VIAGEM PELO MUNDO EM 2004, parte 5

Chegamos na Suécia (dormimos no ferry-boat porque a viagem da Polônia para Ystad começou às 10 da noite a acabou as oito de manhã no dia seguinte). Logo depois seguimos para Estocolmo, pois queria pegar ainda no mesmo dia o navio para Finlândia e apesar de que a distancia que nos separava da capital sueca ser uns 600 km, não sei por que, sabia que ia consegui fazê-lo.

Chagamos a Estocolmo as 17.30 e o navio para Helsinque já tinha partido. Assim mesmo seguimos para o porto sem saber ao certo se tinha uma outra conexão para Finlândia. Quando nos aproximamos do porto avistei um grande navio e assim que o vi tinha a certeza absoluta que íamos seguir nele. Os fiscais do embarque informaram que o ferry estava pronto para zarpar para Turku na Finlândia e que estava completamente lotado. Eu, porém não, tomei conhecimento do fato e fui pedir ao encarregado, para dar um jeitinho, e nos encaixar de algum modo a bordo. Ele mandou que colocasse o carro numa pequena fila de espera para ver se ocorreu alguma desistência. Fui esperar tranqüilo, pois com o meu pensamento positivo tinha a certeza que íamos embarcar em poucos minutos. E assim foi. Logo fui chamado para efetuar o pagamento das passagens (150 Euros) e poucos segundos depois estávamos subindo pelas escadas para zona dos passageiros do navio.

Como não existem no Brasil as embarcações deste tipo vou descrever como se efetua a operação de embarque. O motorista deve obedecer aos todos os sinais do oficial de embarque e seguir exatamente as linhas e setas desenhadas no chão e nas paredes do navio e também prestar atenção nos sinais luminosos. Quando o carro pára no lugar indicado o chofer tem que acionar o freio de mão e embrear o motor. Os passageiros devem retirar dele todos os objetos que vão necessitar durante a viagem, porque o carro tem que permanecer trancado e não é permitida a entrada dos estranhos nas garagens, que ficam fechadas durante toda a travessia.

Estes navios são, dependendo do movimento de passageiros e de carros, muito grandes. O nosso tinha 10 andares. A maioria dos passageiros fica nos camarotes e alguns ocupam cadeiras reclináveis que ficam nos recintos designados para isso. As pessoas passam o tempo nos bares, restaurantes, nos salões de jogo, dançando ou assistindo show. Ou...fazendo compras no grande supermercado com preços tax-free.

A nossa viagem tinha mais um atrativo: a belíssima passagem entre milhares de ilhas que pululam nessa região do Báltico. A beleza deste lugar é fora do comum, especialmente quando há uma boa visibilidade e nós tínhamos sorte, o sol estava brilhando lindamente. O navio ora se aproximava de alguma ilha ora afastava, ficando de vez enquanto tão perto da costa que pensávamos que podíamos tocar as copas dos pinheiros com as nossas mãos. Chegamos a Turku depois de uma noite não muito bem dormida por causa do ar condicionado que estava funcionando durante a noite toda, quando para nós deveriam ligar o aquecimento!

A cidade está associada a uma triste lembrança do meu passado. Estive aqui em 1970 com a minha namorada e o pai dela, visitando no hospital a mãe dela depois de uma frustrada tentativa de suicídio.

Por isso continuamos imediatamente a nossa viagem para Helsinque. Estava também ansioso para experimentar a minha moderna tenda comprada em Lisboa.

Decidimos ficar no Camping Rastila que eu conhecia desde 1970. Por uma estadia de uma semana pagamos 84 Euros e isso porque o encarregado da recepção lembrava-se de mim e de um desconto-camarada. A colocação da tenda foi muito complicada.A técnica era bem diferente daquela, usada nas tendas de 10 anos atrás.

Ficamos tão confusos, que precisamos aceitar uma ajudinha de um senhor inglês que nos observava divertido a uma certa distancia. O “nosso”camping era de três estrelas e oferecia boas condições para os turistas. Como por exemplo: sauna, restaurante, refeitório com lugares para cozinhar e comer, banho quente, sabonete, Tv a cabo e a fantástica natureza. Ao entrar recebemos dois cartões magnéticos, que nos permitiam a entrada nos principais acomodações do camping.

O verão, nesse ano, 2004, ainda não chegou na Europa, apesar de já estarmos no dia 19 de junho e a chuva cansativa não nos dava grande felicidade. Tirei um retrato no dia 21 de junho, o dia mais longo do ano. Neste retrato todos podem me ver super agasalhado com gorro de lã, mostrando que o verão daqui não é igual ao nosso verão brasileiro.

No camping havia turistas de diversos países nos seus trailers ou moto-homes. Também muitos deles nas tendas. E o que era muito interessante é que a maioria deles viajava nos carros muito caros como por exemplo BMW ou Mercedes, e dormiam em tendas.

Houve uma grande transformação no turismo em camping, pois eles passaram de uma alternativa para os turistas de pequeno poder aquisitivo para uma escolha consciente dos turistas da classe media ou até alta.

