86 milhões de mulheres sofrerão mutilação genital até 2030

Comunidade em Uganda que abandonou a mutilação genital feminina. Prática é comum na África e no Oriente Médio| Foto: UNFPA


No mundo, 129 milhões de mulheres não sentem prazer durante a relação sexual, sofrem com intensas dores e têm dificuldades para manterem os órgãos genitais limpos. Um número que impressiona e que, caso as tendências atuais persistam, pode aumentar em 86 milhões até 2030, segundo alerta da ONU (Organização das Nações Unidas) nesta quinta-feira (06), Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina.


Por Marina Terra*, na Opera Mundi


A circuncisão feminina, que consiste na amputação do clitóris - em alguns casos, dos lábios vaginais também - é uma prática secular que continua acontecendo em muitas comunidades, principalmente no Norte da África e no Oriente Médio, e tem como objetivo condicionar a liberdade sexual das mulheres até ao casamento.


"Não há nenhuma razão religiosa, de saúde ou de desenvolvimento para mutilar ou cortar qualquer menina ou mulher", afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em comunicado. "Embora alguns argumentem que é uma 'tradição', devemos lembrar que a escravidão, as mortes por honra e outras práticas desumanas foram defendidas com o mesmo argumento", lembrou.


Na maioria dos lugares onde é praticada, a mutilação genital feminina é considerada fundamental na preparação da mulher para a vida adulta e o casamento. Em países como a Somália, Guiné-Bissau, Djibuti e Egito, mais de 90% das meninas são circuncisadas. Nessas culturas, altamente machistas e patriarcais e onde a virgindade e a fidelidade matrimonial são valorizadas, a pressão é intensa para controlar o comportamento sexual feminino. Muitas meninas escutam que a retirada do clitóris e dos lábios vaginais é para deixá-las mais "limpas" e "bonitas".


Os traumas começam na preparação do procedimento em algumas localidades, quando muitas meninas e até bebês com menos de 12 meses, como sublinha a ONU, têm as pernas e os braços amarrados. Depois, o uso de giletes e outros objetos cortantes sem a correta higienização ou anestesia, quando não levam à morte, provocam infecções que podem perdurar por toda a vida.


Os casos de infibulação também trazem riscos durante o parto: segundo um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde), a mortalidade de bebês é 55% maior em mulheres que sofreram procedimentos para redução do orifício vaginal. Em alguns casos, o que resta dos lábios vaginais é costurado, provocando dores e infeccções urinárias. Somente o marido pode "desamarrar" a costura, quando deseje ter relações sexuais.


Felizmente, de acordo com as Nações Unidas, há sinais positivos de progresso para acabar com a prática. "As meninas entendem instintivamente os perigos de serem mutiladas, e muitas mães, que viram ou experimentaram o trauma, querem proteger suas filhas de passar pelo mesmo", disse o secretário-geral da ONU, que citou o caso de um pai no Sudão que se recusou a deixar as filhas serem mutiladas e, com isso, acabou criando uma campanha de conscientização mundial -- "Saleema".


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