Vladimir Putin dispõe-se a acelerar processo político na Chechenia

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, manifestou-se disposto a acelerar o processo político na Chechénia em plena conformidade com as leis e a Constituição da Federação da Rússia, tendo assinalado, contudo, que o processo de pacificação da Chechénia deverá estar de acordo com o princípio da integridade territorial incondicional da Rússia e excluído a hipótese de negociações com Maskhadov e os seus sequazes.

Vladimir Putin reuniu-se, este domingo, no Kremlin, com um grupo de personalidades públicas e religiosas da Chechénia que havia divulgado, na véspera, o Apelo ao Povo Checheno, exortando à aceleração do processo constitucional na Chechénia. Os autores do Apelo sugerem submeter o projecto de Constituição da Chechénia ao referendo, eleger, com base na Lei Fundamental assim aprovada, os órgãos do poder da Chechénia e concluir, em conformidade com a Constituição da Federação da Rússia, um Acordo com o Governo federal que reflicta a situação vivida na Chechénia.

O líder russo considerou indispensável buscar uma solução aceitável nos termos do processo constitucional e atrair novos e novos partidários da pacificação da terra chechena. Vladimir Putin é de opinião de que, sem a posição cívica activa de personalidades públicas e religiosas, inclusive aquelas que estiveram hoje no Kremlin, será impossível solucionar os complicados problemas da Chechénia, recuperar a sua economia e fazer os refugiados voltar. Putin considerou necessário apoiar todos quantos desejarem demonstrar a sua consciência cívica e investir o seu trabalho e o seu dinheiro na economia da Chechénia.

"Afinal, a nossa tarefa crucial é dar às pessoas a possibilidade de trabalhar em paz, ganhar salários suficientes para assegurar a sua vida, a vida de sua família, para ter a sua casa cheia. Todos nós o queremos. Todos nós o merecemos depois de tantos sofrimentos e provações".

Na opinião de Putin, é preciso fazer tudo para que os cidadãos da Rússia - independentemente do lugar onde moram (quer na Rússia Central, quer no Cáucaso do Norte) - se sintam no seu país seguros e de si e em conforto. Os terroristas apostam na instigação dos ânimos anti-chechenos, no empolamento da tensão, da instabilidade social mesmo dentro da República".

No dizer do Presidente, "aqueles que hoje impedem o restabelecimento da vida pacífica e civilizada na república, encobrem-se, tal como há anos atrás, com os lemas da independência e da chamada livre autodeterminação".

O chefe de Estado lembrou de que maneira na Chechénia "o separatismo se transformou no terrorismo". "Tal não aconteceu num dia. Também não foi hoje que a Chechénia se tornou num foco e, ao mesmo tempo, numa vítima do terrorismo internacional", disse Putin.

"Este caminho foi aberto exactamente pelos separatistas. Até acredito que as pessoas portadoras de ideias separatistas se orientaram no início absolutamente por boas intenções. Procuravam, como muitos outros naqueles tempos, no início dos anos 90, as suas próprias vias para resolver as inúmeras contradições e fenómenos críticos", apontou o Presidente.

No entanto, disse, as dificuldades do complexo período transitório na Rússia foram aproveitadas por outras pessoas. "As ideias de separatismo e da chamada "independência da Ichkeria" foram rapidamente apoiadas por wahhabitas, nacionalistas e, afinal de contas, por terroristas que utilizaram estas ideias para dissimular as suas intenções ideológicas e agressivas, isto é transformar a Chechénia numa praça de armas do terrorismo internacional e, a seguir, constituir um "califado" medieval do Mar Negro ao Cáspio", acentuou Putin.

"Quando falo da necessidade de garantir incondicionalmente a integridade territorial da Rússia, não duvido de que se o problema checheno não for resolvido hoje, amanhã, como em 1999, serão empreendidas novas tentativas de criar o famigerado "califado" que, como eles dizem, deverá incluir não apenas o Cáucaso do Norte, mas também uma parte das regiões de Stavropol e Krasnodar", declarou o chefe de Estado.

