América Latina: de baixo pra cima

Não pode haver a menor dúvida, a direita está se reorganizando em "Nossa América", liderada pelos Estados Unidos que voltam com sua "Doutrina Monroe", por seu "pátio traseiro". Que está se passando em Brasil, Equador, Bolívia, El Salvador, Nicarágua e Venezuela: Revolução ou reformas progressistas?

POR JESUS VIVAS / Resumen Latinoamericano/ 28 de Abril 2016 .-

Para os Estados Unidos, se trata de sua compreensão da crise mundial do sistema capitalista [na qual estamos mergulhados], da reconstrução de sua hegemonia global, de sua confrontação com China, Rússia, Irã e Venezuela, e pelo saqueio forçado e neocolonial de matérias-primas na "Pátria grande". Para os Estados Unidos, controlar matérias-primas e mercados é vital. Os preços do petróleo têm muito a ver com a perda de poder do dólar e do euro. Para as burguesias locais sem a menor partícula de soberania, se trata só da acumulação de dinheiro para um viver fantasioso. Não têm proposta nem política, nem econômica nem social própria, a não ser o neoliberalismo que o capital transnacional lhes impõe. Burguesias "nacionalistas" não existem. Alguns mais comerciantes que empresários temem as medidas neoliberais porquanto estas atacam e destroem as frágeis economias nacionais e geram forte desemprego, o que diminui o consumo e agudiza a pobreza. Temem por seus interesses privados, não por sentido pátrio nem soberano. Não são, pois, aliados "táticos" revolucionários, sua essência de classe é contrarrevolucionária e parasitam do Estado.

Manifestamos isso há quatro anos na vice-presidência da Bolívia. Sempre a direita sabe o que quer e não tem ambiguidades em manifestá-lo. Os equivocados são as "esquerdas" que querem uma revolução pacífica, que não afete severamente a ordem burguesa e deixe intato o sistema capitalista. A "esquerda" quer "épocas de mudança e não mudança de época". É impossível a paz social no capitalismo, sua natureza e lógica é depredadora e acumuladora de capital. Também Mussolini numa época chamou Marx de "nosso mestre intelectual".

Os social-democratas dos governos progressistas, reformistas e neodesenvolvimentistas praticam políticas fundamentadas na ambiguidade, no flerte com o capitalismo, no burocratismo, no medo das nacionalizações, da crítica e autocrítica, na ausência de partidos realmente revolucionários e na promoção de partidos reformistas, a ineficiência do aparelho estatal, a epiléptica política internacional; a escassez de ética na política e os ferozes, certeiros e bem elaborados ataques imperiais usando seus lacaios nacionais, a corrupção, o burocratismo e a ineficiência são parte dos males que está levando os governos progressistas à quebra e a esquerda a seu desmantelamento. Até acreditam numa classe média supostamente revolucionária: "Não se deve atemorizar a classe média com revolução. Não gosta dos extremos". Trotsky afirma que é "Saltar da frigideira para cair nas brasas". A crise material objetiva que hoje vivemos e as fragilidades e ausência de corretas políticas da esquerda podem nos levar ao fascismo.

Parte importante de nossa esquerda se exibe hoje fragmentada, indecisa, confusa e conciliadora. Parece interessar-lhe mais a cota eleitoral burocrática que a própria revolução. Os governos progressistas da região estão erroneamente convencidos de que o problema central de nossos países é econômico e que o neodesenvolvimentismo nos tirará da crise, justificando assim sua aliança claudicante com as lumpen-burguesias nacionais. Se ocultam por trás de um suposto desenvolvimento das forças produtivas, esquecendo deliberadamente o vital desenvolvimento da consciência de classe.

É segredo a vozes por todos os conhecidos que a riqueza de todas as burguesias latino-americanas muito tem a ver com que foram as principais devoradoras da fazenda pública nacional. Sua incapacidade industrializadora e absoluta submissão exógena as tornam somente importadoras, reacionárias, pityianquis e consequentemente anticomunistas. Os governos social-democratas progressistas querem inventar-nos "um capitalismo com rosto humano". Desconhecem ou ocultam o metabolismo, a natureza e a lógica do capital. De algo podemos estar certos: o capitalismo nasceu da violência e a violência acabará com ele.

Em revolução, a organização do povo deve começar no local [topofilia], em seu imediatismo: "Conhecer a realidade para poder transformá-la", K. Marx. A organização deve ir amarrada com a mais sólida formação política e sua teoria deve estar totalmente articulada com sua prática e vice-versa. Desta aliança popular sairá o partido revolucionário, SUA DIREÇÃO DEVE SER HORIZONTAL, JAMAIS VERTICAL. Do exercício teórico-prático se elevam as realidades materiais a níveis da consciência classista, construindo-se poderosas razões espirituais, políticas e econômicas para lutar contra a perfídia progressista e a miséria capitalista. É a práxis política educando. A presença da crítica e da autocrítica é uma poderosa ferramenta que ajuda a avançar, afastando e superando erros. Não é suficiente o desenvolvimento das forças produtivas, é vital a claríssima consciência de classe revolucionária. "O contrato social" entre os explorados contra os exploradores se faz NÃO para TRANSFORMAR O CAPITALISMO E SIM PARA LIQUIDÁ-LO. A coexistência onde "todos cabemos" é uma armadilha vulgar, pois a natureza intrínseca do capital é a exclusão. A insaciabilidade da burguesia por mais riqueza exigirá mais e mais privilégios aos governos progressistas, colocando-os mal, tornando-os antipopulares e provocando sua derrocada.

Como pretender criar o socialismo sem ter o povo organizado e altamente politizado? Partidos de quadros e de massas que tenham como teoria fundamental o marxismo devem e têm que construir um "bloco histórico" para tarefas fundamentais comuns. O comum implica horizontalidade e consenso em suas decisões. Seu anti-imperialismo, anticapitalismo, anti burocratismo, anti corrupção, eficiência e objetivo comum: o socialismo [o estratégico].

A sementeira revolucionária está no bairro, na fábrica, no trabalho, na universidade, nos sindicatos, nos partidos revolucionários, nas agrupações humanas. Ali se constrói a linha política que deve ser fruto do mais absoluto consenso. Os messianismos devem desaparecer, deve prevalecer o coletivo. As vanguardas e os quadros têm que ser paridos pelo exercício social permanente. O conhecimento da realidade concreta em seu tempo e espaço concreto será a referência para a construção da linha política classista. A direção política revolucionária será filha legítima das lutas populares.

Nestes tempos em que o feroz fascismo afia e mostra seu sangrentos caninos, devemos conhecer e ter presentes os critérios dos mais cruéis fascistas, assassinos da humanidade: "As massas foram para mim um negro monstro. O nacional-socialismo não adora cegamente as massas como o fazem os partidos democrático-marxistas". [Goebbels, ministro de Propaganda Nazista.] Em 1935 Adolf Hitler afirmou: "A crueldade impõe respeito. A crueldade e a brutalidade. O homem da rua não respeita mais que a força e a bestialidade... O povo experimenta a necessidade de sentir medo; o temor os alivia... Não tereis notado que os que mais severo castigo receberam são os primeiros em solicitar sua inscrição no partido?...o que não quero é que se transformem os campos de concentração em pensões familiares. O terror é a arma política mais poderosa e não me privarei dela...endurecerei ao povo alemão e o prepararei para a guerra".

 

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