As Opções de Bush

A resposta à primeira pergunta é facil: Mais do mesmo. Os governos dos EUA e Reino Unido seguem a mesma linha, que a operação no Iraque foi um sucesso porque o governo de Saddam Hussein foi derrubado e por dificil que seja a situação, é melhor ficar e acabar o trabalho começado do que fugir com meio caminho andado. Porém, sem menção do número de pessoas mortas ou mutiladas, somente um frio “acabar o trabalho”, como um assassino em série que entra num cinema, chacina as filas de trás e continua assassinando até chegar à frente.

A resposta à segunda pergunta é igualmente muito simples. Há três opções para resolver a crise com sucesso, crise essa que Washington e Londres causaram desnecessariamente com a sua recusa de utilizar os instrumentos da diplomacia internacional e seguir as normas da lei vigente. Primeiro, reconhecer que a situação como está, não funciona; segundo, admitir os erros cometidos e terceiro, encontrar soluções.

O facto que com cada dia que passa, os ataques perpetrados pelos combatentes para a liberdade estão a causar cada vez mais mortes entre os soldados dos EUA e agora, os soldados dos seus aliados, é prova da existência dum elemento activo e hostil dentro do país que ou ainda apoia o Saddam Hussein (sensivelmente 10% da população) ou então não apoia o invasor estrangeiro (60 a 80%). Os norte-americanos não receberam as boas-vindas com braços abertos. Não foi necessário destruir as infra-estruturas do país tão completa e cruelmente. O fornecimento da água não é alvo militar. O sistema de distribuição de electricidade nãe é alvo militar. A rede sanitária não é alvo militar.

O facto que o Primeiro Ministro britânico tem pela primeira vez na história de argumentar o caso de permanecer em termos amigaveis com os EUA, diz tudo, como diz também o facto que a esmagadora maioria da opinião pública em Portugal, Espanha e Itália, três aliados dos EUA que enviaram forças militares ou de manutenção de paz ao Iraque, está totalmente contra a decisão dos seus governos de envolver esses países nesta guerra ilegal contra uma nação soberana, uma opinião que faz eco no resto da comunidade internacional.

São os sintomas que Washington julgou mal, muito mal, a corrente da opinião pública mundial e também as consequencias dos seus actos assassinos no Iraque. Alem disso, estamos no início da campanha e os ataques estão a aumentar em vez de diminuir. A guerra dos combatentes da liberdade do Iraque começou com a paz. A notar, os primeiros conflitos esta semana entre as forças americanas e curdas.

Continuar cegamente e enviar cada vez mais recursos numa tentativa de controlar uma situação que já degenerou em caos, enquanto hordas de dissatisfeitos jovens de cada canto do mundo islâmico jorram através das fronteiras para dentro e não para fora do Iraque, é prolongar uma causa já perdida, uma guerra contra o terror que era suposta proteger os interesses ocidentais.

Em vez disso, esta “guerra santa” empurra o tecido duma comunidade internacional coesa até ao ponto da ruptura, cada vez mais perto dum conflito global e mais importante, dá aos terroristas a razão que perderam no 11 de Setembro: qual é a diferença entre um fundamentalista islâmico assassinar civis norte-americanos (e não só) em Nova York e a chacina em grande escala de civis iraquianos em Bagdade por tropas norte-americanas? Se rotula o primeiro caso “terrorismo” e o segundo “danos colaterais” mas nenhum tem razão, nem estabelece a paz, nenhum dos dois está certo.

A guerra contra o terror não está funcionando. O Afeganistão se tornou outra vez o feudo dos barões das drogas, reina o caos fora das cidades principais, os Talebã estão livres para atacar onde e quando quiserem. A inclusão do Iraque nesta guerra foi um colossal erro e a fabricação de provas e manipulação da verdade por Washington e Londres causou um profundo e grave falta de confiança nos regimes desses dois países que levará muitos anos para esquecer.

A situação é inesperadamente péssima, catastrófica. Não vale a pena ignorar os factos e tentar sorrir, reclamando que a imprensa está hostil. Não vale a pena esconder a cara na areia. O Iraque é um caos. Admitem-no.

Em segundo lugar, Washington ganharia muito mais por admitir que a sua política está errada e reconhecer a necessidade duma mudança, do que por prosseguir com tamanha arrogância e prepotência, ficando ao mesmo tempo cada vez mais envolvido num conflito que não pode vencer, que parece prestes a durar por décadas. Os 87 bilhões de dólares que George Bush pediu ao Congresso se tornará um hábito. Por quanto tempo irá o contribuinte norte-americano pagar essas quantias do seu dinheiro para sustentar uma guerra que nem base legal tem e que vai sem qualquer dúvida causar a chacina de cada vez mais pessoas numa escala cada vez maior? George Bush já levou à bancarrota muitas firmas, agora quer arruinar o país?

George Bush deveria reconhecer que não é uma decisão política permanecer envolvido neste tipo de situação porque na altura da próxima eleição, se a questão do Iraque não for resolvida, quer dizer que os EUA estarão empenhados numa acção a longo prazo numa zona cada vez mais instavel. Suicídio político. É o cenário tipo Vietname que Saddam Hussein mencionou, antes de George Bush “enganar o mundo” por mentir e apresentar um falso pretexto para a guerra.

Em terceiro lugar, endereçar o mal é simples. Utilizar as instituições internacionais, que são baseadas na regra da lei internacional. Foram criadas para a resolução e gestão de crises e Washington e Londres, como co-signatários da Carta da ONU, o sabiam. Envolver as Nações Unidas e criar uma coligação com uma base tão larga quanto possível para substutuir as forças dos EUA (com certeza) e do Reino Unido (provavelmente) com uma força de manutenção de paz e organizar eleições no Iraque dentro de, digamos, 100 dias.

Essas eleições deveriam incluir uma larga representação dos interesses no Iraque, incluindo o Partido Ba’ath. Eis o grande desafio porque em remover o Saddam Hussein, Washington cometeu um erro monumental: removeu o ponto de equilíbrio que impedia que a região explodisse em caos.

Finalmente, não há possibilidade de vencer o terrorismo islâmico sem endereçar o raiz do problema: enquanto Israel continua a ter posse dos territórios ocupados ilegalmente, construir colonias em terras que nunca lhe pertenceu e tratar o povo palestiniano como cidadãos de segunda, enquanto Washington serve para bancar Tel Aviv nessas condições, naturalmente os dois países serão os alvos de ataques no futuro previsivel.

Enquanto Israel não devolver 100% (não 90, nem 99, nem 95) dos territórios e acorda efectuar uma desmantelação gradual das colonias, pagando possivelmente uma renda à Autoridade Palestiniana no periodo interino, durante o processo de desmantelamento, haverá sempre um ponto focal para o terrorismo islâmico. Sem razão de existir, a existência é mais complicada.

São essas as questões básicas que George Bush é incapaz de reconhecer. Como um animal demente preso numa gaiola pequena num jardim zoológico algures numa pequena cidade, ele adoptou o sindroma de comportamento repetitivo obsessional. Os mesmos passos, os mesmos sons, as mesmas posições.

Não está funcionando!

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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