E não será tudo, apontou Putin. "Depois seguirão inevitavelmente as tentativas de desestabilizar a situação na região multinacional do Volga". Na sua opinião, estes planos visam "um desenvolvimento da situação no nosso país segundo o cenário jugoslavo". "Não o conseguirão. Não haverá uma segunda Hassavyurt", declarou Vladimir Putin.

Os terroristas e os seus cúmplices devem ser afastados da regularização política na Chechénia, disse o Presidente Vladimir Putin.

O que queremos é que os terroristas e os seus sequazes se mantenham afastados deste processo". Vladimir Putin frisou que os que "se identificam com Aslan Maskhadov, votam assim pela guerra". O Presidente considera errado "criar o silêncio em torno de Maskhadov: "este homem, no período em que a Rússia reconheceu de facto a independência da Chechénia em 1996, já teve o poder na República".

"E como utilizou ele este poder, o que é que ele fez, o que ele fez com a Chechénia?", perguntou o Presidente e respondeu imediatamente: "Maskhadov levou a República ao colapso económico, à fome generalizada, à destruição total das esferas social e espiritual, ao genocídio em relação a outros povos e nações que habitavam na Chechénia, a um sem número de vítimas entre os próprios chechenos. Foi pessoalmente ele ( Maskhadov) quem colocou a Rússia e a Chechénia em estado de guerra".

Apesar disso - prosseguiu o Chefe de Estado, - "a liderança russa não perdeu contactos com ele". Até ao Verão de 1999, continuavam a ser transferidos os meios financeiros necessários para pagar salários, pensões, subsídios sociais a crianças. Mas o povo não os recebia. Putin recordou que no ano passado fora proposto a Maskhadov retomar o processo negocial. "Até ele (Maskhadov) enviou a Moscovo um emissário seu, mas depois esquivou-se ao diálogo posterior. Em vez de conversações, seguiu o caminho do terror, pôs-se atrás das costas dos canalhas que a 23 de Outubro sequestraram em Moscovo centenas de reféns", disse o Presidente da Rússia.

"Quem por irreflexão ou conscientemente, pelo medo dos bandidos ou seguindo a arraigada tradição europeia da sua pacificação, continuar a apelar-nos para que nos sentemos à mesa de conversações com os assassinos, proponho-lhe que faça conversações com Ben Laden ou com o mulá Omar" - disse Vladimir Putin.

Na tradicional reunião com os membros do Governo que foi realizada neste domingo no Kremlin e antecedeu a reunião com o grupo de delegados chechenos, o Presidente Vladimir Putin havia dito concordar com a opinião manifestada por destacadas personalidades da Chechénia, sobre a necessidade de "acelerar os processo constitucionais na República Chechena". "Não se deve adiar este processo - frisou o líder russo. - É preciso criar na Chechénia todas as condições para a estabilização política da sociedade".

O administrador da Chechénia, Akhmad Kadirov, disse, ao sair da reunião com o Presidente russo, que, entre Março e Abril do próximo ano, está previsto efectuar na Chechénia um referendo sobre a Constituição daquela república integrada na Federação Russa. O projecto de Constituição prevê a criação do cargo de presidente da Chechénia.

Akhmad Kadyrov esquivou-se de indicar as datas das eleições para governador da república, declarando que irá considerá-las "ganhas", se conseguir criar condições para a sua realização. Para Kadirov, a administração da Chechénia não permitirá que os terroristas concorram às eleições. "Maskhadov não resolve nada, ele é traidor do povo checheno" - disse Kadirov.

O mufti da Chechénia, Akhmad Chamaev, confirmou que "não haverá negociações com Maskhadov", tendo acrescentado que, na reunião com o Presidente, não foi abordada a hipótese de negociações com qualquer outra pessoa.

O deputado da Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo) pela Chechénia, Aslambek Aslakhanov, disse que a Chechénia se está a preparar para o Congresso dos Povos da Chechénia, marcado para a primeira quinzena de Dezembro próximo.

Estiveram presentes na reunião com o Presidente Putin o administrador da Chechénia, Ahmad Kadirov, o emissário do Presidente para os direitos e liberdades humanos na Chechénia, Abdul Khaquim Sultygov, o presidente do Conselho de decanos da Chechénia, Magomed Abubakarov, políticos, religiosos e empresários chechenos.

© RIAN

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