A violência é obra da classe dominante

 

A violência é obra da classe dominante

 

NELSON LOMBANA SILVA

Se o povo tivesse clara a origem da violência em Colômbia, certamente assumiria uma postura distinta frente a este fenômeno, saberia determinar quem são os causadores, por que e para quê. E mais: teria clareza sobre a forma de superar este estado e abraçar com donaire a paz com justiça social.

O povo não tem clara toda esta sagacidade, terminando por condenar aos inocentes e absolver aos culpados. Os 10 milhões de colombianos e colombianas que votaram por Iván Duque Márquez certamente estão metidos neste pacote, assim como a imensa maioria de abstencionistas.

Em seu analfabetismo político e prisioneiros dos aparelhos repressivos do Estado, esses colombianos e essas colombianas creem cegamente que os responsáveis pela violência são todos aqueles que protestam e exigem uma mudança de modelo de governo. Assim, os responsáveis pela violência em Colômbia são a guerrilha, os partidos de esquerda, entre eles o Partido Comunista. "O governo nacional nos responsabiliza por todos os males que sucedem em Colômbia. Se chove é culpa da guerrilha, se faz sol é culpa da guerrilha, se os operários saem a protestar nas ruas é culpa da guerrilha", dizia o comandante supremo das FARC-EP, Manuel Marulanda Vélez.

Os sequestráveis deste país, há uns quantos anos, convocaram uma mobilização nacional contra o sequestro, utilizando para isso os meios massivos de comunicação. A impetuosa e desalmada publicidade pôs o país nacional em alvoroço, saindo quase todo a marchar e a rechaçar o sequestro. Se gritava com frenesi a palavra de ordem: "Abaixo o sequestro, abaixo o sequestro".

Parado na rua 19 com esquina quinta na cidade de Ibagué [Tolima], observei detidamente o desenvolvimento da populosa marcha. Imaginava que esta estaria encabeçada pelos "riquinhos" da cidade, porém não foi assim. Era o povo humilde e descalço o que marchava com o punho erguido desafiante.

Me aproximei e abordei um trio de descamisados já com a voz rouca e lhes fiz a pergunta do milhão: "Vocês têm medo de serem sequestrados pela guerrilha?". Os três personagens me olharam assombrados. Um deles, titubeando, me disse: "O sequestro para nós outros seria uma benção, porque asseguraríamos segurança, alimentação e hospedagem".

Me surpreendeu essa resposta. No entanto, lhes respondi: "Estamos de acordo, os que deveriam estar marchando em Colômbia hoje são os verdadeiros sequestráveis. O grupo Santodomingo, Carlos Ardila Lule, o grupo AVAL, os Cacaos de Medellín etcc". "Esses filhos da puta se mantêm mais escondidos. Quem vai sequestrá-los?", me disse um deles, enquanto avançava, sob uma lua de sol esplêndida para as 11:00 da manhã.

O povo ama suas cadeias? Não, não as ama, o que sucede é que está totalmente alienado, desinformado e atemorizado. O poder repressivo do Estado capitalista é brutal, selvagem.

A verdade é que a classe dominante, para se sustentar ali, deve recorrer à violência, ao terrorismo de Estado. O mesmo que sucedeu com a religião católica: foi imposta a sangue e fogo. Os espanhóis, ao chegarem a América a 12 de outubro de 1492, eles traziam a bíblia e nós outros tínhamos a terra e, num abrir e fechar de olhos, eles se apoderaram da terra e nós da bíblia, relata muito bem Eduardo Galeano.

A burguesia vai contra a natureza humana. O ser humano não pode viver só, é um animal sociável por natureza, disse Aristóteles. O capital é uma atividade coletiva. Por que, então, os lucros não são também coletivos? E mais: o único que produz é o operário, o trabalhador. Na realidade o patrão é um parasita, não produz. Então, por que tem que ficar com a melhor fatia?

Se o povo tivesse liberdade para se fazer estas elementares reflexões, com toda certeza o rumo da sociedade colombiana seria outro totalmente diferente. Um país tão rico como a Colômbia, por que milhares e milhares de crianças morrem anualmente de fome física? Por que o desemprego? Por que ricos tão exageradamente ricos e pobres tão exageradamente pobres? Por que tantas crianças não podem ir à escola, ao colégio, à universidade?

Essa realidade, habilmente disfarçada e adormecida com o Valium midiático e a religiosidade, é a causadora da violência, porém não por si mesma, senão que pelo acionar criminal da classe dominante. Ela é a responsável pela violência em Colômbia. O quadro tem sido desolador. A história colombiana fala de nove guerras civis de grande magnitude e oito de menor intensidade, segundo o professor José Ramón Llanos.[i]

O Tolima foi brutalmente açoitado por estas. O professor Llanos assinala: "Rafael Pardo traz o seguinte balanço dos resultados da violência no Tolima: "Só no Tolima o governo estadual estimou que até 1957 foram abandonadas 93.800 propriedades rurais, se perderam 405 mil cabeças de gado vacum; 57 mil equinos, 57 mil porcos, foram destruídas e incendiadas 34 mil casas de morada e 13 mil construções de outro tipo".[ii]

Quem são os responsáveis por este quadro tão desolador e desesperador? A classe dominante. Nos dividiu entre vermelhos e azuis e nos mandou à guerra, com o único propósito de que não frutificassem as ideias socialistas de Gaitán. Bem disse o escritor William Ospina: A violência dos cinquentas foi entre liberais pobres contra conservadores pobres.

Uma vez se dessangra o país, essa pútrida classe dirigente regressa ao país e monta a Frente Nacional, toma a nação como uma vulgar torta e a reparte por partes iguais, durante 16 anos. O que essa oligarquia não fez contra o povo... De igual maneira, se decidiu que o poder é exclusivo de famílias: primeiro foi presidente Alfonso López Pumarejo, mais tarde seu filho, Alfonso López Miquelsen; primeiro foi presidente Misael Pastrana Borrero, mais tarde seu filho, Andrés Pastrana Arango; primeiro foi Eduardo Santos, depois Juan Manuel Santos Calderón e assim sucessivamente. Com razão disse o escritor costumbrista Álvaro Salom Becerra: "Ao povo nunca lhe toca".

Eles são os responsáveis diretos pela violência em Colômbia com o aval dos Estados Unidos, naturalmente. A incrementa e a degrada na medida em que um amplo setor do povo começa a entender a sagacidade. Torna-a mais agressiva e temerosa, junto à corrupção em todas as suas formas e manifestações, onde o caso Odebrecht é apenas um exemplo. Já há pelo menos 8 milhões e 40 mil compatriotas que não engolem por inteiro e fizeram cair com o véu obscuro e enganador. Se viram dando conta de quem é o responsável pela violência em Colômbia, por que e o mais importante: como superá-la. Os processos seguem seu curso e o segredo para que avancem é a unidade, a organização e a mobilização das massas. Não há outro caminho.

 

Tradução > Joaquim Lisboa Neto

 

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