Rússia e a presidência dos G8

A cimeira do G-8, que se reúne na quarta-feira em Gleneagles (Escócia), irá ter um importante significativo para Moscovo. A presidência deste grupo informal dos oito países mais desenvolvidos do mundo irá pela primeira vez passar para a Rússia, tornando-se esta no ano que vem a anfitriã da próxima cimeira, a ser realizada nos arredores de São Petersburgo.

A Rússia de hoje, com as suas enormes riquezas naturais e recursos humanos, uma das mais fortes potências nucleares, continua a registar um atraso significativo em termos de rendimento "per capita" face aos outros sete países do G-8. No entanto, entrou em acção um factor que torna a Rússia o membro mais influente e mesmo absolutamente indispensável do grupo dos oito grandes, caso o objectivo central do mesmo consista de facto no reforço da estabilidade do desenvolvimento económico global. Este factor é o papel crescente da Rússia como elemento-chave no mercado de recursos energéticos.

Moscovo dentro de um futuro próximo pretende vir a extrair anualmente 500 milhões de toneladas de petróleo. Destes volumes irá depender o bem-estar não só dos países vizinhos da Rússia, mas também da Europa e em parte dos EUA.

É verdade que Rússia continua a ser o país onde uma parte significativa da população vive abaixo do limiar de pobreza (se bem que esta se tenha vindo a reduzir). Talvez seja precisamente este factor que determina o papel especial que a Rússia desempenha no G-8, que costuma ser considerado um clube de países ricos. Segundo disse há pouco o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, "sendo assim, para Moscovo será muito mais fácil compreender os problemas dos países com economia de transição".

Isto, por sua vez, pressupõe a participação activa da Rússia no debate de um dos principais temas da cimeira de Gleneagles, que é a prestação de ajuda à África, aliviando o fardo da dívida e aplicando para o efeito as normas mais justas de comércio com os países do continente. No âmbito do recente encontro com o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, Vladimir Putin apoiou a sua ideia de perdoar imediatamente as dívidas de 18 países africanos. Mais ainda, verificou-se que Moscovo já anteriormente manifestara idêntica generosidade. Em termos absolutos, no que se refere ao perdão das dívidas africanas, a Rússia figura na terceira posição, cedendo apenas ao Japão e à França.

A população da Rússia encara com compreensão que o país concilie a recepção de ajuda com o papel de doador do continente africano. O concerto Live-8, que teve lugar no sábado passado na Praça Vermelha em Moscovo com a participação de grupos de rock russos como Agatha Kristi e Krasnye Elvisy e de estrelas estrangeiras como Pet Shop Boys, veio manifestar a boa vontade do público local para com os problemas africanos, tal como em qualquer outro show nos outros países dos G-8 ou na África do Sul. Claro que há quem não entenda: "Por que devemos perdoar as dívidas africanas se nós próprios não somos ricos?" No entanto, a maioria pensa que a Rússia tem que ajudar os países que vivem em condições ainda piores.

Ciente de tal apoio, Vladimir Putin aproveitou o 750.º aniversário da fundação de Kaliningrado para acordar em particular com o Presidente da França, Jacques Chirac, e o chanceler da RFA, Gerhard Schroeder, a posição conjunta da assim chamada "Nova Antanta" na cimeira em Gleneagles. O presidente russo voltou a confirmar na conferência de imprensa que a Rússia está pronta a participar nos programas de perdão das dívidas africanas.

Moscovo, Berlim e Paris estão interessados também num outro tema a ser debatido na cimeira de Escócia, isto é, o controlo do cumprimento das cláusulas do Protocolo de Kyoto, destinado a limitar as emissões de gases de efeito estufa.

Segundo disse mais de uma vez Vladimir Putin "temos que trabalhar com os países que ainda não aderiram ao Protocolo de Kyoto". Trata-se em primeiro lugar dos EUA. Washington continua até hoje a justificar a sua posição pela eventual perda de milhões de postos de trabalho e centenas de biliões de dólares em forma de prejuízos, se os EUA assinarem este documento. A tese-chave da Administração de George Bush: "o facto de aquecimento do globo não está cientificamente provado".

Ajuda e serás ajudado. É pouco provável que Vladimir Putin não venha por sua parte a aproveitar a oportunidade de tentar no âmbito da cimeira de chamar atenção dos sete países do G-8 para os interesses da Rússia. O país precisa urgentemente de ajuda das democracias desenvolvidas para diversificar a economia do país da sua demasiada dependência da exportação de petróleo. A Rússia precisa tanto dos sete países do G-8 como estes precisam da Rússia.

Vladimir Simonov observador político RIA "Novosti"

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