NOVA RUSSOFOBIA?

Citemos alguns deles: "Fantasma da instabilidade dos anos 90 volta a Moscovo" (Christian Science Monitor, EUA), "Mercado russo continua sendo território do Far West" (The Wall Street Journal, EUA), "Nem todos são iguais perante a Lei" (Der Tagesspiegel, RFA), "Os Padrinhos de Moscovo" (El País, Espanha), "Após ao naufrágio" (The Financial Times, Grã-Bretanha), entre outros.

O nome do Presidente Putin quase sempre é acompanhado do predicado "ex-agente do KGB". Os terroristas chechenos são "lutadores pela liberdade", "independentistas" ou na pior das hipóteses "combatentes da resistência". Qualquer comunicado sobre o despedimento dum jornalista é caracterizado como "ataque à liberdade de expressão", e assim por diante.

Como regra, a Rússia tem quase sempre uma má imagem nos "mass media" ocidentais. Nos comentários da TV o país é apresentado como um local de branqueamento de "dinheiro sujo", de mulheres fáceis e toxicodependentes, como um país sem luz e aquecimento.

Na Rússia esta avalanche de críticas é percebida como algo injusto, mesmo que muitos canais televisivos e de rádio continuem a transmitir factos de crimes e extrema pobreza, de crianças abandonadas, desalojados e mendigos na rua. Muitas redes televisivas dão-se ao luxo de filmar telenovelas inteiras sobre o mundo do crime e a sua brutalidade, transmitem várias vezes por dia programas especiais sobre esta temática. Como resultado, o espectador russo conhece hoje melhor os assassinos maníacos, bandidos, tarados sexuais locais do que os protagonistas das telenovelas do Brasil ou do México. O estrondo dos tiros, o sangue, os cadáveres no asfalto - tudo isto passa a ser entendido como uma modalidade da liberdade de expressão, sem falar ainda do aumento das audiências do canal de TV que transmite estes programas, atraindo logo os anunciantes publicitários. Ora, o que temos é uma fusão perfeita dos interesses comerciais com a nostalgia pelos espectáculos interditos nos tempos soviéticos.

É óbvio que os motivos para criticar um país que enveredou pelo caminho de profundas transformações económicas e sociais não faltam e são numerosos. No entanto, cada vez mais a razão das críticas prende-se com a nova "russofobia" do Ocidente. Este fenómeno é percebido pela direcção do país e não foi por acaso que na última reunião com os embaixadores russos o Presidente Vladimir Putin observou o seguinte: "As concepções que dominam sobre a Rússia nos países onde vocês trabalham são, não raro, muito distantes da realidade. Não faltam campanhas orquestradas para desacreditar o nosso país, cujos prejuízos são óbvios para o nosso Estado, para o nosso empresariado".

Aqui o Presidente disse abertamente o que muitos pensam. Acontece que a parceria estratégica e a comunhão de interesses da Rússia e do Ocidente no que se refere aos novos perigos e desafios da época não fazem desaparecer o desejo deste último de neutralizar um poderoso e influente concorrente no mercado mundial, quer em termos económicos quer políticos. Os exemplos são muitos. Se após o período de transição, o período de caos, a Rússia procura reforçar e consolidar o poder público, o poder federal procura restabelecer a subordinação das regiões, tal política é vista como um "regresso ao autoritarismo". Se na Rússia um multimilionário é acusado de evasão fiscal equivalente a 3,4 mil milhões de dólares e de transacções fraudulentas para investir os capitais desviados na luta pelo poder político, tais medidas contra a "cleptocracia" são consideradas "acções de represália contra o grande capital". E quando o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia surge num encontro com colegas ocidentais para discutir as condições de regularização no Médio Oriente, as redes televisivas ocidentais acabam por exibir o secretário de Estado dos EUA, sem o ministro russo. É precisamente isto que tinha em mente o Presidente Vladimir Putin quando se referiu na sua alocução perante os diplomatas russos às "campanhas orquestradas ocidentais para desacreditar a imagem do país".

Um exemplo notável deste tipo de campanhas é o que se passa após o assassinato de Paul Khlebnikov, redactor-chefe da edição russa da revista "Forbes" (EUA). Este caso é manipulado habilmente pelos "mass media" ocidentais como prova do "regresso da instabilidade na Rússia" - e subsequentemente, desacreditar os êxitos do Presidente Vladimir Putin que, depois de tantos anos de caos e confusão no país, pode gabar-se de ter restaurado na Rússia a ordem e a segurança públicas. Quanto ao caso do jornalista norte-americano Paul Khlebnikov, o seu trabalho em Moscovo suscitou o ódio de alguns mas o respeito da maior parte por aquilo que escreveu sobre o nosso país. "A Rússia está a entrar numa nova fase do capitalismo - dizia, - distanciando-se da economia paralela, da mentalidade do mercado negro e avançando para uma outra forma de capitalismo - mais civilizado, mais transparente, mais aberto -, abrindo-se a todo o mundo". Infelizmente, nem todos compreendem a Rússia de forma tão profunda.

Vladimir Simonov observador político RIA "Novosti"

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