Estados Unidos pressionam interesses russos no Iraque

O petróleo iraquiano e os interesses económicos estrangeiros que lhe estão associados parecem ter actualmente tanta importância estratégica, quanto a eventual posse de armas de destruição maciça ou a necessidade da substituição do actual regime iraquiano.

O director de uma companhia petrolífera estatal russa com interesses no Iraque acusou na terça-feira as companhias norte-americanas de estarem a pressionar as maiores firmas russas para financiarem a oposição iraquiana, em troca de garantias de novos contratos num regime pós-Saddam Hussein.

“Os americanos tentaram discutir o assunto, mesmo em negociações directas com as companhias” – disse Nikolai Tokarev, presidente da Zarubezhneft, que tem operado no Iraque desde os anos 60. “Eles até propuseram que nós deveríamos financiar a oposição iraquiana em troca de poder continuar a trabalhar lá”, disse ele numa entrevista publicada no Vremya Novostei na terça-feira.

Esta declaração reflectiu a preocupação crescente entre os responsáveis e os homens de negócios russos de que uma possível operação militar americana contra o Iraque possa lesar seriamente os seus interesses económicos nesse país.

A Rússia teme que um novo regime no Iraque possa levar as novas autoridades a suspender as obrigações da dívida iraquiana à Rússia, avaliada em 7 biliões de dólares e, simultaneamente, possa conceder lucrativos contratos petrolíferos aos Estados Unidos e a outras companhias ocidentais, ignorando as empresas petrolíferas russas.

Tokarev declarou que tinha recusado esses negócios “desonrosos” e que algumas companhias terão aceitado as propostas americanas, envolvendo-se num “jogo sujo”, disse ele, sem fornecer mais detalhes. Tokarev também criticou duramente os Estados Unidos pelos seus planos de derrubar Saddam Hussein, dizendo que o governo dos Estados Unidos está apenas interessado no acesso às vastas reservas de petróleo barato. “Para os americanos, este projecto, apesar de toda a retórica política, está apontado para ganhar o controlo sobre o mercado petrolífero”, acrescentou.

De acordo com responsáveis iraquianos, as companhias petrolíferas russas controlam actualmente cerca de 35 a 40 por cento do petróleo iraquiano exportado no âmbito do programa da ONU designado por “petróleo-por-alimentos”, mas as sanções internacionais impostas ao Iraque têm impedido a Zarubezhneft e outras companhias russas de ampliar os seus negócios, nomeadamente o desenvolvimento do vasto campo petrolífero de Qurna Oeste e dos novos campos perto do porto de Basrah, no sul do Iraque.

Entretanto, o presidente norte-americano George W. Bush assegurou ao presidente Vladimir Putin que a Rússia terá um importante papel na reconstrução do Iraque pós-guerra, disseram responsáveis americanos. Porém, do lado russo, poucos confiam nessas intenções. Perante este quadro de perturbação dos interesses económicos russos no Iraque, a Rússia avisou os Estados Unidos sobre as consequências do uso da força no Iraque a pretexto da posse de armas de destruição maciça e com o objectivo de alterar o regime político em Baghdad.

Luis MACIEL PRAVDA.Ru LISBOA PORTUGAL

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