Morte de Sharon: um dilema de realpolitik

Morte de Sharon: um dilema de realpolitik


12/1/2014, MK Bhadrakumar, Indian Punchline
http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2014/01/12/sharons-death-poses-realpolitik-dilemma/


Duas mortes, de dois líderes estrangeiros, no período de um mês, produziram sentimentos diferentes em Moscou.

A morte de Nelson Mandela foi apenas registrada, em tom de nota rotineira, assinada por funcionária de nível médio do Departamento de Informação do Ministério de Relações Exteriores da Rússia.[1] Mas a morte de Ariel Sharon, ao contrário, foi registrada pelo presidente Vladimir Putin, em pessoa, em mensagem de condolências excepcionalmente elaborada, publicada na página do Kremlin.[2]

Realpolitik? Não, não pode ser, porque não importa o que Mandela tenha defendido, a África do Sul também é país BRICS, e Moscou não se cansa de repetir a alta importância que atribui a esse grupo em suas prioridades de política externa. Então... por quê? 

Claro que Sharon era russo de origem, nascido em família de judeus russos, grupo de eleitores aos quais a política russa sempre foi muito sensível, inclusive no período soviético. É verdade também que Sharon reforçou laços de amizade entre Israel e Rússia. De fato, Sharon é visto como herói aos olhos dos israelenses, e a diplomacia russa está jogando para a plateia, num momento em que seus diplomatas trabalham duro para dar conteúdo estratégico aos laços com Israel.

Tudo isso é perfeitamente compreensível. Mesmo assim... Moscou não terá exagerado?

Para responder, consideremos o que fez o presidente Barack Obama dos EUA, movimento que oferece interessante caso para estudo em contraste: Obama enviou mensagem de condolências sóbria, apropriada ao momento,[3] mas na qual deixa absolutamente claro que, na análise final, nenhuma personalidade interessa ou conta, e - mais importante - sem fingir que ignora a dura realidade conhecida de todos: a opinião pública mundial, hoje (e, provavelmente ainda por muito tempo) só se refere a Sharon como "O carniceiro de Beirute".

Fato é que Obama não escreveu uma única palavra de elogio a Sharon. Esse é ponto importante, e conta a favor de Obama. A verdade é que, como escreve hoje o jornal porta-voz do governo chinês, China Daily,[4] Sharon foi homem altamente controvertido, com muito sangue (humano) nas mãos.  

Não esqueçamos que a comissão de inquérito israelense que investigou o massacre de centenas de palestinos nos campos de refugiados em Beirute em 1983 recomendou a renúncia ou a demissão de Sharon, então Ministro da Defesa. Conta a favor de Israel que aquele relatório daquela comissão de inquérito permaneça disponível, até hoje, na página do ministério de Relações Exteriores.[5]   

Disso tudo, nasce uma questão difícil: quem, afinal, Putin ou Obama, está do 'lado certo' da história?

A questão importante aqui é que os povos árabes também estão acompanhando os acontecimentos,[6] o ambiente político do Oriente Médio está em transformação e os povos podem decidir não permanecer como meros observadores por mais muito tempo.

Isso, provavelmente, explica por que Pequim e Nova Delhi ainda não distribuíram qualquer nota de condolências pela morte de Sharon.

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[1] http://www.mid.ru/brp_4.nsf/0/2D2840E116E21F8044257C3C00626C8D

[2] http://eng.news.kremlin.ru/news/6510/print

[3] http://www.whitehouse.gov/the-press-office/2014/01/11/statement-president-passing-ariel-sharon

[4] http://www.chinadaily.com.cn/world/2014-01/12/content_17230826.htm

[5] http://www.mfa.gov.il/mfa/foreignpolicy/mfadocuments/yearbook6/pages/104%20report%20of%20the%20commission%20of%20inquiry%20into%20the%20e.aspx

[6] http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-25703399

 

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