Você sabia que na América Latina...

Discretos sobre o sucesso dos governos latino-americanos de esquerda, os grandes meios de comunicação o são igualmente quanto... aos fracassos dos poderes conservadores... Aí incluídos os assuntos de segurança. Em setembro, 43 estudantes foram assassinados quando protestavam contra reformas liberais na educação

por Serge Halimi*

Em tempos de crise, a reeleição em primeiro turno de um chefe de Estado que já cumpriu dois mandatos não é algo assim tão comum. A de Evo Morales, com 61% dos votos, merece então ser destacada. Ainda mais pelo fato de que sua explosão eleitoral intervém num país, a Bolívia, que viu cinco presidentes se sucederem entre 2001 e 2005. E de Morales coroar uma queda na pobreza de 25%, um aumento real do salário mínimo de 87%, a redução da idade de aposentadoria e um crescimento superior a 5% ao ano, tudo isso desde 2006. Como é importante, dizem, reencantar a política, por que não divulgar melhor essas boas notícias? Seria porque elas têm reformas progressistas como explicação e regimes de esquerda como agentes?

Discretos sobre o sucesso dos governos latino-americanos de esquerda, os grandes meios de comunicação o são igualmente quanto... aos fracassos dos poderes conservadores... Aí incluídos os assuntos de segurança. Este ano, por exemplo, cinco jornalistas foram assassinados no México, dos quais um no último mês, ao vivo, em uma gravação de rádio. Atilano Roman Tirado reivindicava com frequência nas ondas hertzianas que oitocentas famílias desapropriadas em razão da construção de uma barragem fossem indenizadas. Uma combatividade fatal em que sequestros, torturas e assassinatos se tornaram moeda corrente, em particular para quem questiona uma ordem social carunchosa e mafiosa.

Em 26 e 27 de setembro, 43 estudantes da cidade de Iguala, no estado de Guerrero, a 130 quilômetros da Cidade do México, protestavam contra reformas na educação de inspiração neoliberal prometidas pelo presidente Enrique Peña Nieto. Quando se deslocavam de ônibus, foram interceptados pela polícia local e levados para um destino desconhecido. Em seguida, foram aparentemente entregues a um cartel da droga, encarregado de executá-los e esconder seus restos em fossas clandestinas. Não paramos de descobrir túmulos desse tipo nestas últimas semanas, por vezes plenos de corpos desmembrados ou queimados. Procurados pela justiça, o prefeito e o chefe da segurança pública de Iguala fugiram.

Depois de abrir o setor energético para as transnacionais, Peña Nieto é bajulado pela imprensa empresarial.1 A França lhe concedeu a grã-cruz da Legião de Honra. Ele será algum dia inquirido por seus admiradores sobre a quase impunidade de que se beneficiam em seu país as forças de polícia e os eleitos corruptos? Contudo, os grandes jornais ocidentais, os intelectuais midiáticos, Washington, Madri e Paris talvez não saibam quais perguntas fazer ao presidente mexicano. Que eles imaginem então aquelas que teriam espontaneamente brotado de seu cérebro se o massacre dos estudantes tivesse acontecido no Equador, em Cuba ou na Venezuela. Ou na Bolívia, a respeito da qual se cochicha sobre o fato de ter acabado de reeleger o presidente Morales.

*Serge Halimi é o diretor de redação de Le Monde Diplomatique (França).

Ilustração: Gabriel K

 

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