RELATO DE UM TORTURADO

Ouvi o relato de um homem, médico, que sofreu todos os tipos de tortura. Deveria denunciar seus amigos e conhecidos. Permaneceu o tempo inteiro calado, apanhando e sofrendo as mais cruéis barbaridades imaginadas.

Seu corpo estava todo marcado por manchas e machucaduras. Como médico, imaginava que seu estômago tinha sido perfurado. Mais tarde ficou todo inchado. Não conseguia dormir. Não conseguia se deitar. Não falava nada. Os torturadores cansaram e desistiram de bater.

Conseguiu sobreviver. Narra que os torturadores discutiam entre si. Um deles queria matar o desgraçado. Diversas vezes apontaram a arma para sua cabeça e puxaram o gatilho explodindo balas de festim. Havia perdido o medo da morte. Morrer, naquela altura, seria um prêmio.

Depois de se recuperar, começou a ajudar os outros torturados. Ninguém escapava da tortura. Alguns expressavam o horror, manifestando dores psicológicas terríveis.

Os torturadores eram soldados, pessoas comuns, especialmente treinadas para tirar confissões. Também tinham mães, pais, irmãos, amigos. Pertenciam à raça humana. Refletiam o sistema que os envolviam.

Neste exato momento, em um dos 30 conflitos internacionais, alguém está sendo torturado. Neste exato momento, em um dos sistemas de segurança espalhados pelas cidades do mundo inteiro, alguém está apanhando pior que cachorro. Neste exato momento, muitas pessoas estão se agredindo revelando a brutalidade da raça humana.

Pausa para respirar.

Enquanto isso, o governo norte-americano aprovou mais 81,4 bilhões de dólares para custear suas guerras pelo mundo afora. Esse dinheiro será gasto em 2005 no Iraque, no Afeganistão, em Guantânamo e milhares de outros cenários dantescos. Parece pouco. Na verdade corresponde a 12,92 dólares por cada um dos mais de 6,3 bilhões de habitantes do planeta.

Quem lucra com este dinheiro? Quem é beneficiado? Quem perde?

A maioria dos cidadãos do mundo não compreende a origem de tanta maldade e destruição. Outra parte considera a agressão como algo normal entre humanos. Outra parte sonha com uma sociedade mais digna, mais justa, mais preparada, mais sensata.

A indústria bélica é milhões de vezes mais danosa que o universo das drogas, por exemplo. A diferença está na sua legalidade. Fabricar armas para exterminarem humanos é lícito. Trata-se de um grande disparate que nos transforma em bárbaros.

Nossos sistemas de convivência em sociedade vêm fracassando há muito tempo. O jogo do poder implica em impor a vontade do vencedor sobre o perdedor. Não admite diálogo nem a tentativa de compreensão.

Os estados poderosos acreditam ser detentores do direito de controlar os pensamentos e a privacidade de qualquer cidadão. Estabelecem redes fantásticas para vigiar os comportamentos. Não se interessam em desenvolver a humanidade.

O médico torturado confirma que a tortura é genérica. Ninguém escapa das atrocidades dos beligerantes. Os americanos se especializaram nesta matéria. Usam e abusam de seus prisioneiros tirando até a morte qualquer confissão. Ficaram notórios outros dois médicos afegãos com as pernas quebradas e amputadas. A causa mortis comprova o desequilíbrio do terror dos soldados de Bush.

Um minuto de silêncio.

Orquiza, José Roberto escritor [email protected]

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