Frantz

A herança mais maligna do capitalismo talvez seja a Primeira Grande Guerra. Ali, não houve nenhuma desculpa para justificar toda aquela matança. Eram, pura e simplesmente, interesses econômicos das grande potências em conflito.  

No seu grande livro, Les Thibault, Roger Martin de Gard descreve todo o clima que antecedeu a guerra, com a traição dos partidos socialistas, que da denúncia das motivações para a guerra, se transformaram, tanto na França como na Alemanha, em defensores de um nacionalismo xenófobo.

Agora, o diretor francês, François Ozon, no filme Frantz, nos relata a persistência desse sentimento num pós guerra em que franceses e alemães continuam se vendo como inimigos, ao mostrar a complexa relação entre um ex-soldado francês e alemã (uma interpretação magnífica de Paula Beer) que perdeu o noivo na guerra.

Quem ainda lembra Casablanca (com Humphrey Bogart e Ingrid Bergmann, de 1942) não esquece a famosa cena em que os militares nazistas estão num bar cantando "Die Wacht am Rhein", e os franceses, em resposta cantam "La Marseillaise". François Ozon retoma essas duas canções patrióticas,primeiro, para mostrar o ressentimento dos derrotados e inconformados alemães e depois para registrar o ardor patriótico dos vitoriosos franceses.
O interessante é que o hino francês, que todos nós acostumamos a ouvir como uma resposta dos oprimidos aos opressores (na Revolução Francesa e na guerra contra o nazismo) aqui é ouvido como o louvor para os novos opressores.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 

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