforçando-a a ser o único país a usar o direito de veto, isolando-a assim do resto do CS.

Porém, esta linha de pensamento conta como dado adquirido que a Rússia não irá usar o seu direito de veto. O Ministro de Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Igor Ivanov, declarou na Quinta-feira que Washington está a por demasiada pressão sobre as equipas de inspecção da ONU e reiterou a posição da Rússia que qualquer acção contra o Iraque é para ser autorizada no CS.

Mesmo que a Rússia decidisse não usar o veto e abster-se, qualquer resolução só se passa com nove votos dos quinze possíveis no CS. Um consenso mais plausível poder-se-ia lograr se Washington e Londres percebessem que a opinião mundial está neste momento contra qualquer uso de força porque, por muito que tentaram, não conseguiram ainda apresentar um justo causus belli, e se agissem de acordo com a vontade com a maioria dos cidadãos do mundo.

Uma resolução que propusesse datas fixas para o Iraque apresentar determinado armamento para ser destruído pelo UNMOVIC, ou provas da sua destruição, poderia atingir os nove votos no CS e apresentar o presidente Saddam Hussein com a batata quente. Só assim é que a ferida vinculativa entre os dois lados do Atlântico, com a excepção de Londres, poderá sarar.

Contudo, a recusa de usar a diplomacia num mundo que clama por uma Nova Ordem Mundial, baseada numa abordagem multi-lateralista à gestão de crises, usando o CS como o devido foro para debate, fez com que Bush e Blair já perderam, façam o que quiserem. Se travarem a guerra contra o Iraque, serão considerados monstros que usaram um martelo para partir a casca dum ovo. Se não travarem a guerra, serão vistos como terem perdido num confronto com Saddam Hussein, o homem que adoram detestar, enquanto Osama Bin Laden teima em não aparecer.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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