Eleições na Chechenia

Antecipadas porque a 9 de Maio deste ano faleceu o Presidente Ahmad Kadyrov, vítima dum acto bombista e inimigo intransigente dos separatistas chechenos e dos terroristas wahhabitas que pretendem por todos os meios transformar a Chechénia no seu reduto na região do Cáucaso do Norte.

Ahmad Kadyrov não era um simples condutor da política de Moscovo na Chechénia como o procuram apresentar certos observadores e analistas. Era também líder e porta-voz duma parte significativa dos chechenos que se pronunciam a favor da existência pacífica da república dentro do Estado Russo. Além disso, Ahmad Kadyrov tinha apoio dos antigos comandantes de campo que renunciaram voluntariamente à luta armada contra a Rússia seguindo o exemplo do próprio Kadyrov. Como líder respeitado e prestigiado, o Presidente sustentava, na medida considerável, toda a estrutura política que assegurou à Chechénia vários anos da vida pela fórmula "nem paz, nem guerra".

Já passados mais de três meses desde aquele momento trágico, torna-se óbvio que a morte do dirigente não produziu alterações substanciais na correlação das forças na Chechénia e em torno dela. Moscovo defende que a regularização política na Chechénia deu-se por concluída em linhas gerais e dá respostas negativas e categóricas às propostas de travar conversações políticas com o cabecilha dos separatistas chechenos, o ex-presidente da Chechénia Aslan Maskhadov.

Em Moscovo reiteram que essas conversações poderiam ser viáveis só com a condição de Maskhadov depor armas e reconhecer a soberania russa sobre a Chechénia.

Reprimir o separatismo era principal tarefa política que as autoridades russas se propunham na Chechénia por quase uma década. E esta tarefa foi retirada da agenda em Março de 2003 depois de os chechenos votarem no referendo a favor da sua Constituição sagrando que a Chechénia faz parte inseparável da Rússia.

Agora o objectivo político estratégico de Moscovo consiste em fazer da Chechénia uma unidade administrativa e territorial da Federação Russa com direitos e competências iguais que têm outras vinte repúblicas integradas na Rússia. Portanto as eleições de 29 de Agosto proporcionam uma boa possibilidade para isso. E o que é sumamente importante para determinar o vector político principal da evolução dos acontecimentos é que as próximas presidenciais vão decorrer em rigorosa conformidade com a nova Constituição da república. Mais uma observação interessante: o favorito destas eleições é o general da Milícia (na Rússia, Polícia de Segurança Pública - N. do Tr.), Alu Alkhanov, cujas simpatias pró-Moscovo são ainda mais acentuadas em comparação com as de Ahmad Kadyrov. O general nunca se ligou aos separatistas - antes pelo contrário, distinguiu-se em combates contra eles ainda em 1996 quando Ahmad Kadyrov ainda era partidário de Aslan Maskhadov. É difícil supor que Alu Alkhanov vá exigir do Kremlin alguns privilégios políticos para a república como o fazia Kadyrov que concordava com Moscovo o projecto de acordo sobre a delimitação dos poderes e competências no qual a Chechénia se apresentava, juntamente com a Rússia, como uma parte soberana do diálogo.

O programa eleitoral de Alu Alkhanov é focalizado por excelência nas questões políticas e económicas expressamente relacionadas com a reconstrução da república devastada na sequência da longa guerra. O candidato à Presidência propõe-se conseguir o consentimento de Moscovo para criar na Chechénia uma zona franca com vista a minimizar a tributação e impostos alfandegários, ser mais independente na gestão das receitas provenientes da exploração dos campos petrolíferos da na república.

Se bem que a política do Presidente Vladimir Putin seja orientada para uniformizar legislações regionais e consolidar o regime único nacional jurídico e económico, pode-se conjecturar que as iniciativas de Alu Alkhanov terão acolhimento no Kremlin, mesmo que seja em parte. Cumpre aqui dizer que o Governo russo vai acompanhar com especial atenção o desenvolvimento da economia chechena. Pois em contrário, a regularização chechena não se moverá do ponto morto em que permanece agora.

Sucede que nos últimos 10-15 anos a república Chechena ficou à margem de impetuosos processos económicos que se desenvolviam por toda a Rússia. As reformas económicas não foram levadas a cabo, a privatização ficou no papel, as relações características à economia de mercado não existem sequer em forma embrional. O tempo foi perdido e cumpre agora recuperá-lo - isto é, incluir a sociedade chechena o mais depressa possível no desenvolvimento económico geral do país sendo isso mais um mecanismo que permite opor-se com eficácia ao terrorismo, ao mundo do crime, aos ânimos separatistas na república.

Tal como Ahmed Kadyrov, Alu Alkhanov aponta com toda a razão que a elevada taxa de desemprego na república que abrange quase 70 por cento da população, é um caldo nutritivo para o terrorismo, para a propaganda agressiva da doutrina wahhabita divulgada por emissários árabes.

É verdade, segundo inquéritos sociológicos o prestígio e a autoridade do candidato entre o povo checheno são inferiores em relação aos que tinha Ahmad Kadyrov. Portanto não se exclui que este factor poderá ter repercussões sobre a eficácia do seu trabalho na fase inicial. Todavia, pelo prisma da regularização da situação na Chechénia esta falta de autoridade pode ser um factor desfavorável a Alkhanov.

O Presidente Kadyrov aliciava activamente para o seu lado antigos combatentes separatistas, devolvia-lhes armas e alistava na sua guarda que, a propósito, era dirigida pelo filho do líder. Este processo durou anos e salvou muitas vidas, contribuiu para a reintegração social destes elementos, preservou muitos chechenos do envolvimento nas hostilidades. Embora o candidato declare ser adepto da política de Kadyrov nesta questão, não está bem claro se será a sua política tão eficiente como a do antecessor.

É importante ter em conta que os líderes separatistas já explicitaram as suas atitudes com as próximas presidenciais. Não as reconhecem do mesmo modo que não reconheceram as anteriores nas quais venceu Ahmad Kadyrov. Porém, se há anos os Estados Unidos e a Europa Ocidental vinham insistindo que Moscovo entrasse em diálogo político com o líder dos separatistas, Aslan Maslhadov - e isto dava-lhe trunfos de peso nas conversações com o Kremlin, - agora temos depois desta tempestade a bonança. Em parte isso tem a sua explicação na política dinâmica do Presidente Vladimir Putin para a aproximação do Ocidente, em parte no envolvimento dos EUA nos assuntos iraquianos e da Europa Ocidental no alargamento da União Europeia, nos problemas relacionados com as relações transatlânticas.

Fosse como fosse, actualmente a regularização chechena apresenta-se como assunto meramente interno da Rússia sendo a sua dinâmica dependente da compreensão e cooperação entre Moscovo e Grozny - em outras palavras, com o novo Presidente checheno a ser eleito a 29 de Agosto.

Yuri Filippov observador político RIA "Novosti"

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