Celebração do 60º aniversário da vitória

Quanto mais se aproxima o 60.º aniversário da Vitória na Segunda Guerra Mundial, tanto maior é o número de políticos dos países bálticos que querem estragá-lo, para os quais a maior tragédia foi a libertação dos seus países pelas tropas soviéticas e não as numerosas vítimas humanas e as batalhas sangrentas.

Tal posição leva a actos concretos: passaram a chamar "estabelecimento de correcção" ao campo de concentração de Salaspils, nos arredores de Riga, onde, durante a Segunda Guerra Mundial, os nazis torturavam crianças e lhes tiravam sangue para os soldados nazis. Aqueles que combateram o nazismo são levados ao banco dos réus mas aqueles que combateram ao lado dos nazis desfilam pelas ruas das capitais dos países bálticos. A Europa Unida contempla-o com tolerância estóica, não vendo nisso nada de especial, assim como não viu nada de especial no conluio de Munique com Hitler.

Tornou-se também muito activo o lobby báltico em muitos outros países. Nos EUA, por exemplo, um grupo de nove membros da chamada "bancada báltica" da Câmara dos Representantes apresentou uma proposta de resolução exigindo que a Rússia reconheça oficialmente como "ilegal" a ocupação da Letónia, Lituânia e da Estónia no período entre 1940 e 1991. A proposta tem igualmente uma conotação económica. Não é difícil supor que, logo que a Rússia reconhecer "ter anexado" os países bálticos, os letões, lituanos e estonianos irão fazer fila em frente da embaixada russa para pedir indemnizações pela sua libertação do nazismo.

A verdade histórica é sempre um problema, mas não para os russos e os alemães: os primeiros condenaram, há muito, o pacto Molotov-Ribbentrop e os crimes do estalinismo e os segundos, condenaram, há muito, o nazismo e Hitler. Agora a verdade histórica atinge directamente os países bálticos que corriam, na época, desesperados entre Moscovo e Berlim, jurando fidelidade às duas. As provas podem ser facilmente localizadas nos arquivos. Também se localizam facilmente nos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia os pedidos dos países bálticos de adesão à URSS. Alguém pode atribui-los à pressão soviética, o que não podemos contestar. No entanto, dois aspectos devem ser assinalados a esse respeito: primeiro, Moscovo não foi a única a ingerir-se, naquela altura, nos assuntos dos países bálticos. Por isso, não vale a pena procurarem um político inocente na Europa daquela época. De entre os muitos sedentos de engolir os países bálticos, Estaline chegou primeiro, em 1940, ao prato, tendo ultrapassado Hitler na recta final. O segundo e o mais importante aspecto que os actuais líderes bálticos preferem não se lembrar é que, na véspera da guerra, os povos bálticos estavam divididos em duas partes praticamente iguais, a pró-soviética e a pró-alemã. Os pró-soviéticos receavam perder a sua propriedade com a chegada dos nazis, aos quais se seguia uma multidão de gente cobiçosa dos bens alheios. Do país dos Sovietes muito se falava e pouco se sabia, pelo que os receios a seu respeito não eram tão grandes. No caso dos judeus, bastante numerosos naquela época nos países bálticos, a ocupação soviética significava a vida e a ocupação nazi, a morte. Portanto, a sua alegria com a chegada dos russos não foi de estranhar. Quando visitei, há quinze anos, a sinagoga de Vilnius, não encontrei ali quase ninguém, e não porque todos os judeus, que constituíam a maioria da população da capital lituana antes da Guerra, tivessem emigrado para Israel, mas porque foram quase todos mortos no Holocausto.

Aliás, para as poucas testemunhas sobreviventes, os mais activos no massacre dos judeus foram os que desfilam hoje pela Europa civilizada, democrática, politicamente correcta e anti-fascista, empunhando as bandeiras nazis. Não vejo nada de condenável em pedir perdão. Muitos dos meus familiares também morreram nas prisões do regime estalinista. Mas o que quero é que, ao lado dos carcereiros da época estalinista, também se ponham de joelhos os nazis do báltico, culpados do massacre de judeus, os politicamente correctos europeus responsáveis pela conclusão do acordo de Munique com Hitler na véspera da Segunda Guerra Mundial e, certamente, os nove congressistas americanos que devem ter-se esquecido dos seus compatriotas mortos na Normandia e nas Ardenas, Se os mortos pudessem votar, nenhum dos políticos do chamado "lobby báltico" no Congresso dos EUA teria sido eleito.

O Dia da Vitória será, certamente, comemorado de forma adequada, em homenagem aos que tombaram e aos sobreviventes daquela tragédia global. A bem da verdade, não é tão importante que os líderes dos países bálticos homenageiem os veteranos russos. Os países bálticos não são apenas constituídos por políticos, são-no sobretudo por pessoas comuns, que se lembram bem de tudo e que vão, certamente, homenagear os soldados soviéticos.

Petr Romanov observador político RIA "Novosti"

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