Rumsfeld:“Um trabalho do caraças!”

A retórica oriunda de Washington desafia a lógica. Utilizando o 11 de Setembro como desculpa, a administração tenciona eliminar possíveis perigos antes deles existirem. As palavras de Donald Rumsfeld são cristalinas.

O Secretário de Defesa dos EUA foi bem claro neste final de semana na sua entrevista ao canal televisivo Fox News. Declarou que os EUA têm relatórios dos serviços secretos que indicam que as autoridades no Iraque não estão colaborando com a equipa de inspecção UNMOVIC, que Iraque tem programas de armamento químico e biológico e que tem um programa nuclear activo.

Donald Rumsfeld explicou porquê os serviços de inteligência dos EUA não fornecem aos inspectores onde está escondido o armamento que, Washington insiste, existe no Iraque. “Não podemos dizer onde estão as coisas porque no dia seguinte, não estariam lá”, a seguir admitindo qual é a política de Washington: “Estamos a tentar ligar os pontos antes do facto. Eu penso que fizemos um trabalho do caraças!”

Um trabalho do caraças. Washington destruiu sistematicamente três séculos de diplomacia, de desenvolvimento dentro da comunidade internacional no sentido de seguir políticas de gestão de crise, e não de guerra. Washington faz pouco da ONU numa altura em que a organização tenta emergir, habilmente liderado pelo seu Secretário-Geral, Kofi Annan. Washington conseguiu afastar a maioria da comunidade internacional da sua posição agressiva e intrusiva sobre o Iraque.

Um trabalho do caraças. Afirmando que um país tem armamento de destruição em massa, e depois, quando as equipas de inspecção não conseguem encontrar este armamento, que é prova de que o regime de Bagdade está a escondê-lo, faz lembrar aquele que não sabe perder, o fedelho-gorducho na escola que bate no seu opositor porque ganhou o jogo.

Num trabalho do caraças, Washington insulta a comunidade internacional por arrogante e impudentemente recusar-se a ouvir as opiniões que seguem um caminho que não leva à guerra, que professam o uso da diplomacia e tácticas de gestão de crise, não a intervenção militar. Moscou, por exemplo, declarou num comunicado oficial que “Os resultados das inspecções voltam a demonstrar a eficácia do sistema das inspecções da ONU em Iraque, cujo trabalho deve continuar para concluir totalmente e definitivamente os dossiers sobre o processo de desarmamento no Iraque”. Washington, por outro lado, afirma que é inútil o processo das inspecções porque não encontra o que determina “a arma fumegante”.

Um trabalho do caraças...A administração em Washington continua a meter uma cunha entre os EUA e a União Europeia, onde a maioria da população está contra qualquer intervenção militar unilateral pelos EUA/Reuno Unido sem a clara e expressa autorização do Concelho de Segurança da ONU. Atenas, actualmente o presidente da UE, declara que é preciso uma visão global do processo das inspecções, não dando demasiado importância a casos isolados, como a descoberta de 11 ogivas fora de prazo, vazios e jazendo sob uma pilha de excremento de aves.

A suposição que o Iraque não colabora com as equipas da ONU porque não encontram nada é pura disparate. A Federação Russa é clara neste assunto. O comunicado oficial declara que "Iraque continua, de acordo com as suas obrigações, a facilitar o acesso imediato e sem condições a todos os lugares de interesse aos inspectores”.

A administração em Washington conseguiu em dois anos destruir o tecido de amizade e coexistência pacífica na comunidade internacional. Um trabalho do caraças.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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