REELEIÇÃO DE VLADIMIR PUTIN

O presidente russo Vladimir Putin foi reeleito no dia 14 de março com pelo menos 70% dos votos, segundo os resultados das eleições. Foi uma vitória esmagadora, sendo que o comunista Nikolai Kharitonov, que ficou em segundo lugar, recebeu menos de 15% dos votos.

O triunfo de Putin não deixou de causar críticas nos países ocidentais, principalmente nos Estados Unidos, onde Putin tem sido criticado já há algum tempo pelos mais absurdos motivos. Conforme noticiou a agência de notícias AP (e publicado no jornal "O Estado de São Paulo"), o secretário norte-americano de Estado, Colin Powell, e a conselheira de segurança nacional, Condoleezza Rice, mostraram-se "preocupados com o nível de autoritarismo na Rússia", porque as eleições "não permitiram um debate completo entre os candidatos".

Afirmaram isso sem dar nenhuma indicação de onde estaria o autoritarismo e a falta de debate. A resposta do Kremlin não poderia ser melhor: o ministro da casa civil, Aleksandr Kozak, disse apenas que "o eleitor russo tem experiência suficiente em eleições democráticas e não necessita de conselhos de ninguém, muito menos de países que têm falhas evidentes em seu processo eleitoral."

Sem dúvida, não há nenhuma denúncia procedente de falhas ou questionamento de legitimidade nas eleições russas, diferentemente das eleições presidenciais dos EUA de 2000, quando Bush ganhou mesmo tendo 500 mil votos populares a menos que seu adversário, graças a um astuto recurso ao colégio eleitoral da Flórida, estado governado por seu irmão Jeff Bush. Os membros do governo Bush deveriam lembrar-se do velho ditado popular: "Quem tem telhado de vidro não atira pedras no vizinho".

Quando dos ataques de 11 de setembro de 2001, George W. Bush considerava Putin um de seus principais aliados: a Rússia rapidamente uniu-se à guerra contra o terror, permitiu que tropas dos EUA usassem bases na Ásia Central e passassem através de território russo para atacar o Afeganistão, algo que não acontecia desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Bush até disse numa certa ocasião, em relação a Putin: "Amo esse cara!" Mas as amizades dos EUA são sempre transitórias: Putin caiu na lista negra de Washington por sua postura contrária à ilegítima invasão do Iraque. A partir de então, passou a ser tido como "defensor de genocida", e até começaram a correr boatos que a Rússia estaria fornecendo armas ao Iraque, violando o embargo das Nações Unidas. Claro, depois da invasão e do acesso por parte dos EUA a todos os documentos oficiais iraquinaos, não se encontrou nada.

Depois, com a prisão do empresário Mikhail Khordokovski, dono da maior fortuna da Rússia, acusado de fraude e sonegação fiscal, os EUA e vários países da Europa começaram a criticar Putin por reprimir a livre-iniciativa e o empresariado de seu país. Seria o mesmo que criticar o governo dos EUA por processar os diretores e presidentes da Enron e da WorldCom, grandes empresas também envolvidas em escândalos de fraude contábil.

Putin não está reprimindo o empresariado, nem tentando reestatizar a economia russa, como dizem muitos jornalistas, mas simplesmente aplicando a lei, que até recentemente não atingia os ricos e poderosos. Está simplesmente impondo à Rússia o justo império das leis, algo essencial a qualquer democracia.

Jornalistas ocidentais também descrevem recentemente o "clima de medo" dos cidadãos russos, que temem arbitrariedades do Estado, como se estivessem de volta os terríveis expurgos stalinistas da década de 30. Porém, Putin em nenhum momento violou a constituição democrática da Rússia, nunca mandou prender ninguém por causas polítcas, nunca reprimiu a liberdade de opinião e nunca perseguiu nenhum partido político. O ex-presidente Boris Yeltsin, tido como "instaurador da democracia na Rússia", mandou tanques atirarem contra o Parlamento, manteve o Partido Comunista na ilegalidade durante alguns anos, instalou todos seus parentes e amigos em cargos importantes, tolerou a corrupção generalizada no governo, na polícia, nas forças armadas e no empresariado - e nunca foi criticado por isso, mas antes louvado pela imprensa e a opinião pública mundial como "o primeiro presidente democrata da Rússia".

Principalmente para os EUA, um governo é considerado democrata não pelas suas leis e atos, mas pelo fato de ser ou não aliado de seu país. Referiam-se a Saddam Hussein como o "presidente do Iraque" na década de 80; bastou invadir o Kuwait, e passou a ser "ditador", "tirano", embora as ações mais cruéis cometidas por ele tenha ocorrido justo na época em que recebia assistência dos EUA na guerra contra o Irã.

Ditadores pró-EUA, como Suharto na Indonésia, Pinochet no Chile, Médici no Brasil ou Mobutu no Zaire, eram todos "presidentes legítimos"; ao passo que um líder democraticamente eleito, Salvador Allende, só podia ser um tirano, pois era um socialista, e portanto tinha que ser removido.

O mesmo vale em relação a Putin: por haver criticado os EUA, passou a ser um tirano, um repressor, uma ameaça à democracia. No entanto, Putin conseguiu realizar uma tarefa por si só imensa: reduziu a corrupção, melhorou o nível de vida da população, possibilitou um notável crescimento da economia, fortaleceu as forças armadas, mostrou ao mundo que a Rússia ainda é uma grande potência, diminuiu os problemas na república separatista na Chechênia - e o que é ainda mais notável, tudo isso sem atropelar as instituições democráticas, sem a imposição de medidas ditatoriais, mas justamente através da consolidação da democracia. Sem dúvida, a Rússia ainda tem que trilhar um longo caminho para que sua democracia seja totalmente estável, sua economia seja próspera, seus cidadãos estejam livres da ameaça terrorista e suas instituições imunes à corrupção e ao crime organizado.

Mas está no caminho certo, e Putin terá agora mais quatro anos para mantê-la neste rumo.

Carlo MOIANA Pravda.Ru Campinas - SP Brasil

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