COMENTÁRIO - MANOBRAS ANTITERRORISTAS MUITO DIFERENTES

O início de Agosto coincidiu com importantes acções antiterroristas e não apenas em Atenas, onde em breve começam os Jogos Olímpicos, e não só nos Estados Unidos, onde nestes dias foi anunciado um novo nível de perigo terrorista - cor de laranja, e não em Bagdade, onde, pelos vistos, as forças de coligação já não podem fazer nada com os terroristas.

Para estes dias estão marcadas as manobras tácticas das Forças Armadas da Rússia "Acidente-2004", que irão decorrer no território da Região de Murmansk, perto da cidade de Olenogorsk, e da Organização do Tratado de Segurança Colectiva ("Limiar-2004"), a começar a 2 de Agosto no Cazaquistão, perto da povoação de Kurdai, prosseguindo entre 4 e 6 de Agosto na Quirguízia, perto da povoação de Balykchi e no polígono de Edelweis.

Embora estas duas manobras tenham um carácter antiterrorista aberto, elas diferem bastante tanto pela composição dos participantes e o número de forças envolvidas, como pela sua importância. Nos Estados da Ásia Central serão manobras bastante tradicionais - com o transporte aéreo das Forças de Intervenção Rápida - unidades especiais e destacamentos das Tropas de Desembarque Aéreo da Chechénia e parte central da Rússia para as posições das tropas cazaques, tajiques e quirguizes, a realização de exercícios de estados-maiores, o corte das vias de transporte pelas quais podem seguir terroristas e seus cúmplices, o bloqueio e a posterior destruição das suas bases. Nas manobras em Murmansk serão treinadas acções para rechaçar ataques de terroristas a veículos de transporte de munições nucleares.

Perto de Murmansk será modelada uma situação em que os terroristas irão atacar um comboio automóvel com cargas nucleares, tentando apropriar-se destas armas. Um dos veículos, aquele em que são transportadas as munições, será dinamitado de facto com um engenho explosivo, como se faz habitualmente na Chechénia ou no Iraque. Os terroristas tentarão desviar o contentor com munições, travando um combate com o grupo de protecção. Os atacados serão apoiados por um grupo de reforço aerotransportado que não apenas ajudará a rechaçar o ataque, mas também evacuará as munições do local do combate para uma base técnica.

Este não é o único episódio do "Acidente-2004". De acordo com o plano das manobras, elaborado pelo 12º Departamento General do Ministério da Defesa da Rússia, responsável por todas as munições nucleares no nosso país, serão treinadas também acções de soldados e oficiais para repelir os ataques de terroristas a uma composição ferroviária com uma carga nuclear. Nos exercícios participarão também escafandristas, que terão por missão encontrar um automóvel afundado e retirar dele um contentor com cargas nucleares.

As manobras "Acidente-2004" e "Limiar-2004" diferem entre si não apenas pela seriedade das tarefas colocadas, embora a palavra "seriedade", é claro, seja aplicada aqui condicionalmente - a luta contra os terroristas, tanto nas zonas montanhosas como durante o transporte de munições nucleares é igualmente complexa e importante, mas no último caso, evidententemente, é uma actividade perigosa e politicamente responsável. Talvez por isso para as manobras na Região de Murmansk estão convidados observadores militares dos países da NATO, em primeiro lugar dos Estados Unidos.

Os especialistas da NATO, mesmo aqueles que se encontram na base aérea de Manas, perto de Bishkek, não foram convidados para as manobras no Cazaquistão e Quirguízia, que serão acompanhadas apenas por oficiais do Uzbequistão e da China que, como a maioria dos países-membros da Organização do Tratado de Segurança Colectiva - participantes nas manobras "Limiar-2004", fazem parte da Organização de Cooperação de Xangai. No entanto, um dos objectivos da OCX, uma aliança não militar, consiste em opor-se ao terrorismo internacional.

Por outro lado, o número de efectivos envolvidos nas manobras na Ásia Central não ultrapassará os 1500 e, segundo os acordos internacionais, tal envergadura não prevê a presença obrigatória de observadores militares internacionais. O limite inferior para o convite é de 10 mil efectivos.

Mas a causa da ausência de observadores militares dos países da NATO nestas manobras reside, provavelmente, não apenas no facto de elas não abrangerem um determinado número de militares para convidar especialistas estrangeiros. Não é de excluir que a razão tenha um carácter político-militar. Moscovo, Astana, Bishkek, Dushanbe, Pequim e Tashkent, apesar do crescente perigo terrorista naquela região do mundo (as recentes explosões na capital do Uzbequistão são um novo testemunho desta ameaça), querem ressaltar que são capazes de vencer este perigo sem a intervenção da NATO. Por outras palavras, a NATO deve levar até ao fim a operação antiterrorista no Afeganistão e a Organização do Tratado da Segurança Colectiva e a OCX irão fazer tudo para erradicar o terrorismo na zona da sua responsabilidade.

A situação é diferente quanto à garantia da segurança das armas nucleares russas, bases do seu armazenamento, itinerários de transporte e outras infra-estruturas militares. A direcção do país, o Ministério da Defesa da Rússia declararam reiteradas vezes que as armas estratégicas de dissuasão nacionais se encontram seguramente protegidas, embora o Kremlin nunca tenha recusado o apoio material e financeiro para aperfeiçoar o sistema de protecção destes armamentos. O primeiro vice-ministro da Energia dos Estados Unidos e vice-dirigente da Administração Nacional de Segurança Nuclear, Paul Longsworth, também declarou ao visitar recentemente a Rússia que Moscovo e Washington "fazem os possíveis para que os terroristas não obtenham acesso aos materiais nucleares". Os Estados Unidos já canalizaram para estes objectivos na Rússia mais de 400 milhões de dólares.

Viktor Litovkin observador militar RIA "Novosti"

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