COMENTÁRIO - ESTAÇÃO ESPACIAL INTERNACIONAL À BEIRA DE CATÁSTROFE FINANCEIRA

Apesar do lançamento bem sucedido da nave modificada Soyuz TMA-3 no dia 18 de Outubro e do acoplamento automático não menos bem sucedido com o complexo orbital, esta expedição, ao que tudo indica, enfrentará dificuldades que os próprios tripulantes não estarão em condições de superar. "A situação no que concerne ao financiamento do programa da EEI é catastrófica" - declarou Yuri Semionov, director do consórcio aeroespacial Energuia, responsável pela construção das naves espaciais russas.

Nas vésperas da partida da expedição, Nikolai Zelenstchikov, vice projectista-geral da Energuia, declarou que a sua empresa, que constrói os cargueiros automáticos Progress, tomou a decisão de adiar o lançamento da próxima nave de carga, marcado para Novembro, até Janeiro de 2004. "Actualmente não existe necessidade urgente do seu lançamento. Na estação há uma reserva suficiente de víveres, combustível e água, de modo que podemos adiar o lançamento" - declarou Zelenstchikov.

Literalmente algumas horas antes desta declaração, Nikolai Moisseiev, vice-director-geral da Rosaviakosmos (Agência Aerospacial da Rússia), disse que o encontro dos chefes das agências espaciais dos países parceiros do programa da EEI, planeado para domingo, não se realizaria. "Não vejo necessidade de gastar um dia inteiro para debater todos os problemas que já resolvemos no processo de trabalho" - especificou Moisseiev.

Parece que estas duas declarações estão interligadas. Em todo o caso, reflectem o principal problema da EEI, isto é, a falta de acordo entre a Rússia e os EUA sobre o financiamento do programa.

No entanto, se o cancelamento do encontro entre a Rosaviakosmos e a NASA pode ser formalmente explicado sem mais comentários, pois o chefe da Rosaviakosmos, Yuri Koptev, adoeceu e foi hospitalizado, o caso do adiamento do lançamento da Progress é muito mais complexo.

Seja como for, a principal causa do adiamento do lançamento é financeira. "Não recebemos o dinheiro prometido este ano. Por isso - salienta Zelenstchikov na mesma declaração - a nossa organização não tem possibilidades de continuar a trabalhar gratuitamente". Por outras palavras, já ninguém construirá novas naves sem pagamento.

Podemos compreender a direcção da Energuia. "O dinheiro prometido este ano" não foi entregue nem pelo governo americano nem pelo governo russo, embora tivessem sido feitas as respectivas promessas.

Já nos meados de Fevereiro de 2003, ou seja, logo depois do desastre do vaivém americano Columbia, quando já se tornara evidente que todo o peso do abastecimento da estação espacial recairia durante muitos anos exclusivamente sobre os ombros da Rússia, os representantes da NASA pediram à Rosaviakosmos que no fim do ano assegurasse o quarto lançamento suplementar da Progress, que devia realizar-se em Novembro. Deste pedido podemos tirar a conclusão de que se já no início do ano os americanos planeavam um lançamento suplementar, nem tudo está bem no que concerne ao abastecimento da estação, apesar da declaração de Zelenstchikov. Aliás, este ano a parte russa realizou honestamente, já no limite de suas possibilidades, três lançamentos planeados dos cargueiros Progress. E estava pronta para efectuar o quarto. Tanto mais que a NASA prometia pagá-lo.

No entanto, os EUA não efectuaram qualquer financiamento, baseando-se mais uma vez na chamada emenda de Guilmor, que proíbe prestar assistência financeira ao programa espacial russo porque a Rússia coopera com o Irão no domínio das tecnologias nucleares.

Mas em Moscovo também existem problemas de carácter financeiro. É que a 3 de Abril de 2003 o Governo russo determinou por uma deliberação especial transferir o financiamento do terceiro e quarto trimestres da EEI, no total de 1,3 biliões de rublos, para o segundo trimestre do corrente ano. Esta medida permitiria construir antecipadamente um cargueiro suplementar. Além disso, a deliberação determinou que em Agosto e Setembro de 2003 a Rosaviakosmos receberia adicionalmente 2,8 biliões de rublos para a manutenção e desenvolvimento da EEI. Como se sabe, todas as decisões só ficaram no papel.

Em abono da verdade assinalemos que as empresas do consórcio Energuia acabaram por construir a Progress, sem receber pagamento. E transportaram a nave para a base espacial. Para o que desse e viesse. Claro que se a situação se agravar muito, lançá-la-ão até mesmo antes de Janeiro.

Andrei Kisliakov, observador político a RIA "Novosti"

RIA Novosti

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