Moscovo evitou conflito entre avares e chechenos

As autoridades federais e chechenas conseguiram diminuir a tensão na fronteira entre a Chechénia e o Daguestão (república federada da Rússia, vizinha da Chechénia) após centenas de habitantes da aldeia chechena de Borozdinskaia terem abandonado as suas casas, refugiando-se no Daguestão. Recorde-se que, a 4 de Junho, na aldeia de Borozdinovskaia havia sido realizada uma rusga, tendo uma pessoa morrido, onze pessoas desaparecido e quatro casas sido destruídas.

Pressionadas pelos habitantes da aldeia, as autoridades locais ordenaram a investigação do incidente que apurou a implicação no caso de efectivos do batalhão checheno "Vostok", pertencente ao 42º Exército federal russo, responsável pela segurança na região leste da Chechénia. Segundo os habitantes locais vítimas da "operação de limpeza", de origem avare, uma das etnias do Daguestão, o motivo da operação terá sido o assassínio do pai de um dos efectivos do batalhão checheno. Mas esta é apenas uma das numerosas hipóteses.

Se os refugiados regressarem a casa, será possível evitar um conflito inter-étnico de grande envergadura, que está no ar há semanas nesta região do Cáucaso do Norte.

No entanto, o regresso dos refugiados não significará a solução de todos os problemas que ali existem. Embora a investigação não esteja ainda concluída, é, para já, claro que a "operação de limpeza" na vila de Borozdinovskaia foi realizada por um esquema há muito experimentado e de cuja aplicação as autoridades têm conhecimento, não o reconhecendo, contudo, como legal. O representante plenipotenciário do Presidente no Cáucaso do Norte, Dmitri Kozak, admitiu que se desconhece por enquanto o autor da "operação punitiva". Por outras palavras, é óbvio que não foram os separatistas nem os soldados federais a realizar a represália. Estes últimos, entretanto, não conseguiram, por razões ainda pouco claras, evitar o incidente nem deter os autores do facto. Kozak prometeu tirar lições do acontecido, sobretudo no que se refere ao "comando das actividades policiais" tanto na Chechénia como na Rússia, em geral.

Anteriormente, o governador da Chechénia, Alu Alkhanov, e o ministro-adjunto do primeiro-ministro da Chechénia, Ramzan Kadyrov, responsável pela segurança na Chechénia, haviam-se pronunciado a favor da direcção unipessoal de todas as operações policiais na Chechénia. A questão é: em que medida estas declarações irão corresponder às acções práticas.

"A prática de combate ao banditismo por métodos ilegais" é muito criticada por Kozak e é aplicada na Chechénia há vários anos, o que é sobejamente conhecido. "As unidades paramilitares patrocinadas por algumas altas autoridades federais estão implicadas em muitos casos de homicídio e rapto de pessoas durante as "operações de limpeza" ilegais - afirma o assessor da Presidência da República, Aslambek Aslakhanov. Segundo os dados da Fundação russa "Memorial", os desaparecidos durante tais "operações especiais" atingem milhares de pessoas.

Agora o poder parece estar a encarar o problema de frente. Ao comentar o incidente na vila de Borozdinovskaia, Dmitri Kozak salientou a necessidade de tomar medidas para evitar a repetição do acontecido no futuro. O governo russo está muito interessado em que a "limpeza" na vila de Borozdinovskaia seja a última na Chechénia. Todavia, realizá-lo na prática é mais difícil do que persuadir os refugiados a regressar a casa.

Yuri Filippov observador RIA "Novosti"

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X