Russos recordam Brezhnev

Foi há 20 anos que faleceu o antigo líder soviético Leonid Brezhnev mas, naturalmente, o seu nome continua ligado a muitas das boas e más memórias dos russos, pois a última parte dos 18 anos do seu consulado como Secretário-Geral do Partido Comunista fez a economia soviética escorregar.

Quando em 1985 Mikhail Gorbachov lhe sucedeu, os anos de Brezhnev foram chamados “a era da estagnação”. Actualmente, Brezhnev não reconheceria Moscovo pois a sociedade cinzenta a que presidiu foi substituída por um capitalismo colorido, dinâmico e por vezes até impetuoso. Apesar dessa enorme transformação muitos russos mantêm-se nostálgicos pela lei e pela velha ordem da União Soviética da era Brezhnev, esquecendo que ele se tornara um homem doente e uma figura de escárnio, além de que teve dois ataques cardíacos nos seus últimos anos, um facto que só a política de "glasnost" de Gorbachov abertura e degelo nas relações Este-Oeste – veio revelar no fim da década de 80.

Numa visita que em 1980 efectuou à então república soviética do Azerbaijão, Brezhnev comentou que era bom estar de volta ao Afeganistão e, alguns meses antes, tinha enviado o exército soviético para aquele país, numa operação militar mal planeada que se arrastou por quase 10 anos e que eliminou um décimo da população afegã.

Sublinhava na altura que o exército soviético era o maior e o melhor à escala mundial, preparado para um eventual choque com a NATO na Europa Central, mas a realidade demonstrou que esse exército estava inadequadamente preparado para uma intervenção num conflito de baixa intensidade contra a guerrilha afegã. Porém, o pior e mais grave legado de Brezhnev foi o facto de ter permitido que a União Soviética tivesse escorregado para a degradação económica, para a pobreza e para o desprestígio internacional ou até algum tipo de humilhação após a sua morte, devido à inabilidade da liderança do Partido Comunista em aceitar reformas.

Brezhnev foi substituído por outro homem doente, Yury Andropov. Viveu apenas até Fevereiro de 1984 e o seu sucessor, Konstantin Chernenko, estava também doente. Só em Março de 1985, após a sua morte, é que a liderança soviética enfrentou o enorme desafio de modernização que tinha pela frente e nomeou um Secretário-Geral mais novo e mais enérgico: Mikhail Gorbachov.

A pergunta é pertinente e mobilizadora para os especialistas da ciência política ou da economia: teria a União Soviética sobrevivido se as reformas ao seu sistema em desagregação tivessem sido tentadas mais cedo?

Nunca teremos uma resposta definitiva, mas não é descabido dizer que as origens do colapso da União Soviética em 1991 podem ser localizadas na estagnação política e social que Brezhnev não viu, não quis ver ou a que não foi capaz de reagir.

Luis MACIEL PRAVDA.Ru LISBOA PORTUGAL

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