EUA na região do Mar Cáspio e a posição da Rússia

"Os países do mar Cáspio devem chegar a acordo referente à criação das forças de intervenção rápida", declarou o porta-voz oficial do MNE do Irão, Reza Asefi.

A proposta russa teve por objectivo não só a luta contra o terrorismo internacional e outros desafios, mas ainda a prevenção do surgimento de terceiras forças, ou seja, de países que não fazem parte desta região e, antes de tudo, dos EUA, os quais incluíram a bacia do mar Cáspio na zona dos seus interesses vitais. A iniciativa corresponde plenamente aos interesses do Irão. Conseguirão agora a Rússia e o Irão impedir a presença dos EUA no Cáspio?

A ideia de criação de forças de intervenção rápida no mar Cáspio não é nova. Ainda em Agosto de 2002 a Esquadra russa do mar Cáspio realizou manobras, simulando operações de intervenção em casos de atentados terroristas em oleodutos e em outras situações de emergência no território dos países do mar Cáspio.

Um representante altamente colocado da Marinha de Guerra do Irão presente nas manobras avaliou em termos positivos as forças da Rússia, tendo recordado com uma boa dose de ironia delicada o conceito declarado por Moscovo e Teerão de "prevenir a militarização do mar Cáspio". A ironia foi muito oportuna na mesma medida em que o foi o apelo a Teerão e a outros países do mar Cáspio a aderirem à iniciativa russa. Um dos motivos para semelhantes receios foi a recente visita-relâmpago do ministro da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld a Baku.

A visita decorreu em rigoroso sigilo, o que fez logo lembrar a declaração do comandante das Forças da NATO na Europa, general Johns de que os EUA planeiam estabelecer bases militares na zona do mar Cáspio, estando a ser elaborado o programa "Guardião do Cáspio" para os próximos 10 anos. Neste programa os EUA atribuem um lugar especial ao Azerbaijão, como uma região indicada tanto para o aquartelamento de forças de intervenção rápida, como para a solução dos seus próprios problemas, em primeiro lugar no que se refere às suas relações com o Irão.

É notório também um outro facto. O programa dos EUA prevê a formação de destacamentos especiais com tarefas iguais às que tinham sido propostas na altura pela Rússia para as forças de coligação dos países do mar Cáspio: "a reacção imediata em casos de atentados terroristas e em situações de emergência na região". O centro de comando, equipado com os mais modernos radares, será instalado em Baku, estendendo o seu raio de acção a toda a região do mar Cáspio.

De acordo com diversos analistas, já foi obtido o acordo por parte das autoridades do Azerbaijão. A implementação na região do programa dos EUA "Guardião do Cáspio" irá representar a ameaça antes de tudo para os interesses nacionais da Rússia e do Irão. O projecto inclui ainda sistemas de controlo do espaço marítimo e aéreo, passando os EUA a controlar um território enorme.

Moscovo e Teerão, procurando consolidar as forças navais dos países do mar Cáspio nos seus interesses comuns, advogam a não-militarização do Cáspio. Todavia, o Cazaquistão, o Azerbaijão e o Turcomenistão não escondem as suas intenções de modernizar as suas forças navais, área em que os EUA lhes fornecem um apoio activo. Já foi resolvida a questão do fornecimento às forças navais do Cazaquistão no Cáspio de um navio com um deslocamento de mais de mil toneladas.

Com o dinheiro dos EUA foi equipada toda a estrutura militar da linha costeira do Cazaquistão. Os EUA fazem propostas análogas ao Turcomenistão e Azerbaijão. Mais ainda, Washington já elaborou um plano de criação na região de uma união trilateral - EUA, Azerbaijão e Cazaquistão - com a perspectiva de adesão do Turcomenistão, do Uzbequistão e mesmo da Turquia. A iniciativa russa continua a ser debatida apenas nos meios de comunicação social e nada mais.

É pouco provável que todos os cinco países venham a chegar a uma solução que satisfaça todos na questão de "desmilitarização, não-militarização ou militarização limitada" do Cáspio. Prova-o, pelo menos, a questão pendente sobre o estatuto do mar Cáspio, continuando o Irão e o Turcomenistão a não aceitar os entendimentos alcançados entre o Azerbaijão, a Rússia e o Cazaquistão referentes à divisão do fundo do mar.

Há um aspecto que não levanta qualquer dúvida. A fixação dos EUA no mar Cáspio acabará por ser um fracasso incondicional de Moscovo e Teerão nesta região importante para ambos os países.

Piotr Gontcharov Comentarista RIA "Novosti"

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