Manter-se-á o espaço pós-soviético até ao fim de 2005?

"O que é o espaço pós-soviético?" À primeira vista a resposta é óbvia. Actualmente na Rússia, nos países da Comunidade de Estados Independentes (CEI), no Báltico e no Ocidente a expressão "espaço pós-soviético" tornou-se por conveniência uma definição político-geográfica para designar o território da antiga União Soviética.

Contudo, aquilo que consideramos "espaço pós-soviético" não pode ser reduzido unicamente à geografia. A definição dos limites deste espaço não faz luz nem sobre o conteúdo político nem sobre a sua existência.

É óbvio que o "espaço pós-soviético" não é apenas um campo institucional, mas também sócio-cultural, ideológico e político das antigas repúblicas da União. Ao mesmo tempo, o "espaço pós-soviético" não é uma constante e só irá existir enquanto durar a força de inércia do período anterior - ou seja, o soviético.

O funcionamento da CEI na sua forma actual e o desenvolvimento político do "espaço pós-soviético" constituem de facto a última etapa do desmoronamento da União Soviética.

Entre os actuais publicistas russos é de bom tom comparar os processos de integração nos territórios da CEI e nos países da Europa e da Ásia. O problema consiste em que, em termos ideológicos e políticos, os processos integracionistas europeus não se limitaram à constatação do facto de terem surgido na sequência da falência da força hegemónica europeia dos anos 1930-1940 que era a Alemanha nazi, ou na sequência da desintegração do Império Britânico.

Estes projectos não eram mera constatação, mas tinham um projecto político e ideológico de integração comum e regras únicas para todos os participantes do projecto. Nada semelhante foi proposto no espaço pós-soviético desde 1991.

Os processos de integração que se desenvolveram no território da antiga URSS depois de 1991 não tinham em conta o fundamental - ou seja, as causas da desintegração de um Estado outrora unido. Temos por conseguinte a renúncia à ponderação do processo e dos resultados da destruição da União Soviética, da comunidade chamada "povo soviético", assim como a renúncia à elaboração de princípios qualitativamente novos, não soviéticos, de união dos novos países soberanos e independentes.

Já que nenhum projecto alternativo de integração foi proposto, os países congregados no "espaço pós-soviético" começaram a procurar sozinhos a sua própria identidade e formas de participação em outros projectos de integração.

Actualmente podemos constatar o distanciamento definitivo das repúblicas do Báltico do "espaço pós-soviético". As elites da Geórgia, Moldávia e Azerbaijão relacionam cada vez mais o seu futuro com a Europa e os Estados Unidos. A europeização torna-se também um processo inevitável na Ucrânia.

Relativamente aos países da Ásia Central, exceptuando o caso do Tajiquistão, submerso numa violenta contraposição civil, os outros países desta região passaram a realizar o modelo de "modernização acelerada" à maneira asiática - isto é, implementando as instituições inerentes à economia de mercado, criando um Estado autoritário laico etc.

Deste modo, pode-se concluir que o princípio de identidade com a URSS, enquanto fundamento do espaço único, desapareceu. Na realidade o "espaço pós-soviético" parece mais uma pele de chagrém, que se vai comprimindo cada vez mais com o passar do tempo.

Em todo o caso, a desintegração do "espaço pós-soviético", enquanto entidade política e ideológica indefinida, é inevitável. Só se pode falar aqui das formas, dos ritmos e dos prazos deste processo.

Nestas condições, compete à Rússia construir relações com as repúblicas da extinta União Soviética tomando como ponto de referência os interesses nacionais e o saudável egoísmo nacional. A solidariedade não deverá permitir ao Turkmenbashí (líder máximo do Turcomenistão) de espezinhar os direitos dos russos residentes naquela república, à Ucrânia de roubar o gás russo que passa pelo seu território, à Bielorrússia de tratar mal os jornalistas russos que lá se encontram em serviço.

Os interesses geopolíticos da Rússia na região do Cáucaso ditam um duro diálogo com a Geórgia.

Seja como for, além de fazer valer a sua força em certas circunstâncias, a Rússia tem que se tornar igualmente um parceiro económico atractivo, um garante político e militar e um centro intelectual.

Serguei Markedonov Historiador Chefe do Departamento de Problemas das Nacionalidades do Instituto de Análise Política e Militar Cortesia RIA "Novosti"

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