2003 – Plus ça change, plus c’est la même chose ?

Já lá vão três anos desde o início do terceiro milénio e já estamos bem dentro do século 21. Porém, o mundo fica tão distante da sua Nirvana que esteve há mil anos atrás.

É verdade que populações inteiras tiveram acesso à possibilidade de autopromoção através da alfabetização, no entanto também é verdade que os sistemas de educação, que são supostos a providenciar os suportes para que o indivíduo alfabetizado brilhe na carreira da sua escolha, estão a falhar rotundamente na sua tarefa; há um número ainda bastante assustador de crianças que deixam a escola sem que a educação mínima tenha sida concluída.

Um por cento dos cidadãos nas nossas sociedades são toxico-dependentes, uma estatística que alcance uma porcentagem bem maior na população em geral com os efeitos associados com o fenómeno. Um emprego garantido, uma realidade na União Soviética, é uma noção do passado, pois a obsessão monetarista que varreu o mundo depois de Milton Freedman inventar a teoria nos Estados Unidos se concentra mais no lucro registado na linha de fundo das contas e menos em quaisquer preocupações acerca do bem estar ou sobrevivência do empregado.

Os sistemas de saúde pública estão a ficar uma reminiscência nostálgica, ficando a situação bem clara que se um cidadão quer algo, ou paga, ou não o tem, isso num modelo social em que se paga cada vez mais, por cada vez menos em troca.

Adquirir e manter uma casa é um drama, criar uma família e mantê-la junta é um obra que requer consideráveis recursos pessoais, os quais tem um número cada vez mais reduzido de pessoas. Finalmente, no final da vida, a pensão ou reforma está longe de ser garantida como tal para uma larga parte da população hoje activa.

Numa escala internacional, os que não têm, têm cada vez menos cada ano que passa e os que têm, enriquecem-se mais, a única diferença sendo o aumento do espaço entre países ricos e pobres, o que acontece a uma velocidade assustadora. Os países em vias de desenvolvimento têm as suas economias controladas e presas pelos laços que criaram com instituições internacionais de crédito, enquanto Washington segue cegamente o caminho para conseguir um mundo unipolar, centrado na Casa Branca e o Pentágono, em primeiro lugar, e o departamento de Estado, depois.

A arrogância e a hipocrisia que são as forças que conduzem a política externa dos Estados Unidos da América, controladas que são por um clique privilegiado, que é o grupo de pressão do sector da energia, estrangula o resto do mundo como os tentáculos dum polvo gigante.

No entanto, por muito rijos que estes tentáculos sejam e por desagradável que seja o animal para contemplar, o polvo tem uma barriga mole que nenhuma quantidade de tinta pode disfarçar. Cresce a onda de descontentamento contra um mundo unipolar, cresce a maré de apoio por um mundo multi-polar, centrado em Washington, Londres, Paris, Berlim, Moscovo, Pequim, Brasília, Lisboa, Luanda e Maputo, entre outros, cujo forum de discussão é a Organização das Nações Unidas.

Em 2003 acordam-se novos gigantes. Brasil, há anos a promessa de amanhã, espreguiça-se saindo da seu longo período de letargia e toma os primeiros passos na direcção certa, que é reclamar o seu lugar de direito entre os países que não vivem na sombra das suas verdadeiras dimensões. A Federação Russa do Presidente Vladimir Putin não é mais o homem-sim do Boris Yeltsin. Ambos os países estão a começar uma ofensiva diplomática e humanitária, baseada em acordos de cooperação bilaterais, de boa vontade e de respeito mútuo.

É este o caminho apropriado para o terceiro milénio, é este a alma do século 21. O mundo feudal da hegemonia dos poderosos sobre os fracos pertence à era medieval e como tal, ao passado.

Aos Presidentes Lula e Putin, Um Ano Novo Muito Feliz!

Timothy BANCROFT-HINCHEY Director e Chefe de Redacção Versão portuguesa da PRAVDA.Ru

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