COMENTÁRIO - OLGA SVIBLOVA E O SEU "IMPÉRIO" DE FOTOGRAFIAS

Nas melhores salas de exposições decorrem simultaneamente mais de cinquenta certames fotográficos. Vejamos os nomes de alguns deles. "À procura da identidade" é um projecto do Fundo Nacional de Arte Contemporânea da França. "Coisas indescritíveis" - imagens das cidades da República Checa. "Roma em fotografias desde 1850 até aos nossos dias". "A Fotografia iraniana". E, como é óbvio, uma série de exposições pessoais dos corifeus, entre os quais Antanas Sutkus, Lauren Greenfield, Pavel Glebov, William Klein, Berenice Abbott e outros...

A organizadora do festival é Olga Sviblova, "ditadora da moda" e gerente incansável, directora da Casa da Fotografia de Moscovo. Ela fez com que na capital russa fosse possível exibir as obras dos melhores mestres da arte fotográfica mundial.

O actual "desfile" fotográfico é composto por três "linhas filosófico-conceituais": "A identidade", "A cidade" e "Novas tecnologias". Nos tempos de jovem, Sviblova tinha a sorte de ser aluna do iminente filósofo estruturalista, Iuri Lotman.

À pergunta se "não será demais promover em simultâneo cinquenta certames em diversas zonas da cidade, Sviblova respondeu, citando as palavras do seu antigo professor, segundo o qual "o excesso é um importante sinal de desenvolvimento e de civilização em geral". A ideia é realmente certa quando estamos perante múltiplas prateleiras cheias de livros nas livrarias e de bens de consumo nos supermercados. Um certame moderno, adianta ela, é uma "instalação total e uma tentativa de criar um espaço teatralizado". O problema foi que, a alguns dias do início da Biennale, ocorreu um incêndio no Manej, a maior sala de exposições da Europa, situada no centro de Moscovo.

Mas, quando a realização do festival estava em jogo, Sviblova encontrou forças para salvar a situação. Desta vez, vieram em seu "socorro" cinco grandes museus de Moscovo, entre eles a Casa Central do Pintor, o Museu de Arte Contemporânea e a galeria de Zurab Tsereteli. Por isso, a Biennale foi inaugurada nos prazos previstos.

No ano passado, nos quadros das Jornadas Internacionais de Fotografia, as exposições fotográficas foram visitados por 480 mil pessoas. É um resultado incrível, tomando em conta que Sviblova nunca teve a intenção de atrair espectadores. Antes pelo contrário, as exposições desse género requerem dos visitantes grande esforço intelectual. Por exemplo, Sviblova atreveu-se a mostrar aos moscovitas "as reflexões visuais" paradoxais do filósofo francês Jean Baudrillard. Este ano, ela preparou mais uma surpresa: a exibição das obras de Orlan, que transforma o seu rosto num "palco de operações plásticas" e depois tira fotos, fazendo delas autênticas obras de arte.

Ao mesmo tempo, não se pode acusar Sviblova de snobismo. Para além dos paradoxos biológicos de Orlan, o público poderá apreciar fotos (cenas de trabalho, núpcias, apanha do feno, funerais) tiradas numa aldeia ucraniana onde a vida rural não pára de correr.

Ao lado, realiza-se uma votação interactiva, via telemóvel, pela melhor foto, tendo este projecto sido organizado pelas companhias de telefonia celular Bee Line e Nokia. Os que não têm telemóveis, podem pedir um auscultador emprestado e participar na votação e no concurso de fotos através das câmaras montadas nos telefones. Numa das salas, no meio das numerosas fotos, os visitantes poderão ver, talvez, uma senhora com boquilha e grandes pulseiras. É a própria Olga Sviblova, que conseguiu transformar o seu hobby predilecto em um evento de escala mundial.

Anatoli Korolev, observador político da RIA "Novosti" © RIAN

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