Paz na Palestina é impossível sem a ação internacional

A prevista "morte" da solução de dois Estados, que já tem sido repetida consistentemente por muitos anos, levou a um sentido de complacência e a uma falta de urgência sobre a situação atual. No governo de Israel, isso não provoca uma grande preocupação, porque a plataforma política da atual coalizão é focada em consolidar a colonização ao invés da busca pela paz.

Por Saeb Erekat*, no jornal israelense Haaretz

Este é um governo que acredita que pode manter indefinidamente um sistema em que um grupo de pessoas é privilegiado e o outro é oprimido.

Entre os israelenses, isso não é uma preocupação central devido ao fato de Israel não estar pagando qualquer preço por suas violações sistemáticas dos direitos humanos e do direito internacional, permitindo ao seu povo ignorar os milhões perseguidos em seu nome.

Mas algo está claro: Nós estamos em um caminho sem volta. Quer alcancemos uma solução de dois Estados baseada nas fronteiras de 1967 ou entremos em uma longa luta por direitos civis para derrotar o apartheid israelense em toda a Palestina histórica, caberá à comunidade internacional decidir.

 

A Palestina reconheceu a soberania israelense sobre 78% da nossa pátria já em 1988. Este compromisso histórico e doloroso não foi uma jogada tática, mas uma escolha estratégica. Trabalhamos incansavelmente para implementar, no terreno, a visão de dois Estados soberanos e democráticos vivendo lado a lado, em paz e segurança. Fizemos todos os esforços para alcançar uma paz justa e duradoura, desde a adoção de métodos não violentos para resistir à ocupação israelense até os passos diplomáticos, dentro da arena internacional, buscando alcançar os direitos palestinos postergados.

 

Aceder a tratados multilaterais também ajuda a Palestina a tomar forma como um Estado amante da paz que respeita os direitos humanos e um ator responsável no cenário internacional. Ainda assim, todos esses passos palestinos têm sido respondidos com ações agressivas de Israel, resultando em uma situação absurda em que os atos como sentar-se à mesa de negociações ou assinar tratados sobre os direitos das mulheres e das crianças são enfrentados com mais anúncios de colonização, com mais violência contra os palestinos e com sanções econômicas a uma economia já cativa.

 

Embora alguns setores dentro de Israel entendam a urgência da situação, a falta de ação internacional decisiva prejudicou aqueles que querem uma solução negociada de dois Estados e empoderou os extremistas que lideram a coalizão de governo israelense. Enquanto não forem tomadas ações nos níveis econômico, político e diplomático, o primeiro-ministro [Benjamin] Netanyahu, o chanceler [Avigdor] Lieverman, o ministro da Habitação [Uri] Ariel e o ministro da Economia [Naftali] Bennett continuarão pelo mesmo caminho, que é o do apartheid e da colonização, ao invés da justiça, da paz e da reconciliação.

 

A União Europeia deu um passo importante ao publicar diretrizes contra o financiamento europeu às colônias. Este é um passo na direção certa, mas há muito mais a ser feito para responder à empreitada colonizadora de Israel, o maior obstáculo à paz. Se a comunidade internacional acredita na solução de dois Estados, ações simples como o reconhecimento do Estado da Palestina; o apoio à adesão da Palestina aos tratados internacionais; a garantia de que companhias internacionais não terão contratos, não investirão e não comercializarão com entidades israelenses que tenham ligações diretas ou indiretas com as colônias; ou, no caso da Europa, pedir aos colonos israelenses que requeiram vistos, impulsionarão a busca pela solução.

 

A realidade do "fim da solução de dois Estados" tem sido refletida no Relatório da Missão de Chefes da UE a Jerusalém Leste e nos relatórios sobre direitos humanos e liberdade de culto do Departamento de Estado dos EUA. Pode ser lida em todo documento produzido pelos órgãos das Nações Unidas e pode ser vista por todo o Estado ocupado da Palestina. A realidade não é um segredo. São necessários, entretanto, mais passos ativos de todos os Estados que sejam terceiras partes [na questão de conflito], passos que possam fazer suas políticas operacionais condizerem com as declaradas e, mais importante, com o direito internacional.

 

É chegada a hora de a comunidade internacional empoderar aqueles dentro de Israel que queiram a paz ao invés da colonização. É tempo de parar de tratar Israel como um Estado acima da lei. Chegou a hora de Israel revogar as dúzias de leis e centenas de políticas que discriminam os cristãos e muçulmanos palestinos. É hora de acabar com a imoralidade dos prolongados exílio e ocupação de uma nação inteira devido à incapacidade da comunidade internacional de responsabilizar Israel pelas décadas de deslocamento forçado, ocupação e colonização.

 

Ao longo dos anos, eu conheci muitos israelenses. Minha crença nas perspectivas de paz foi intensificada, na maior parte do tempo, depois de encontros pessoais. Sinto que muitos israelenses rejeitam a noção de serem, para sempre, ocupantes. Entretanto, seu governo continua evitando a única conclusão lógica. O tempo não pára. Os israelenses estão chegando no ponto em que precisam fazer uma escolha crítica: estão prontos para optar pela solução de dois Estados, ou para abandoná-la de vez? Sou um daqueles que acreditam que uma solução de dois Estados ainda é possível, mas não sou ingênuo. Sem atitude internacional, as perspectivas para uma paz justa e duradoura continuarão escapando.

 

*Saeb Erekat é membro do Conselho Legislativo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e chefe da equipe diplomática palestina nas negociações com Israel.

**Título original: "Paz no Oriente Médio é impossível sem ação internacional"

Fonte: Haaretz

Foto: Chefe da equipe palestina nas negociações, Saeb Erekat. (Issan Rimawi / Flash90)

 

http://www.iranews.com.br/noticia/12289/paz-na-palestina-e-impossivel-sem-a-acao-internacional

Tradução de Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

 

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