RUSSOS ADOPTAM TRADIÇÕES DE ANO NOVO DE MUITOS POVOS DO MUNDO

Na Rússia enraizaram-se também tradições vindas do Oriente como, por exemplo, o calendário chinês e os horóscopos, e do Ocidente os costumes relativos à celebração do Natal. Na Rússia são fortes também as reminiscências do passado pagão dos eslavos. Nos tempos remotos os eslavos adoravam o Sol, relacionando com ele as esperanças de boas colheitas e a prosperidade. Por isso, entre a população conservaram-se algumas crenças ligadas aos fenómenos da natureza. É impossível também imaginar a festa do Ano Novo sem as tradições próprias do período soviético.

O czar russo Pedro Primeiro, desejando que a Rússia comemorasse o Ano Novo tal como na Europa civilizada, promulgou um decreto segundo o qual o ano começava em Janeiro e não, como até aí, em Setembro (de acordo com o calendário litúrgico). Portanto, a Rússia celebra a passagem do Ano Novo a 1 de Janeiro desde 1700. Na mesma época foi introduzido o costume de enfeitar as casas com ramos de abeto mas só nos fins do século XIX as árvores de Natal passaram a ser o principal enfeite nas casas urbanas e rurais em toda a Rússia.

Na Rússia o Natal ortodoxo é festejado a 7 de Janeiro. No entanto, as tradições vindas do Ocidente, onde o Natal católico é comemorado a 25 de Dezembro, propagam-se também na Rússia. Isso nota-se especialmente nas cidades onde no fim de Dezembro já reina um ambiente festivo: acende-se a iluminação de Natal, nas montras das lojas aparecem árvores de Natal, nos centros comerciais reina a azáfama geral das compras.

Na véspera do Natal e do Ano Novo na Rússia havia o hábito de cantar as janeiras. Jovens e crianças andavam de casa em casa cantando canções e lengalengas, propondo adivinhas e pedindo guloseimas. Os donos recebiam os foliões com alegria e davam-lhes de bom grado doces e pasteis. A grande atenção dispensada às crenças remontava às antigas tradições pagãs dos eslavos. Por exemplo, na altura do Ano Novo, as raparigas gostavam de praticar adivinhação. Considerava-se que nesta altura a natureza dava às pessoas sinais para as ajudar a orientar-se bem na vida. Existiam múltiplas crenças pagãs relacionadas com o estado do tempo, do qual dependiam as futuras colheitas. Se no Ano Novo a temperatura não era muito baixa ou o céu estava estrelado, tudo isso prometia uma colheita abundante. Havia também crenças das quais até dependia o destino das pessoas. Na manhã de 7 de Janeiro podia-se perguntar a uma pessoa querida: "Tu amas-me?" E esta não podia mentir, pois considerava-se que a terra levaria consigo o mentiroso. A 7 de Janeiro era possível libertar-se de um amor não correspondido. Para isso era necessário incandescer uma pedra e lançá-la à água gélida. E no momento em que a pedra se fragmentava o sentimento que martirizava a pessoa deixava-a. Se no Natal fazia sol, significava que todas as forças malignas se escondiam nos cantos da casa, e a sua dona devia expulsá-las passando pelos cantos com a vassoura molhada em água fervida com urtigas.

Depois da revolução de 1917, as festas do Natal e Ano Novo foram abolidas na Rússia. No entanto, o povo continuava a comemorá-las em casa mesmo que sem o anterior brilho. Foi, possivelmente, naquele período que surgiu a tradição de celebrá-las à mesa. Desde então o Ano Novo é considerado na Rússia como uma festa preferencialmente familiar e doméstica. Quando a mesa já está servida e todos estão presentes, é ligado o televisor, participante indispensável das solenidades de Ano Novo. Nessa noite, é já tradição a habitual mensagem de Ano Novo do Presidente do país. No momento em que o carrilhão da torre do Kremlin dá as badaladas da meia-noite é costume pensar num desejo, que obrigatoriamente se realizará. Uma parte igualmente inalienável da festa do Ano Novo é a exibição pela televisão do filme de culto "Que lhe aproveite o banho!" do realizador Eldar Riazanov. Na noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro ele é projectado a diversas horas por diversos canais de televisão. Quem deseja saber como na Rússia é comemorada a passagem do Ano Novo basta assistir a este magnífico filme.

As comidas servidas na Rússia para comemorar esta festa são uma prova bastante difícil para o estômago. Claro que actualmente é impossível enumerar todos os pratos que costumam ser colocados na mesa. Mas também aqui existem tradições inabaláveis. A mesa de Ano Novo não passa, via de regra, sem as postas de arenque cobertas com vegetais e maionese, assim como sem salada de caranguejos, salada Olivier, esturjão, caviar e champanhe. A propósito, antes de pôr o champanhe na mesa, é necessário arrefecê-lo até 6 a 8 graus e deitá-lo em taças arrefecidas para que a espuma não transborde. Mas é absolutamente impossível imaginar a mesa russa sem boa vodca. A variedade e a abundância gastronómica faz com que seja aconselhável acompanhar as bebidas fortes com diversas iguarias. O costume russo de comer legumes em conserva depois de beber vodca tem a sua justificação. Estes produtos contêm sais e minerais que dissolvem o álcool no organismo. Se o consumo de bebidas for excessivo, não é conveniente tomar aspirinas. O medicamento eliminará, possivelmente, a dor de cabeça, mas só agravará o estado geral do organismo.

Os russos não são particularmente supersticiosos, mas manifestam um interesse quase pueril pelas crenças relacionadas com a passagem do Ano Novo segundo o calendário chinês. De acordo com este calendário, 2004 é ano do macaco. Os macacos vivem em bandos, portanto, não obstante o crescimento dos divertimentos sociais, a família será este ano o principal valor. E não se esqueçam ainda que o planeta de 2004 é Vénus cujo número é o 6. O mesmo número é constituído em soma dos algarismos do ano. Por conseguinte, a principal preocupação deste ano será tudo que está relacionado de algum modo com o amor. Vénus é a protectora de quem não poupa dinheiro quando se trata do amor e tem bom gosto ao gastar dinheiro. A entrada do Ano Novo deve ser comemorada com trajes de cores verde, azul e azul claro. E na mesa festiva devem haver obrigatoriamente pratos com um sabor ácido e cheiro bastante expressivo.

No dia 7 de Janeiro comemora-se o Natal ortodoxo, muitas tradições do qual não diferem do Natal católico.

A série de festas é encerrada na Rússia pela comemoração da passagem do Velho Ano Novo (segundo o calendário juliano), no dia 14 de Janeiro. Neste dia costuma-se fazer visitas e felicitar os amigos.

Os russos não são conservadores. Apesar de muitos deles preferirem comemorar a festa do Ano Novo em família, há quem goste também passar esta noite fora de casa. Os jovens gostam de reunir-se em grandes e buliçosas companhias, fazer visitas ou comemorar esta festa nos restaurantes. Algumas pessoas celebram a chegada do Ano Novo na Praça Vermelha, no centro de Moscovo. Nesta noite as ruas da capital há muita gente e reina a alegria. Os russos apreciam as festas e depositam especiais esperanças no Ano Novo. Todos, sem distinção de idade e condição social, esperam que neste dia aconteça um verdadeiro milagre.

Maria Tupoleva observadora da RIA "Novosti"

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