A "Revolução Laranja" na Ucrânia e as Perspectivas da Oposição Russa

A "revolução dos castanheiros" ou "revolução laranja" na Ucrânia vizinha, para a qual a oposição russa olhava ultimamente com aberta inveja, afinal de contas deixou-a sem ilusões e até envolta num certo desânimo.

Uma análise comparativa da situação nos dois países demostrou que nos próximos tempos na Rússia não haverá qualquer "revolução das bétulas" semelhante àquelas que ocorreram na Geórgia e na Ucrânia.

Esta é uma das conclusões a que chegaram os participantes do Congresso Cívico, que teve lugar a 12 de Dezembro em Moscovo e em que participaram os partidos derrotados nas últimas eleições parlamentares.

A composição do Congresso era bastante heterogénea: dos liberais aos comunistas. Os últimos, embora tivessem obtido representação no actual Parlamento, não têm lá um peso real, colocando-se ao lado dos restantes fracassados: a União das Forças de Direita (UFD), o Iabloko de Grigori Iavlinski e outros oposicionistas que no decorrer do fórum se auto-nomearam com tristeza de marginais políticos.

Há muitas causas para o desânimo. Primeiro, a oposição não se consegue unir. As conversas sobre a formação de um partido unido começaram muito tempo antes das eleições perdidas, foram prosseguidas activamente logo depois da derrota e continuam agora, embora por enquanto de trate da fragmentação das forças de direita e não da sua consolidação.

Irina Khakamada, que abandonou as fileiras da UFD, criou mais um partido de direita marginal. É pouco provável que a iniciativa do Iabloko divulgada há dias sobre a construção de um partido unido, nomeadamente com base na estrutura do Iabloko, leve a resultados concretos: ainda não estão esquecidas as antigas desavenças e ainda estão vivas as ambições pessoais entre os antigos líderes.

A direita russa espera o surgimento de novas figuras que, porém, não apareceram entre os participantes do Congresso. A única novidade foi a união dos oposicionistas de direita e esquerda numa sala de onde eles saíram novamente para as suas sedes de partido.

Entretanto, já nas próximas parlamentares, o limite que os partidos devem ultrapassar para obter representação na câmara baixa do parlamento subirá de 5 para 7 por cento. Por enquanto, para todos os participantes do Congresso, à excepção dos comunistas, este limiar é praticamente inacessível. Conforme comunicou um dos antigos líderes da UFD, Boris Nemtsov, nas recentes eleições regionais o seu partido conseguiu ultrapassar esta taxa apenas em duas regiões, enquanto no caso do partido Iabloko nem isso foi alcançado.

Outras duas desgraças da oposição são o presidente e o povo. O presidente Putin, como mostram todos os últimos inquéritos, não perdeu a popularidade. Por isso, a experiência ucraniana por enquanto é inaplicável na Rússia. A oposição explica a ligação entre o presidente e o povo pelos seguintes factos.

"Existem certas circunstâncias materiais, o rublo é mais forte do que o dólar, - apontou o mesmo Nemtsov. - Não podemos deixar de ter em conta estes factos. Há o crescimento económico... O orçamento tem superavit, existe um enorme fundo de estabilização, o presidente pode indexar as pensões, indexar os salários às pessoas, aumentar o vencimento aos militares... Acrescente-se a isso a hipnose através da televisão".

Se a primeira parte da explicação pode ser aceite - a economia da Rússia, embora se desenvolva com problemas, mas, mesmo na opinião de peritos estrangeiros, avança no sentido certo, a afirmação sobre a hipnose do povo russo é, no mínimo, contestável. Putin aparece na TV não mais frequentemente que o seu antecessor Ieltsin ou os líderes da oposição na altura em que muitos deles subiram ao poder.

O principal problema das forças de direita não é a falta de tribuna, mas é o facto de elas terem perdido o interesse como líderes. As suas críticas do poder são justas em certa maneira e daí? O povo conhece sem eles as falhas das autoridades. Para olhar para seu próprio bolso ou sentir em que grau é segura a sua vida, o cidadão russo não precisa de Iavlinski, nem Nemtsov ou Khakamada.

A democracia russa precisa de concorrência de ideias, o que hoje não pode ser assegurado pela direita. Os antigos "oráculos" já disseram desde há muito tudo o que pensam (e até estiveram durante uns tempos no Governo) e por enquanto não têm novas ideias.

Qual o sentido de admiti-los novamente ao leme? A questão não é que o poder "estrangula a direita", mas é que os seus líderes actuais esgotaram desde há muito as suas potencialidades.

Quanto à própria ideia liberal ela é vitalmente necessária ao país que apenas está interessado na concorrência no campo político. A Rússia espera o regresso da direita, mas já numa nova composição e com novas ideias. Haverá ideias e líderes carismáticos, aparecerão também tribunas e percentagens nas eleições sem necessidade de qualquer "revolução das bétulas".

Piotr Romanov observador político RIA "Novosti"

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