Uma constatação de meu primo rico, Eduardo, serve como explicação para este fenômeno. Convidado para viajar no meu trailer, depois de passar alguns dias no seu primeiro camping europeu, por sinal o Monsanto em Lisboa, declarou, que a partir daquela data em adiante, passou a preferir camping aos hotéis de “cinco estrelas”. A razão? Várias! A maioria dos camping é construída no meio da natureza, cercada por bosques de pinheiros ou eucaliptos ou outras arvores quaisquer, sem grandes ruídos incomodativos, ao acordar, podemos ouvir o cantar dos pássaros. Neles não estamos sujeitos a sermos incomodados pelo barulho dos carros circulando porque o transito é proibido entre 22 horas e 6 de manhã. Acrescentando ainda a comodidade para pais com filhos pequenos que podem ser “soltos”e correr e brincar a vontade, pois não existe nenhuma possibilidade de se perderem ou sofrerem alguma agressão. Em muitos casos vi as crianças saírem para passear no camping e só voltarem para os respectivos trailers nas horas das refeições.

Observei ainda outro processo. Durante alguns anos os turistas que viajavam com a tenda eram postos em segundo lugar. Os donos dos camping sempre davam a preferência aos turistas com moto-homes ou trailers dado o poder aquisitivo deles e o seu grau social. Mas ultimamente as coisas mudaram. Especialmente porque os preços que estão sendo cobrados de uns e dos outros estão quase no mesmo patamar.

A outra razão é mais de cunho comportamental. Os ricos não querem mais levar as suas aventuras para um motel, manjado demais pelos conjugues e pela lei. Uma vez presenciei uma sena insólita. Ele num smoking e ela num vestido de baile montando uma tenda, saindo depois para uma festa qualquer e tudo numa discreta movimentação.Voltou a “tenda do amor”! Creio que isso foi uma das razoes para que os preços dos camping subirem tanto, especialmente para as tendas. Coitados dos estudantes em férias, com o bolso sempre vazio! Não têm mais “colher de chá”!

Nos primeiros dias da estadia em Helsinque fomos rever a cidade. O tempo não convidava para andanças longas e por isso usamos muito o metro e bonde. Sempre comprávamos um bilhete válido durante 24 horas e para um grupo de até seis pessoas. Assim o preço era mais acessível, só 8 Euros=30 Reais. Fomos visitar o famoso mercado ao céu aberto no centro da capital. As estantes estavam lindamente arranjadas, mas as verduras e frutas expostas estavam com preços proibitivos para nós, os brasileiros. Por exemplo, um quilo de tomates, 3 Euros, quase 12 Reais! Isso sempre acontece nos paises de grande poder aquisitivo. O povo ganha muito, mais também paga caro por tudo.

Estivemos a procura de um lugar onde podíamos acessar a Internet de graça, porque nos cyber-cafés teríamos que pagar 5 Euros por hora(18 reais). E assim nos lembramos de uma organização cultural para os jovens do mundo inteiro, a “Caissa”, que é financiada pela prefeitura de Helsinque. Lá, fomos recebidos com extrema gentileza e descobrimos que podíamos usar os computadores deles à vontade.

Logo na primeira semana tivemos um encontro muito interessante no camping. Algum tempo antes eu tinha enviado dois e-mails, um para a Noruega e outro para a Finlândia, para os nossos amigos que conhecemos quatro anos atrás. Logo recebi as respostas dizendo que tanto uns como os outros estariam em Helsinque por volta do dia 22 de junho. Assim podíamos rever os nossos amigos. Foi uma coisa até “exótica”. As pessoas de lugares tão distantes fazendo uma reunião num certo sitio combinado e no dia combinado. No encontro participou também um simpático casal russo, ambos músicos. Vou contar como os conheci. Num dia, de manhã ouvi alguém, não muito longe da nossa tenda, tocando muito bem umas bossas-novas brasileiras. Fiquei intrigado e saí à procura do misterioso pianista. Assim deparei-me com um senhor de uns 70 anos de idade, acompanhado de uma senhora com expressão no rosto de uma imensa simpatia. Descobri que eram russos e vieram à Helsinque para ganhar alguns trocados tocando nas praças e ruas movimentadas da cidade. Assim começou uma belíssima amizade. Sempre que o tempo ajudava sentávamos com o casal numa mesa em baixo de imenso pinheiro e cantávamos juntos por horas, canções do mundo inteiro.

Foram eles que animaram a nossa festa – encontro com os nossos amigos escandinavos. Fizemos tanta algazarra, que esquecemos que já eram 11 horas da noite, a hora de silencio e tivemos encerrar a festa antes que alguém chamasse a nossa atenção.

As duas semanas que passamos em Helsinque, foram de espera pelo o convite de Moscou para podermos receber o visto de entrada para a Rússia. Como o convite não chegava nunca, começamos a traçar o plano “B”para a nossa viagem.

Armando Costa Rocha PRAVDA.Ru BRASIL

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