"Ynisiquieralloré": histórias das adolescentes com Aids

 O depoimento das adolescentes de Honduras, Guatemala, Panamá e Colômbia foi recolhido no livro "Ynisiquieralloré", apresentado no 4º Fórum Latino-americano e do Caribe sobre HIV/aids, que terminou na sexta-feira em Buenos Aires após quatro dias de debates.

Com apenas 11 anos, Keren já sente na pele o que é ser rejeitada; Lizzie, de 16, chora sem parar e sofre ao ter de tomar 180 pílulas por mês; Morena, de 17, queria abortar por medo de contagiar seu bebê, e Ouka, de 18, decidiu lutar por todas através da formação de uma rede de adolescentes com Aids.

As quatro meninas fazem parte de um total de mais de dois milhões de jovens que são portadores do vírus da aids no mundo, mas há nelas algo de diferente: decidiram se unir à luta contra o estigma da doença contando suas experiências pessoais.

Keren nasceu com o HIV e aos cinco anos já sabia de que se tratava a doença bem como seus modos de contágio. A princípio, tinha medo de ser rejeitada por seus amigos e, de fato, na escola teve de suportar a discriminação de alguns de seus colegas que a chamavam de "aidética", mas com o passar do tempo as coisas mudaram. Hoje, Keren tem muitos amigos e é tratada como um ser humano "normal".

"Se uma pessoa não tem aids e, mesmo assim, está nos apoiando, me sinto bem, porque finalmente alguém nos entende", declara a menina hondurenha.
Já a guatemalteca Lizzie adora escrever canções e já compôs mais de 50, mas seu sonho é ser cantora e sabe que deve se medicar para poder "ficar bem".

"Muitas pessoas dizem que é chato tomar remédios e realmente só os tomam quando têm dores de cabeça ou de ouvido. Talvez a cada ano, se muito, tomam 20 pílulas. Eu tomo 180 pílulas todo mês", afirma.

A história trágica de Lizzie não se restringe à doença. Sua mãe morreu quando tinha sete anos. Ela então foi separada de seus dois irmãos e enviada a um orfanato, onde soube, pela primeira vez, o que era ser "diferente" dos demais.

"Senti a discriminação na pele com as freiras, que diziam: essa é a sua colher, seu prato, sua xícara e não use os pertences dos outros. Afirmam que a aids se passa com a saliva. Assim, cada vez que espirro, todos se distanciam e dizem que tenho que tomar cuidado", relembra no livro.

Lizzie confessa: "Pensam que uma criança não vai se sentir mal com tal atitude, mas é errado que se fale dessa maneira com qualquer um".

A história da panamenha Morena tem início com o estupro de sua mãe pelo próprio padrasto, quando ainda era criança, e que a contagiou com o vírus da aids.

"Minha mamãe fugiu de casa quando tinha 13 ou 14 anos. Depois, conheceu meu pai e o contagiou. Eu peguei o vírus através do leite materno porque minha mãe não sabia de nada. Morreu aos 19 anos e mais tarde meu pai também morreu. Portanto aos 12 fiquei órfã e tive de viver com a minha avó e o padrasto da minha mãe, que também me estuprou", relata.

Após denunciar o crime, Morena foi enviada a um centro de menores onde conheceu um menino e ficou grávida.
"Eu me dei conta quando já estava nos quatro meses de gestação.
Se tivesse sabido antes teria abortado por medo de contagiar o bebê", relata.

Ouka, a mais velha das meninas, decidiu apoiar todas as pessoas que sofrem da doença e lutar para que sua situação e a de suas colegas não se repita através da criação de uma rede de sexualidade e reprodução dirigida a jovens e mães.
"Os jovens e adolescentes são deixados de lado e temos muitas necessidades.

 Queremos que nos capacitem para podermos dar palestras nos colégios e oferecer uma informação direta e que não seja distorcida", ressalta.

Segundo a menina, "na Colômbia é um escândalo ensinar o uso do preservativo já que dizem que a única coisa que estamos fazendo é excitar o povo" .

Fonte Efe

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