A Política da Guerra

Os países com uma estrutura que é tradicionalmente esquerdista, isso é, distributivo de riqueza para uma banda larga da sociedade, tendem optar pela paz, enquanto aqueles que seguem uma política tradicionalmente direitista, nomeadamente o controlo da riqueza através de monopólios dominados por grupos de pressão, são tradicionalmente mais beligerantes. A situação actual na comunidade internacional é uma fotocópia desta realidade.

Este fenómeno não tem a ver só com a política partidária mas também com as tendências num nível supra-nacional. Olhando para a mapa do mundo, vê-se que os principais defensores duma guerra contra o Iraque são os mesmos países que defendem uma política monetarista liberal mais agressiva (EUA, Reino Unido, Espanha e Itália) e aqueles países que tradicionalmente seguem políticas sociais colectivas (Rússia e China, Alemanha, com o seu regime “Sozial” e a França, com as suas políticas intervencionistas) afirmam-se contra o conflito militar...A lei da selva (económica) contra a lei de bom senso (social).

Ao nível da política partidária, os partidos esquerdistas defendem a paz, os direitistas defendem a guerra e aqueles que se chamam centro-esquerda estão apanhados no meio, divididos entre as alas esquerda e direita. O Labour Party no Reino Unido é um bom exemplo, o Velho Labour votando contra qualquer agressão militar no Golfo e o Novo Labour (os amigos do Primeiro Ministro Blair), seguindo os passos de Washington.

O padrão repete-se através da Europa, desde a França até à Finlândia, desde a Polónia até Portugal, onde o governo de direita – PSD (Partido Social Democrata)/ PP (Partido Popular, Conservadores) – apoia abertamente a posição beligerante adoptada pelos EUA, o Primeiro Ministro português, José Barroso, tendo-se apressado a assinar uma carta apoiando esta posição anti-civilização, anti-democrática e ilegal, juntamente com o Reino Unido, Dinamarca, Espanha, Itália, Polónia, a República Checa e Hungria, sem sequer consultar o seu presidente, nem o seu parlamento. A esquerda verdadeira – PCP, BE e PEV – se pronuncia claramente contra a guerra, enquanto os Socialistas (PS) estão apanhados no meio, os membros deste partido sendo esforçados a decidirem em que lado da vedação querem ficar. O resultado é claramente aquele que aflige todas as formações de centro-direita na Europa – o partido está dividido ao meio. Por isso, conlui-se, que o centro-esquerda não existe. Ou é esquerda, ou é direita.

Sendo este o caso, os Partidos ditos Socialistas Europeus hoje em dia são-no só de nome, sendo uma alternativa confortável contra aqueles que defendem políticas de extrema-direita que de vez em quando conseguem ser eleitos após uma campanha de marketing político oportuno ou em tempos de desespero económico, quando a chamada para monopolizar a riqueza nas mãos dum grupo restrito parece apelativa a aqueles que egoísticamente temem pela segurança dos seus interesses pessoais.

É exactamente em tempos de guerra que esta tendência reina numa escala internacional. Os defensores da direita política, que querem manter as rédeas de poder e de riqueza nas mãos dum grupo restringido, naturalmente favorecem uma situação em que a sua base (os grupos de pressão da indústria do aço, da energia e do armamento) possa atingir os níveis de riqueza que consideram necessários para garantir a continuação do “espectáculo”, sendo este mais um mandato do governo que apoiam.

Os níveis de riqueza oriundos da guerra são atractivos demais para serem ignorados por tais grupos de pressão. Contudo, a esquerda política encara a guerra como um bloqueio à mobilidade social porque os partidos que pertencem realmente, e não só em nome, a esta área política, baseiam os seus valores em conceitos de discussão e não de decisões arbitrárias, em diplomacia e não hegemonia, em noções de cultura e valores de amizade e não uma cultura de armas e de pressão por meio da lei da selva.

Por esta razão, não surpreende a ninguém que os principais defensores da guerra são a administração Bush (tão direitista que atinge o Fascismo), Itália (onde a administração de Berlusconi é uma coligação que inclui partidos fascistas), Espanha (onde o PP do Aznar é reminescente do regime fascista do Franco), Portugal (cujo primeiro ministro José Barroso estudou o seu pós-graduação nos EUA) e o Reino Unido, onde o Primeiro Ministro Blair tem demonstrado que o seu partido é socialista, só que com S pequeno.

Os que defendem uma Nova Ordem Mundial com seriedade, que é baseada em princípios de igualdade e de fraternidade, nomeadamente a maioria da comunidade internacional, estão contra a noção de guerra porque esta realça a ideia de que o Homem ainda não conseguiu evoluir nada, mesmo que tenha ultrapassado o limiar do terceiro milénio.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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