Genoino: Esquerda não pode se confinar em gueto

Ao defender a ampla correlação de forças conquistada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Genoino ressaltou que o PT conseguiu construir uma base parlamentar de maioria absoluta sem modificar o programa do partido, sem abandonar os valores do PT e sem praticar o toma-lá dá-cá.

"Construímos uma base parlamentar sem mudar o programa, sem abandonar os valores do PT e sem o toma-lá dá-cá. Temos consciência de que nossos adversários estratégicos serão o núcleo ideológico do PFL e do PSDB. E eles querem um auto-isolamento, mas nós não vamos cair nessa. Nós não governaremos o país só com o PT. Não queremos o gueto da esquerda”, afirmou Genoino.

Segundo Genoino, o desafio do PT é fazer as mudanças sem quebrar a ordem democrática, o estado democrático de direito e, ao mesmo tempo, contando com uma ampla correlação de forças. “Temos um projeto de aperfeiçoamento da democracia, com alianças com forças poderosas que não são petistas. Não temos mais idéia de acumular forças para um dia fazer revolução”, disse.

Juros Em relação a comentários feitos pelo presidente da República em exercício, José Alencar, sobre a necessidade de redução das taxas de juros, Genoino afirmou que o PT confia na condução da política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Existem razões técnicas e econômicas [para a manutenção das taxas de juros em 26,5%], e o Lula está agindo com muita responsabilidade”, respondeu.

Conforme Genoino, a política dos juros não pode ser pensada isolada, mas conduzida de forma responsável, criando-se condições para a redução das taxas. As condições, que, segundo ele, estão sendo perseguidas, são o controle inflacionário, a redução da vulnerabilidade externa, o redirecionamento dos investimentos para o setor produtivo, entre outras medidas.

“No nosso programa de governo está claro que nossas reformas são graduais. Diziam que o país ficaria ingovernável se o PT ganhasse, e nós estamos aqui, governando com responsabilidade, com medidas seguras”, ressaltou.

O presidente do PT lembrou também que o governo Lula herdou da era FHC um cenário de vulnerabilidade externa, de dependência econômica e taxa de juros alta. Segundo Genoino, o atual governo já está criando as condições necessárias para o crescimento econômico ao investir pesadamente nas exportações, redirecionar os investimentos dos bancos públicos à pequena e média empresa e ao reorganizar o setor público na área de infra-estrutura.

Reformas Genoino lembrou que os compromissos em relação às reformas previdenciária e tributária estão contemplados no programa de governo de Lula, apresentado durante a campanha eleitoral, e que a condução da política econômica estava prevista na "Carta ao Povo Brasileiro", documento apresentado pelo PT também durante a campanha.

“Este é um programa para quatro anos. Estamos construindo uma aliança política para ter governabilidade. Não é em cinco meses que vamos realizar todo o nosso programa”, afirmou.

Em relação à reforma da Previdência, Genoino ressaltou que os termos da proposta apresentada pelo governo federal e pelos 27 governadores de Estado já estavam previstos em documentos aprovados pelo PT desde 96. Ele explicou que o texto propõe uma previdência pública universal para os futuros servidores e que, para quem já está no serviço público, mudará apenas a idade de aposentadoria, o tempo de contribuição e a taxação dos inativos que ganharem acima de R$ 1.058,00.

Segundo Genoino, se dependesse apenas do governo federal, o piso para a taxação dos inativos do serviço público seria de R$ 2.400,00. “Mas os Estados estão em uma situação complicadíssima”, disse. Ele lembrou que, na proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo FHC, não havia sido estipulado um piso para a taxação dos inativos.

Unidade de ação

O presidente do PT repetiu que o partido preza e estimula o debate democrático, ao ser questionado sobre a eventual punição de três parlamentares (a senadora Heloísa Helena e os deputados Luciana Genro e João Baptista Araújo, o Babá) que tiveram processo aberto na Comissão de Ética do partido.

Genoino justificou que a decisão da Executiva do partido em abrir o processo baseia-se no Estatuto do PT, que determina unidade de ação. “Os parlamentares extrapolaram o limite da opinião ao agirem contra o governo”, disse. O presidente do partido lembrou que eles recusaram uma tentativa de acordo, em que os parlamentares se comprometeriam, após esgotado o debate, a votar junto com o partido. Mas eles não aceitaram.

Genoino citou ainda uma outra iniciativa de promoção do debate: o seminário promovido pelo PT sobre a reforma da Previdência, um espaço de ampla discussão do qual participaram 900 pessoas, além de outras 20 mil que o assistiram, ao vivo, pelo Portal do PT.

“O PT é partido democrático, plural, as pessoas se manifestam e divergem. Aceitamos opiniões divergentes. Mas não podemos aceitar ações contra o governo porque o PT é o partido de sustentação do governo. É sua viga mestra”, afirmou.

Ele considerou “perfeitamente normal” o fato de 30 deputados do partido terem assinado um documento pedindo mudanças na condução da política econômica do governo. “Acho só que eles fizeram um diagnóstico superficial porque não avaliaram a política econômica do momento”, avaliou.

Eleições 2004 Para Genoino, o povo brasileiro sabe que a capacidade de realização de mudanças tem limite, mas que elas serão feitas dentro dos quatro anos de mandato de Lula. Ele lembrou que uma pesquisa encomendada pelo Planalto apontou aprovação de 78% ao governo Lula. “O país está sentindo segurança, nós estamos caminhando para o crescimento econômico e o povo está otimista. Temos todas as condições de ganhar as eleições municipais de 2004”, prevê.

Ele citou as iniciativas que estão em curso ou que estão prestes a serem realizadas, como a reforma agrária, o programa Primeiro Emprego, a recuperação do setor elétrico e o aperfeiçoamento das agências reguladoras, bem como a credibilidade que o governo Lula tem no exterior, como condições importantes para a redução dos juros e para o sucesso do governo.

Diante de alguns números apresentados por um jornalista, que indicaram baixo índice de investimentos em alguns programas sociais, Genoino pediu as anotações do repórter e afirmou que pretende repassar os dados ao governo. “É preciso melhorar o gerenciamento desses projetos sociais, temos que avançar muito na articulação dos programas”, concordou o presidente do PT. Ele lembrou, no entanto, que o governo anunciou um descontingenciamento de verbas para priorizar as áreas de transportes, social e de energia.

Banestado

Questionado sobre o motivo de o PT não ter apresentado o pedido de abertura de CPI para apurar a remessa ilegal de recursos ao exterior via Banestado, Genoino explicou que, embora o recolhimento e assinaturas para a CPI ter sido feito por uma senadora petista – a catarinense Ideli Salvatti -, o partido avaliou que o governo do PT tem instrumentos suficientes para fazer a investigação, como a Corregedoria Geral da União, e que, por isso, não haveria necessidade de abertura da CPI, para evitar o desvio do foco das investigações.

Na semana passada, no entanto, a bancada do PSDB resolveu apresentar um pedido de instalação da CPI da evasão de divisas. Mas líderes dos partidos no Senado decidiram, por unanimidade, postergar a instalação da CPI até que se concluam as investigações reiniciadas pelo atual governo. A deputada Ideli Salvatti lamentou que a manobra do PSDB tenha desviado o foco dos trabalhos que já vêm sendo feitos na Comissão de Fiscalização do Senado.

José Genoino Presidente Nacional do PT

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