Controle da Opinião Pública

‘Aqueles que pretendem entender o passado e moldar o futuro devem prestar muita atenção não apenas às suas práticas, mas também à estrutura doutrinária que as sustenta.’ – Noam Chomsky

Uma questão que deve ocupar grande parte das mentes durante e principalmente após o Fórum Social Mundial (FSM) é a(s) forma(s) que os debates e as alternativas veiculadas aqui irão chegar até a grande maioria da população mundial, necessitada que está dessas percepções e das composições ideológicas e acionárias geradas nessa ‘cidade social mundial’, como as autoridades locais insistem em chamar a área do Fórum. A veiculação das resoluções do quinto FSM não pode depender da boa vontade dos grandes veículos midiáticos nem ficar restrita às proximidades do Rio Guaíba entre 26 e 31 de janeiro de 2005.

Há 260 anos, David Hume, debruçado sobre o problema da obediência civil, chegou à conclusão de que o governo se baseia no controle da opinião, princípio que se estende a todos os governos, ‘dos mais despóticos e militarizados aos mais livres e populares’. Sem dúvida ele menosprezou o poder da força bruta pura e simples, mas atenhamos por enquanto à questão da manipulação da opinião pública.

Áreas e Arenas

Na terminologia do pensamento progressista moderno, a população pode ser ‘expectadora’, mas não ‘participante’, à parte a ocasional escolha de líderes representativos do autêntico poder. Essa é a arena política. Da arena econômica, que é onde se definem os verdadeiros rumos da política, o que realmente acontece na sociedade, a população em geral deve ser excluída.

A moderna “democracia”, um Tsunami Estrutural

Existem doutrinas criadas para impor o novo ‘espírito’ da ‘democracia’ aos moldes neoliberais. Elas foram expressas, de maneira bem precisa, num importante manual da política de relações públicas, por Edward Bernays, uma de suas figuras mais importantes.

Facadas presentes no tal manual: “A manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões organizadas das massas é um importante componente da sociedade democrática”.

Esperem um pouco, vamos por partes: “A manipulação consciente e inteligente... das massas é um importante componente da sociedade DEMOCRÁTICA”. Hein?

Com tempo, na Revista Consciência.Net, pretendo discorrer muito mais sobre essa nova ‘democracia’, mas posso adiantar que é nela que o presidente Bu(ll)sh(it) se refere quando enfatiza os motivos pelos quais atacou o Iraque e pretende detonar o Irã, seu antigo aliado.

A minoria informada

Calma, indignado leitor, temos mais dessa pérola, aqui vai as indicações do papel das “elites informadas” segundo o manual: “As minorias informadas devem fazer uso contínuo e sistemático da propaganda”, porque elas entendem os processos mentais e padrões sociais das massas e podem “manejar com mais facilidade a opinião pública”, já que a nossa sociedade “consentiu em aceitar que a livre concorrência fosse organizada pela liderança e pela propaganda”.

Quando o controle aperta

A importância do controle da opinião pública é reconhecida com clareza à medida que a sociedade organizada consegue ampliar as modalidades de democracia, fazendo surgir, de fato, aquilo que as elites liberais chamam de “crise da democracia” — o que acontece quando populações relativamente apáticas ou passivas se organizam e tentam entrar na arena política em busca de seus interesses e demandas, danificando os interesses da ‘ordem’ e da ‘estabilidade’.

Wilson, um aristocrata

Em teoria política temos o ‘idealismo wilsoniano’, a visão pessoal de Wilson era a de que cavalheiros bem dotados de “ideais elevados” é necessária para preservar a “estabilidade e a “correção”. Uma espécie de aristocracia ideológica.

A minoria segundo Wilson

A minoria informada é uma “classe especializada” responsável pelo estabelecimento de políticas e pela “formação de uma sólida opinião pública”, ela deve estar longe da interferência do público em geral, formado por pessoas “ignorantes e intrometidas, alheias ao processo”. O Público deve ser “colocado no seu devido lugar”, e aprender a sua função, de “expectador da ação”. Viu só que moleza? Vocês não precisam fazer nada! Mas também não esperem que seja bem feito ou que sejam os seus os interesses atendidos no fim das contas.

Lênin e democracia neoliberal, um soco no estômago (de quem?)

Nas sociedades mais democráticas, nas quais não se pode recorrer à força, os administradores devem recorrer a uma “técnica totalmente nova de controle, amplamente baseada na propaganda”. O leitor atento pode perceber que essa é a boa e velha doutrina leninista! A similaridade entre a teoria democrática progressiva (neoliberal) e o marxismo-leninismo é notável, coisa que Bakunin já havia previsto.

A perseverança, espécie romântica de teimosia

Entre 80 a 90 por cento dos norte-americanos (não estamos falando do povo mais politizado do mundo) apóiam as garantias federais de assistência pública para os que não podem trabalhar, o seguro-desemprego, o subsídio para a compra de remédios com receita, serviços de enfermagem para idosos, um nível mínimo de assitência à saúde e seguridade social.

A insistência de tais atitudes é assombrosa se levarmos em conta o incessante assalto da propaganda para persuadir as pessoas de que elas acreditam em coisas radicalmente diferentes!

A última palavra (de hoje) sobre manipulação

O quadro acima rapidamente pincelado (porque aqui no FSM não tenho tempo para dedicar-me como gostaria) é muito comum numa sociedade gerida pelos interesses das grandes fortunas e que gasta fortunas em marketing. Citemos o caso dos Estados Unidos como ilustração: o país que levará sua espécie de ‘democracia’ para o mundo gasta um trilhão de dólares anuais, um sexto do Produto Interno Bruto, em sua maior parte dedutíveis dos impostos, de modo que as pessoas pagam pelo privilégio de estarem sujeitas à manipulação de suas atitudes e de seu comportamento.

_____________________________ Renato César da Costa Kress é brasileiro, poeta, escritor e nasceu no Rio de Janeiro no ano 82. Concluiu seus estudos secundários no Colégio Cruzeiro - Deutsche Schule. Lançou em 2000, aos 18 anos, o livro Consciência, sobre impactos do neoliberalismo nos países de terceiro mundo, livro este que começara a escrever dois anos antes. É co-fundador e co-editor da revista eletrônica www.consciencia.net, e membro do I-Latina.org (www.i-latina.org). Atualmente cursa a faculdade de Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

http://www.consciencia.net/2005/mes/05/rk-controle.html

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