Terrorismo nacionalista - nova ameaça à Rússia

O simbolismo do atentado é duplo. Por um lado neste dia assinalava-se o Dia da Rússia e por outro o comboio era procedente da Chechénia, de onde os russos foram forçados a fugir ainda na década de 1990. De início não estava claro quem teria levado a cabo o atentado:

Terroristas chechenos ou nacionalistas russos.

Face aos indícios preliminares, a investigação optou pela versão dos nacionalistas, que acabou por se justificar. Segundo informou a Procuradoria da região de Moscovo, ambos os suspeitos envolvidos no atentado terrorista - Vladimir Vlassov e Mikhail Klevatchev - são militantes da organização nacionalista radical Unidade Nacional Russa (UNR), proibida e considerada francamente fascista.

A explosão do comboio vindo de Grozny tornou-se mais um elo numa cadeia inteira de acções e atentados terroristas registados ultimamente na Rússia, os quais não têm nada a ver com a rede terrorista internacional e o terrorismo islâmico.

O maior atentado terrorista nesta cadeia pode ser considerado o atentado contra o presidente da RAO EES (Sistemas Energéticos Unificados da Rússia), Anatoli Tchubais, ocorrido na Primavera do ano em curso. A explosão não atingiu ninguém da comitiva de Tchubais, mas o incidente teve grande ressonância no país. A procuradoria culpa de novo os nacionalistas russos. Na sua versão, o arguido principal, o coronel reformado do Exército russo, Vladmir Kvatchkov, organizou na sua casa de campo uma espécie de clube nacionalista terrorista onde foram debatidas e planeadas as medidas relacionadas com a pressão e a liquidação física dos "inimigos da Rússia". Para além disso, está a ser verificado o envolvimento dos suspeitos na explosão do expresso Moscovo-Grozny, em cujos apartamentos foi encontrado todo um arsenal de cargas explosivas, no atentado contra Anatoli Tchubais.

Há dias o Tribunal Regional de Moscovo proibiu o Partido Nacional Bolchevista, organização extremista, cujo líder Eduard Limonov já cumpriu uma pena por terrorismo e posse de armas. Por enquanto os nacional-bolchevistas, que não pretendem pôr termo à sua actividade não obstante a resolução do Tribunal, têm vindo a desenvolver acções predominantemente pacíficas - atacar com ovos podres os assim chamados "inimigos da Rússia", distribuir slogans antigovernamentais e ocupar as instituições do Estado. Por exemplo, no Verão passado os militantes do partido de Limonov invadiram o Ministério da Saúde Pública e Desenvolvimento Social, protestando contra a reforma das regalias sociais, ocupando mais tarde a sala de recepção da Administração do Presidente da Rússia.

As autoridades reagem às acções dos nacional-bolchevistas em termos extremamente duros, tendo os envolvidos na ocupação do Ministério de Saúde Pública sido condenados a cinco anos de prisão apesar das tentativas da opinião pública de provar que esta acção foi inofensiva e inocente pelo seu carácter. É possível que ao determinar a pena os tribunais levem em consideração não só a acção propriamente dita, mas também a ideologia nacional-bolchevista, uma ideologia que não exclui o recurso à violência e ao terror para alcançar os fins políticos. No manifesto nacional-bolchevista "Outra Rússia" é referida em particular a deslocação da luta clandestina para fora das fronteiras do país e a criação de acampamentos de guerrilha num dos países vizinhos da Rússia.

O vice-chefe da Administração do Presidente, Vladislav Surkov, manifestou a preocupação das autoridades russas pela ameaça do terrorismo nacionalista, na sua recente entrevista à revista Spiegel. "Se as forças chauvinistas e pró-fascistas provocarem uma onda de extremismo islâmico, isto irá criar uma ameaça séria à integridade territorial do nosso país multinacional". Por outras palavras, para além do terrorismo islâmico, que já passou as fronteiras da Chechénia e invadiu o Daguestão vizinho e outras repúblicas do Cáucaso do Norte, o Kremlin está seriamente preocupado com o surgimento e o reforço do terrorismo nacionalista, orientado contra os políticos liberais e as minorias étnicas. O mais perigoso será se estes dois tipos de nacionalismo chocarem entre si. Num país multiétnico e multiconfessional como é a Rússia, com mais de 20 milhões de muçulmanos, isto seria igual a uma guerra civil, semelhante à que deflagrou na década de 1990 nos Balcãs.

Numa das entrevistas do início do seu segundo mandato, Vladimir Putin chamou os extremistas russos de idiotas e provocadores. Não obstante o alto "rating" presidencial, que segundo as últimas sondagens atinge 70 por cento, mesmo as suas palavras não bastam para combater o extremismo nacionalista. Este tipo de extremismo é extremamente perigoso porque os jovens ficam cada vez mais sob a sua influência. De acordo com os dados dos órgãos judiciários, cerca de 50 mil adolescentes russos dizem-se "skinheads" (cabeças rapadas), movimento juvenil de carácter extremista e nacionalista. Por enquanto, estes jovem limitam-se a beber cerveja nas ruas e a agredir os estrangeiros, tendo alguns casos levado à morte, como o aconteceu em São Petersburgo com um estudante vietnamita. Agora ninguém pode garantir que quando estes jovens crescerem não virão a ser uma força política organizada e agressiva.

É por isso mesmo as acções das autoridades em relação aos extremistas nacionalistas continuarão a ser duras.

Os suspeitos da autoria da explosão na linha Moscovo-Grozny, caso a sua culpa venha a ser provada, irão receber vários anos de prisão sem direito de indulto ou de amnistia.

Yuri Filippov observador político RIA "Novosti"

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