BATÍSCAFO "PRIZ": 24 HORAS DE ESPERANÇA

Quinta-feira, a 4 de Agosto, afundou-se perto do litoral meridional da península de Kamtchatka o batíscafo AS-28 "Priz" pertencente à Esquadra do Pacífico da Rússia. De acordo com as informações do estado-maior da Esquadra do Pacífico transmitidas à RIA "Novosti", o incidente ocorreu de manhã cedo a 4 de Agosto (na noite de 3 de Agosto segundo a hora de Moscovo) na enseada de Beriozovaia, a 75 km ao sul da cidade de Petropavlovsk-Kamtchatski. O aparelho de resgate AS-28 ("Priz"), de 13,5 m de comprimento e de 5,7 m de altura, efectuava uma imersão normal de instrução a partir de bordo de um navio da esquadra. Durante a imersão o batíscafo ficou preso por um objecto e não pôde subir à superfície. Supõe-se que o aparelho podia prender-se a um cabo metálico, um pedaço da rede de pesca ou um cabo eléctrico. Durante a tentativa de libertar-se a rede enrolou-se no hélice e o aparelho ficou preso à profundidade de 190 m (220 m segundo outros dados) onde os mergulhadores não podem trabalhar.

Na opinião dos peritos a que pedimos comentários, em particular, do vice-almirante Evgueni Tchernov, Herói da União Soviética, a situação é muito séria. "Mas não perco optimismo - disse o almirante. - Ainda existe a chance de resgatar os marinheiros". O optimismo do especialista conhecido na Marinha de Guerra, autor de um livro sobre os desastres sofridos por submarinos soviéticos, assenta na suposição de que os marinheiros da Esquadra do Pacífico possam preparar e enviar para o batíscafo preso um aparelho igual que deve encontrar-se à disposição do estado-maior da EP. Portanto, a equipa de resgate do segundo batíscafo deve prestar ajuda aos seus colegas.

O batíscafo de tipo "Priz", do projecto 1855, foi criado no Centro de Projectos Lazurit em Nijni Novgorod sob a direcção de Nikolai Kvacha. A profundidade de trabalho do batíscafo é de 500 m, mas em caso de necessidade o aparelho pode descer à profundidade de 1000 m. A tripulação normal do batíscafo é de três pessoas. A sua missão consiste em resgatar 20 marinheiros de um submarino em desastre. A reserva de oxigénio para o trabalho de três tripulantes foi calculada para 120 horas. Quando no batíscafo encontram-se ainda as pessoas resgatadas, a reserva de oxigénio dá para 10 horas. É esta reserva limitada de ar que provoca inquietação de outros especialistas que conseguimos entrevistar.

O contra-almirante Oleg Kustov considera que a situação no fundo da enseada Beriozovaia é muito mais complexa do que nos dizem a este respeito. Se as pessoas ficam à profundidade há já 48 horas, a quantidade de ar que lhes resta não chegará ainda para dois ou três dias contrariamente ao que foi anunciado no início dos trabalhos de resgate. Não convencem muito também as informações sobre a "rede de pesca envolvida no hélice". O batíscafo dispõe, no mínimo, de três câmaras de lastro que são enchidas de águia durante a imersão. O aparelho pode subir à tona por dois métodos, ou seja, por meio da propulsão ou mediante a limpeza das câmaras de lastro. Se os hélices não funcionam, por que não houve informações sobre as tentativas de esvaziar estas câmaras? E se este facto é silenciado, tudo não é bem assim como se procura convencer-nos - diz o almirante.

Compreende-se que o seu cepticismo baseia-se na tragédia ocorrida há cinco anos quando a 12 de Agosto de 2000 se afundou no Mar de Barents o submarino "Kursk", do projecto 949 A, com 118 tripulantes a bordo em consequência da explosão de um torpedo avariado. Nas primeiras horas depois da informação sobre este desastre, personalidades oficiais da Marinha de Guerra procuraram convencer a população de que tinha sido estabelecida a comunicação técnica com os tripulantes do submarino e que eles recebiam o ar comprimido através de mangueiras... Hoje já é bem sabido que não houve nada disso. Alguns peritos julgam que a situação catastrófica do "Kursk" pode repetir-se, infelizmente também na enseada de Beriozovaia.

Estas afirmações assentam no facto de que durante os exercícios, no navio deviam encontrar-se dois batíscafos e não só o "Priz". Se o segundo faltava, os exercícios não deviam ser realizados segundo as normas da técnica de segurança. O oceano é um elemento hostil ao homem. Na sua profundidade pode acontecer tudo. Por isso, quem não pensa nisso nem está pronto para enfrentar quaisquer surpresas não é bom profissional se não dizer mais. Infelizmente, como mostra a situação em que se viu o AS-28, não foram tomadas nenhumas medidas de segurança. Tal como no caso do "Kursk".

A Marinha de Guerra da Rússia já pediu ajuda ao comando da Esquadra do Pacífico dos EUA para salvar o aparelho submarino e a sua tripulação. Igual ajuda é prestada aos marinheiros russos pelo Japão. Quatro navios de resgate da Agência de Defesa Nacional japonesa dirigiram-se à zona do desastre. O único problema consiste em que a distância entre esta zona e os litorais dos EUA e do Japão é muito grande. O percurso até ao extremo meridional da península Kamtchatka onde se encontra a enseada de Beriozovaia em que sofrem desastre os marinheiros russos levará, no mínimo, dois ou três dias. Mas como informou a RIA "Novosti"o capitão-de-mar-e-guerra Igor Dygalo, assessor do comandante-chefe da Marinha de Guerra da FR, , a quantidade de ar no aparelho submarino desastrado em Kamtchatka só chegará para 24 horas. A ajuda pode simplesmente atrasar-se.

Entretanto, o pessoal da Esquadra do Pacífico pede que não percamos a esperança. Juntamente com os familiares e amigos dos marinheiros não a perderemos também nós. Todos nós temos ainda 24 horas de reserva.

RIAN

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Author`s name Pravda.Ru Jornal
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