Blair e Bush com medo

Blair pestanejou ontem no Congresso norte-americano. Acabou o longo confronto, olhos nos olhos. Os culpados admitem que possivelmente o que fizeram foi errado porque nos seus corações, sabem bem que sim.

O Primeiro Ministro britânico chegou ao Congresso norte-americano banhado em aplauso, o seu discurso interrompido no fim de cada frase. Cá estava o parceiro que se tinha juntado ao George Bush num dos actos mais flagrantes de chacina na história do mundo, num desrespeito bradante das normas da diplomacia e da lei internacional. O aplauso mais parecia aquela tosse nervosa antes duma inauguração importantíssima.

Inauguração, foi. Pela primeira vez, Tony Blair admitiu a possibilidade de que “nós errámos” e nesse caso, disse ele, a história irá julgá-los com clemência porque pelo menos, um regime assassino desapareceu.

Um regime assassino? Será esse um que ainda tem a pena de morte? Será esse um regime que abate os jornalistas que levantam questões desconfortáveis durante as guerras ilegais? Será esse um regime que massacra milhares de civis?

Dois actos errados fazem uma acção certeira? Justifica-se ataques militares contra áreas residenciais e depois reclamar que foram danos colaterais, parte legítima num plano para derrubar um ditador? Não é um acto de assassínio?

Porquê é que a história tem de ignorar os actos de assassínio perpetrados pelas forças militares dos EUA e do Reino Unido, num ataque ilegal contra uma nação soberana, fora da autoridade da ONU? Porquê será assassínio quando Saddam manda a execução dum opositor mas não é quando um piloto destrui as famílias e as vidas das crianças iraquianas?

A história irá julgar Bush e Blair por aquilo que são: assassinos sem alma que demonstraram uma falta total de responsabilidade, um desrespeito pela vida humana e pelo direito internacional e que insultaram a comunidade internacional, a humanidade e a civilização num golpe de loucura demagógica. A estupidez com armas é perigosa.

Bush e Blair entrarão nos anais da história como os Bárbaros de Bagdade e Basra, os dois líderes que foram longe demais e não foram homens suficientes para admitirem seus erros e rectificar o que estava errado antes que fosse tarde demais. Bush e Blair entrarão nos anais da história como o duo dinâmico que não conseguiram ler os eventos com clareza, que se recusaram a ouvir os conselhos de outros que sabiam mais e melhor e que na sua teimosia e arrogância prosseguiram, utilizando qualquer desculpa para justificar sua causa, nem que fosse baseada em mentiras e documentos forjados.

A história irá julgar Bush e Blair por aquilo que são: os dois homens que pisaram a corda-bamba e se atrapalharam, destruíram o tecido da diplomacia internacional e fizeram que a civilização fizesse um volta-face de meio milhar de anos, entrando outra vez no pântano da política da idade média.

A história irá julgar esses dois assassinos por aquilo que são. Só uma mão-cheia de odiados pertencem a essa categoria na lista negra da historia mundial, ao lado de Genghis Khan, Hitler, Truman, Bokassa e Pol Pot. Bush e Blair não só são uma desgraça para os seus países, mas também uma vergonha para a humanidade.

Como eles podem continuar nos seus postes de trabalho, como eles podem encarar seus rostos no espelho cada manhã, desafia a lógica.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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