EURO 2004: Rússia sai com cabeça erguida

Gostaríamos de pensar que não há árbitros incompetentes, gostaríamos de pensar que não há tráfico de influências dentro da UEFA e que Portugal não está a ser ajudado a chegar à fase seguinte. Gostariamos de pensar que Sergei Ovchinnikov colocou sua mão sobre a bola fora da sua área.

Porém, para os que não vêm aquilo que existe, a patologia é bem simples de resolver: uma visita ao oftalmologista. Para aqueles que começam a ver coisas que não existem, é bastante mais complicado. O árbitro norueguês Tarje Hauge é pelos vistos um que sofre desta patologia e por isso deveria estar num hospício, e não num campo de futebol. Prejudicou a Rússia e terminou sua campanha precocemente. Uma vergonha.

No entanto, Rússia fez um excelente jogo de futebol, passando a bola entre o meio campo e o ataque com fluência e coerência e chegando por diversas vezes à baliza de Ricardo, embora com dez homens durante mais que metade do jogo. Rússia demonstrou que tem uma equipa coesa e com habilidades individuais que daqui a dois anos vai causar sensação no Mundial de 2006 na Alemanha.

As equipas alinharam:

Portugal Ricardo; Miguel, Jorge Andrade, Ricardo Carvalho, Nuno Valente ; Costinha, Figo, Maniche, Deco; Simão Sabrosa, Pauleta.

Treinador: Felipe Scolari

Rússia Ovchinnikov; Smertin, Evseev, Sennikov, Bugayev ; Kariaka, Loskov, Izmailov, Alenichev, Aldonin; Kerzhakov

Treinador: Georgi Yartsev

Portugal marcou cedo, depois de ter testado a defesa da Rússia já desfalcada por três elementos devido a lesões e castigo neste novo Estádio da Luz, lar do SL Benfica. No entanto, o golo foi trabalhado por jogadores do FC Porto. Deco venceu um marcador na defesa e passou a Maniche, que recebeu a bola fora da pequena área e disparou forte. 1-0 para Portugal.

Sete minutos. A multidão cheirou sangue no ar, previa-se um massacre.

Não para esta equipa russa. Arregaçou as mangas e tocou a trabalhar humildemente, como equipa. Reagiu e aos poucos foi entrando no jogo. Aos 11’, Kiriaka testou o flanco esquerdo da defesa portuguesa, vencendo Ricardo Carvalho, um dos muitos lances de classe por este médio russo. Aos 15’, Rússia começou a montar séries de passes, com Kerzhakov, Loskov e Alenichev testando mais o flanco esquerdo. Deco, Figo e Simão Sabrosa mantiveram a pressão por parte de Portugal e cada vez mais ficou evidente que o jogo estava equilibrado, que não haveria um massacre e que a Rússia afinal sabe dar toques na bola. Aos 20’, a pressão por Loskov e Kerzhakov se traduziu no cartão amarelo de Ricardo Carvalho. Com Smertin e Evseev controlando Figo e Deco, Simão Sabrosa e Nuno Valente incapazes de penetrar na betão constituída pela defesa russa, Ovchinnikov deve ter estado a sentir cada vez mais tranquilo.

Loskov, Kerzhakov, Alenichev e Kariaka faziam raids cada vez mais profundos e previa-se o golo do empate. Foi aí que o árbitro Hauge fez sua intervenção clínica, tirando o coração da equipa russa no momento certo. Aos 45’, Ovchinnikov teve de sair da sua área para impedir que Pauleta fizesse danos, depois de ter interceptado um mau passe de Sennikov. Caiu por cima da bola, mantendo suas mãos fora do esférico. Possivelmente e por um micro-segundo, sua luva direita tocou na bola mas não influenciou a jogada. Se houvesse contacto, era bola na mão e não mão na bola. O árbitro norueguês não hesitou e agarrou a única oportunidade que tinha para deixar sua marca no jogo. Expulsou Ovchinnikov, reduzindo a Rússia a dez homens. Os danos foram feitos. Missão cumprida (telefonema à UEFA…consegui!)

Yartsev manteve o sangue frio e substituiu Aldonin pelo segundo guarda-redes, Vyacheslav Malafeev, uma excelente escolha que manteve a Rússia no jogo.

Na segunda parte, Rússia saiu determinada e se recusou a deixar cair os braços. Com Bugayev e Sennikov firmes na defesa, Izmailov e Kariaka começaram outra vez a explorar oportunidades mais perto da baliza de Portugal, culminando com um remate fulminante de Kariaka aos 53’ que passou por cima da barra.

Confirmando o perigo, Scolari substituiu Pauleta por Nuno Gomes, um jogador atacante que recua mais que o número 9, que auxilia no meio campo. Um sinal claro que a Rússia estava a crescer.

E continuou a fazê-lo. A resposta foi dois ataques e dois remates por Kariaka dentro de um minuto, faltas cometidas por Deco e Jorge Andrade no minuto seguinte, um livre directo por Loskov aos 60’, mais dois remates aos 61’ e aos 62’ uma tentativa por Kariaka. Aos 63’, Simão foi substituído por Rui Costa.

No entanto, se não fosse Malafeev na baliza da Rússia, seus companheiros não estariam tanto a vontade na frente. Aos 64’, defendeu bem, empurrando um remate de Figo contra um poste.

Rússia respondeu com um movimento atacante que viu Kerzhakov cair na área portuguesa, empurrado por Ricardo Carvalho. Desta vez, o árbitro não viu aquilo que existia. Aos 68’, Alenichev e Kerzhakov trabalharam a bola, entregando-a a Kariaka, cujo remate foi bloqueado por Miguel na defesa de Portugal.

Aos 71’, Malafeev teve de intervir outra vez, negando Nuno Gomes, provocando a substituição do já cansado Izmailov por Bystrov aos 72’.

Aos 74’ Malafeev mais uma vez negou o golo a Deco com uma intervenção chave.

No entanto, há um limite para tudo e os dez homens da Rússia começaram a ficar cansados. O ambiente, a multidão, o calor e o árbitro estavam contra eles. Os ataques portugueses ficaram cada vez mais incisivos e cada vez mais frequentes. Malafeev teve de trabalhar cada vez mais, negando Figo, Rui Costa, Miguel.

Scolari manteve a pressão, substituindo Figo por Cristiano Ronaldo. Yartsev respondeu com a substituição corajosa do médio Kariaka pelo atacante Bulykin, jogando agora com três avançados.

Aos 81’, Bystrov caiu na área portuguesa mas o norueguês outra vez fez vista grossa. Até ao final do jogo, a equipa portuguesa manteve a pressão até que aos 89’, Rui Costa marcou o golo que matou o espectáculo. 2-0.

Parabéns a Portugal, mas deve dizer-se que a Rússia não teve nenhuma felicidade neste campeonato, enfrentando as duas equipas ibéricas na Ibéria e no calor ibérico. No entanto, a equipa lutou com coragem e deixa uma excelente imagem para no futuro, brilhar. Sai de Portugal com a cabeça erguida, tendo ganho muito respeito e muitos amigos.

Que belo campeonato e que bela festa de futebol que é esta UEFA 2004.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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