O DESTINO DA OTAN ESTÁ NAS MÃOS DA RÚSSIA

Mesmo nos dias que correm, há na Rússia várias camadas da população que continuam a considerar a OTAN como um bloco hostil. Contudo, por mais estranho que pareça, a actividade da Aliança Atlântica vai proporcionando cada vez mais argumentos aos críticos deste bloco político-militar.

Durante bastante tempo, os adeptos da democracia na Rússia utilizaram a tese de que a OTAN não é um bloco agressivo, confirmando as suas ideias com o facto de as Forças Armadas da OTAN não estarem em condenses de lançar um ataque de surpresa. A decisivo sobre o início das operações militares deve ser precedida por debates nos Parlamentos dos 16 países membros do bloco (nessa épocas, a Hungria, a Polónia e a República Checa ainda no faziam parte da OTAN). Mas este princípio caiu por terra em 1995 quando a aviação norte-americana atacou as posições dos servimos bósnios, procedendo aos bombardeamentos sem quaisquer discussões previas.

А primeira vista, o futuro deste bloco político-militar apresenta-se bastante optimista. Na OTAN foram admitidas a Hungria, a Polónia e a República Checa. Espera-se a entrada de novos candidatos а admissão. Tudo indica que a Ressica já não estará em condições de fazer nada para impedir o alargamento do bloco. Por outro lado, pode-se afirmar que o alargamento da Aliança Atlântica foi um dos maiores erros da diplomacia dos EUA e da Europa Ocidental. Nesta nova conjuntura, os ideólogos da OTAN afirmam que a aliança mudará de aspecto tentando multiplicar as suas características mais positivas e atraentes. Apesar disto, há ainda muitas dúvidas relacionadas com o futuro da Aliança Atlântica.

A tragédia de 11 de setembro pôs a nu varias tendências a que anteriormente no se tinha dado atenção. Por exemplo, os ataques terroristas revelaram com toda a clareza o fiasco absoluto de todas instituições de segurança nacionais e internacionais existentes, nomeadamente a Aliança Atlântica.

Assistiu-se a algo paradoxal. A OTAN foi constituída na qualidade de bloco destinado a proteger os países europeus com a ajuda dos Estados Unidos. Na realidade, aconteceu que os EUA, apesar de todo o seu poderio, não conseguiram garantir até a segurança dos habitantes de Manhattan, para não falar já a dos europeus. Por mais paradoxal que parecesse, Bruxelas estava disponível a ajudar Washington. Pela primeira vez na história da OTAN foi aplicado o 5.є Artigo da Carta da Aliança Atlântica а qual se recorre, na qualidade de resposta colectiva do bloco, caso um dos seus membros seja atacado. Contudo, a aplicação deste artigo não foi uma tentativa dos EUA de defender a Europa, mas, antes pelo contrário, um esforço desenvolvido pelos europeus para auxiliar a América. Aconteceu que a OTAN se mostrou totalmente inútil e visto que esta organização não foi criada para combater as ameaças e os imperativos da segurança moderna.

Há ainda recentemente, poucas pessoas podiam imaginar que os Estados Unidos iriam combater os "taliban" em conjunto com a Rússia, o Irão e o Paquistão. A Grã-bretanha também participou na operação militar no Afeganistão, por possuir uma rica experiência de guerras coloniais mas não por ser membro desta organização atlântica. Os Estados Unidos rejeitaram a ajuda da OTAN cujas divisões blindadas e aéreas teriam sido totalmente inúteis nas condições do Afeganistão.

Nessa nova conjuntura, os EUA preferem actuar sozinhos, sem pedir ajuda nem às organizações internacionais, nem aos seus aliados na Aliança Atlânticas. A América chegou а conclusão que dispõe de forças e de determinação suficientes para concretizar quaisquer planos recorrendo ao uso da força militar. Os peritos internacionais julgam que se trata de um grande erro porque mesmo uma potência super poderosa, como são os EUA, não está em condições de acabar, sozinha, com o terrorismo internacional.

Se os Estados Unidos começarem a duvidar a sério da necessidade da Aliança Atlântica, esta tem poucas hipóteses de sobreviver. Até numa eventual operação contra o Iraque, os Estados Unidos, pelos vistos, tentarão utilizar apenas os países cuja ajuda será mesmo indispensáveis para Washington, estando fora da questão a utilização das forças da OTAN. Como se vê, a procura duma nova missão veio a ser a questão da vida ou de morte para a OTAN, que, com a desintegração da URSS e o desaparecimento do Pacto de Varsóvia perdeu o essencial - o inimigo. Por conseguinte, deixou de existir a necessidade para que tinha sido criado. Para um bloco político-militares, trata-se de um autêntico desastre.

Actualmente, fala-se muito, em Bruxelas, sobre a necessidade de elaborar uma nova doutrina da OTAN, prevendo-se que esta poderia concretizar tarefas completamente novas, inclusive combater o terrorismo, a delinquência organizada e o tráfico de narcóticos e impedir a propagação de armas de extermínio em massa. Contudo, as novas missões exigem muito tempo e grandes verbas. Por outro lado, hб no mundo problemas que a OTAN й incapaz de resolver por força da sua estrutura específica.

Na minha opinião, o futuro da Aliança Atlântica não tem nada a ver com o número dos seus novos membros, mas sim com a capacidade de elaborar um modelo moderno e realista das relações com a Rússia. Neste caso, a Aliança terá uma nova missão importante, isto é, a edificação conjunta dum sistema de segurança europeia. De todos os modos, as questões da opinião pública vieram a demonstrar que os russos já não consideram a OTAN como uma organização perigosa, como o era nos tempos soviéticos. Este bloco político-militar perdeu a sua enorme importância política. Na Rússia, há cada vez mais pessoas que no encaram a OTAN como uma ameaça, embora continuem a não entender por que razão o bloco se vai aproximando, com tanta persistência, das fronteiras russas. Ao meu ver, Bruxelas tem a obrigação de tomar a consciência de que a Rússia se vai transformando, para a OTAN, não só em parceiro, mas também em tábua de salvação.

Serguei KONOVALOV, Presidente do Instituto de Análise Estratégica RIA "Novosti"

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